Baseada no romance homônimo do escritor francês Victor Hugo (1802-1885), a montagem é credenciada por números: 44 milhões de espectadores em todo o mundo; US$ 1,8 bilhão em bilheteria; 38 montagens em 18 idiomas; 14 anos em cartaz na Broadway, Nova York, e 16 anos no West End, Londres.

Para o Brasil, o musical endossa a entrada da maior empresa de entretenimento ao vivo da América Latina, a CIE (Corporación Interamericana de Entretenimento). O grupo mexicano, que atua por aqui desde 1999, trouxe de Os Três Tenores a Lou Reed (trará The Backstreet Boys) e arrenda grandes casas de espetáculo na capital e no Rio. No caso do Teatro Abril (o grupo editorial pagou para rebatizar o espaço ), a CIE investiu R$ 7 milhões na reforma.

Competência – É emocionante entrar no teatro renascido e a sensação é perpetuada pela competência exibida pelo elenco brasileiro, dirigido pelo inglês e perfeccionista Ken Caswell. O diretor residente é Helzer de Abreu, com passagens por produções como a montagem norte-americanas de Chorus Line.

Victor Hugo é um símbolo francês contra a intolerância e a desigualdade social. Ora burguês, ora miserável, foi político eminente e romancista criticado. A exploração do homem pelo homem, do campo à cidade, é a essência de Les Misérables. Hugo conta a história de Jean Valjean (Marcos Tumura, na montagem nacional), que começa em 1815 e termina após a Revolução Francesa. Ladrão e fugitivo, Valjean reconstrói sua vida sob falsa identidade. Durante toda a sua trajetória ele será perseguido por Javert (Saulo Vasconcelos), o personagem que na trama sempre representará o poder estabelecido, a lei.

Valjean cria a órfã Cosette que, mais tarde, ao se apaixonar por um jovem revolucionário, protagoniza a parte mais romântica de Les Mis. No musical, há pinceladas de humor, garantidas pelo núcleo dos vagabundos e pelo personagem Gavroches, um garoto faminto, que perambula pelas ruas de Paris dando lições de sobrevivência em meio à miséria. Três meninos e uma menina, com idades entre 8 e 9 anos, se revezam no papel.

Outro destaque é o trio de sopranos Alessandra Maestrini (Fantine), Sara Sarres (Cozette adulta) e Ester Elias (Eponine). A última, exibe uma performance que remete aos musicais infantis da Disney, mas tem carisma para arrebatar o público. Já Alessandra, 23 anos, possui uma sólida formação lírica, o que garante o bom desempenho no papel feminino mais dramático do musical.