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Grande ABC tem coleta de lixo de 1º mundo
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
21/09/2002 | 17:52
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O Grande ABC atingiu, pela primeira vez em sua história, um grau de excelência no tratamento de lixo doméstico. Os dois aterros sanitários da região tiveram nota acima de nove na avaliação anual feita pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental). O Lara, em Mauá, recebeu 9,69 e o São Jorge, em Santo André, 9,3, segundo o IQR (Índice de Qualidade de Tratamento de Resíduos) da agência ambiental, relativo a 2001. “As sete prefeituras estão com o problema do lixo equacionado”, afirma o gerente da agência regional da Cetesb, Luiz Antonio Brun.

Hoje, os dois aterros sanitários em funcionamento na região, exclusivos para receber lixo doméstico, têm licença; possuem sistema de tratamento do chorume (líquido preto resultante da decomposição do lixo); e apresentaram o Rima (Relatório de Impacto Ambiental), que recebeu sinal verde da Cetesb.

A região conta ainda com um terceiro aterro, o Boa Hora, para lixo industrial (não avaliado pelo índice IQR da Cetesb), que também opera com alta tecnologia e com sua situação de funcionamento legalizada.

Essa forma civilizada de tratar o lixo é quase uma exceção em São Paulo, o Estado mais desenvolvido e industrializado do país. “A maior parte do lixo doméstico produzido no Estado ainda vai para lixões”, assinala o ambientalista, geógrafo e professor de meio ambiente da USP (Universidade de São Paulo) Maurício Waldman. O professor esteve recentemente em Boa Vista, Roraima, e ficou chocado ao identificar uma tribo de índios macuchis vivendo em um lixão a céu aberto.

As seis principais empresas particulares que recolhem lixo e administram aterros na região geram cerca de 4 mil empregos diretos. A população do Grande ABC produz 672 mil toneladas de lixo doméstico por ano. As prefeituras gastam R$ 38 milhões para recolher e depositar esses resíduos nos aterros sanitários. Santo André e São Bernardo são as duas cidades que mais produzem lixo, o que faz com que os dois municípios gastem cerca de R$ 18 milhões por ano.

Coleta – O funcionamento adequado dos dois aterros que recebem lixo doméstico e um terceiro para lixo industrial, além da operação de seis unidades de tratamento de resíduos, não foram as únicas mudanças de impacto no cenário da região, quando o assunto é lixo. Várias famílias que viviam entre as montanhas de produtos infectantes e todo o tipo de resíduos no lixão do Alvarenga, na divisa entre São Bernardo e Diadema, trabalham hoje em cooperativa de recicladores.

Eles saíram do Alvarenga para um galpão coberto, onde fazem a separação de papel, plástico, vidro e metal industrializado com segurança: usam EPIs (equipamento de proteção individual) – luvas, botas e óculos.

As cem crianças que viviam no meio do lixo passaram a receber R$ 45 para estudar. “Foi uma mudança da água para o vinho”, diz o ex-catador do lixão Reginaldo Rufino dos Santos.

Hoje, 26 pessoas trabalham nessa cooperativa,a Refazendo, em São Bernardo. Poderiam ser mais. Outros 48 ex-catadores continuam desempregados, porque a população não colabora, reclamam os recicladores. “Se os moradores pusessem ênfase na coleta seletiva, haveria mais trabalho para os ex-catadores”, dizem os cooperados. “A coleta gera empregos”, assinala Santos.

A Prefeitura de São Bernardo espalhou 201 ecopontos pela cidade, para a população depositar lixo reciclável. Mesmo assim o material que chega na cooperativa é insuficiente. São cerca de 38 toneladas por mês. Se esse número subisse para 140 toneladas/mês, os 48 ex-catadores desempregados do Alvarenga poderiam participar da cooperativa e receber no mínimo R$ 380 mensais.

O segundo centro de reciclagem de São Bernardo, o Raio de Luz, fica na Vila Vivaldi e tem 32 pessoas trabalhando, todos ex-catadores de ferro-velho.

Em Diadema, foi criada a Cooperativa Cidade Limpa, que também reúne ex-catadores do lixão.

Prêmio – Em Santo André, a coleta seletiva abrange 100% do município e é feita de porta em porta duas vezes por semana. A coleta seletiva é realizada também em 37 favelas e núcleos habitacionais.

O início da coleta seletiva em Santo André permitiu a criação de duas cooperativas de recicladores (Coopcicla e Coop Cidade Limpa), que empregam 200 pessoas. Há 20 ecopontos na cidade. A coleta seletiva possibilita que 30 adolescentes carentes participem de cursos de reciclagem de papel. Essa iniciativa valeu à Prefeitura o Prêmio Mercocidades de Cultura.

A Prefeitura de Ribeirão Pires está investindo R$ 360 mil para iniciar a coleta seletiva de lixo. A administração constrói uma usina para aproveitar o entulho originado da construção civil. Em São Caetano, a coleta seletiva será feita por etapas e deve estar implementada em todo o município no fim de 2003.

A Prefeitura de Mauá colocou à disposição da população o serviço de Cata-Bagulho (telefone 156) e Rio Grande da Serra tem o Bota-Fora para a reciclagem manual.




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