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Crescem investigações para apurar violência contra a mulher

Aumento foi de 19,49% nas delegacias especializadas da região: saltou de 395 em janeiro de 2016 para 472 em janeiro deste ano

Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
08/03/2017 | 07:21
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Foram necessários 22 anos para a professora Flávia Backi, 44 anos, de Diadema, denunciar o ex-marido por agressão e duas tentativas de homicídio. Neste período, ela foi submetida a diversos abusos físicos e psicológicos, além de agressões físicas, até que uma intervenção do filho, à ápoca com 5 anos, motivou-a a procurar ajuda, em 2014. “Por tudo que passei, hoje considero que dei a volta por cima.”

A violência contra a mulher é realidade no Grande ABC. Em janeiro deste ano, as quatro Delegacias de Defesa à Mulher (Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá) somaram 472 inquéritos, os quais investigam casos que vão desde ameaças até a estupros. O número é 19,49% maior do que o registrado no mesmo mês do ano passado: 395. Em 2016 foram 2.524 inquéritos durante os 12 meses, totalizando quase sete casos diários (veja detalhes na arte ao lado).

Conforme as delegadas titulares de Santo André e Diadema, cerca de 80% dos casos são relacionados à violência doméstica, quando a vítima é agredida pelo marido, pai, namorado ou alguém de dentro de casa. Ambas consideram que a alta nos números significa que as mulheres estão buscando mais ajuda.

“Hoje existe maior conscientização, o que leva ao empoderamento. A mulher não aceita mais essa cultura machista. A luta pela igualdade de gênero é muito difundida”, diz a delegada da mulher de Santo André Adrianne Mayer Bontempi.

Titular da especializada de Diadema, Renata Lima de Andrade Cruppi pondera que os casos não são novos, o que demonstra que para quebrar o ciclo de violência pode se levar anos, como no caso de Flávia. “O perfil da maioria que procura a delegacia é de quem já sofre a violência no período entre um e cinco anos”, afirmou.

Flávia conta que antes do casamento, em 1992, o agora ex-marido nunca tivera comportamento violento ou problema com álcool ou drogas. Contudo, dois meses após o casal ir morar junto ele tentou matá-la queimada. “Estava vendo TV e ele queria que dormíssemos na mesma hora. No escuro, ele me jogou álcool e atirou um fósforo aceso. A sorte é que eu estava com cobertor.”

Ela lembra que procurou ajuda diversas vezes, porém, ninguém acreditava em sua versão. O casal chegou a reatar e ter um filho após o marido pedir desculpas. Mas as agressões continuaram. “Não acreditavam em mim porque ele parecia ser um cara bom, da paz. Eu era taxada de louca. Ele chegou a me internar em clínica psiquiátrica. Sofria abuso em casa, o que gerou meu segundo filho.”

Mesmo com a medida protetiva, o ex-marido de Flávia tentou se aproximar por duas vezes. Ele ficou foragido por seis meses até ser preso. Após dois meses de cárcere, ele foi solto e atualmente vive no Ceará.

As duas delegacias mantêm programa para homens envolvidos em casos de violência (injúria, ameaça ou lesão corporal leve) contra a mulher. Em Diadema passaram cerca de 150 homens. Em Santo André, a segunda turma deve ser iniciada neste mês. Foram 20 homens atendidos desde outubro.
 




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