Hoje, os dois aterros sanitários em funcionamento na região, exclusivos para receber lixo doméstico, têm licença; possuem sistema de tratamento do chorume (líquido preto resultante da decomposição do lixo); e apresentaram o Rima (Relatório de Impacto Ambiental), que recebeu sinal verde da Cetesb.
A região conta ainda com um terceiro aterro, o Boa Hora, para lixo industrial (não avaliado pelo índice IQR da Cetesb), que também opera com alta tecnologia e com sua situação de funcionamento legalizada.
Essa forma civilizada de tratar o lixo é quase uma exceção em São Paulo, o Estado mais desenvolvido e industrializado do país. “A maior parte do lixo doméstico produzido no Estado ainda vai para lixões”, assinala o ambientalista, geógrafo e professor de meio ambiente da USP (Universidade de São Paulo) Maurício Waldman. O professor esteve recentemente em Boa Vista, Roraima, e ficou chocado ao identificar uma tribo de índios macuchis vivendo em um lixão a céu aberto.
As seis principais empresas particulares que recolhem lixo e administram aterros na região geram cerca de 4 mil empregos diretos. A população do Grande ABC produz 672 mil toneladas de lixo doméstico por ano. As prefeituras gastam R$ 38 milhões para recolher e depositar esses resíduos nos aterros sanitários. Santo André e São Bernardo são as duas cidades que mais produzem lixo, o que faz com que os dois municípios gastem cerca de R$ 18 milhões por ano.
Coleta – O funcionamento adequado dos dois aterros que recebem lixo doméstico e um terceiro para lixo industrial, além da operação de seis unidades de tratamento de resíduos, não foram as únicas mudanças de impacto no cenário da região, quando o assunto é lixo. Várias famílias que viviam entre as montanhas de produtos infectantes e todo o tipo de resíduos no lixão do Alvarenga, na divisa entre São Bernardo e Diadema, trabalham hoje em cooperativa de recicladores.
Eles saíram do Alvarenga para um galpão coberto, onde fazem a separação de papel, plástico, vidro e metal industrializado com segurança: usam EPIs (equipamento de proteção individual) – luvas, botas e óculos.
As cem crianças que viviam no meio do lixo passaram a receber R$ 45 para estudar. “Foi uma mudança da água para o vinho”, diz o ex-catador do lixão Reginaldo Rufino dos Santos.
Hoje, 26 pessoas trabalham nessa cooperativa,a Refazendo, em São Bernardo. Poderiam ser mais. Outros 48 ex-catadores continuam desempregados, porque a população não colabora, reclamam os recicladores. “Se os moradores pusessem ênfase na coleta seletiva, haveria mais trabalho para os ex-catadores”, dizem os cooperados. “A coleta gera empregos”, assinala Santos.
A Prefeitura de São Bernardo espalhou 201 ecopontos pela cidade, para a população depositar lixo reciclável. Mesmo assim o material que chega na cooperativa é insuficiente. São cerca de 38 toneladas por mês. Se esse número subisse para 140 toneladas/mês, os 48 ex-catadores desempregados do Alvarenga poderiam participar da cooperativa e receber no mínimo R$ 380 mensais.
O segundo centro de reciclagem de São Bernardo, o Raio de Luz, fica na Vila Vivaldi e tem 32 pessoas trabalhando, todos ex-catadores de ferro-velho.
Em Diadema, foi criada a Cooperativa Cidade Limpa, que também reúne ex-catadores do lixão.
Prêmio – Em Santo André, a coleta seletiva abrange 100% do município e é feita de porta em porta duas vezes por semana. A coleta seletiva é realizada também em 37 favelas e núcleos habitacionais.
O início da coleta seletiva em Santo André permitiu a criação de duas cooperativas de recicladores (Coopcicla e Coop Cidade Limpa), que empregam 200 pessoas. Há 20 ecopontos na cidade. A coleta seletiva possibilita que 30 adolescentes carentes participem de cursos de reciclagem de papel. Essa iniciativa valeu à Prefeitura o Prêmio Mercocidades de Cultura.
A Prefeitura de Ribeirão Pires está investindo R$ 360 mil para iniciar a coleta seletiva de lixo. A administração constrói uma usina para aproveitar o entulho originado da construção civil. Em São Caetano, a coleta seletiva será feita por etapas e deve estar implementada em todo o município no fim de 2003.
A Prefeitura de Mauá colocou à disposição da população o serviço de Cata-Bagulho (telefone 156) e Rio Grande da Serra tem o Bota-Fora para a reciclagem manual.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.