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População ocupa 32% das escolas no fim de semana
Bruna Gonçalves
Do Diário do Grande ABC
03/10/2011 | 08:08
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As escolas deixaram de ser espaços ociosos aos fins de semana e se transformaram em oportunidade de lazer para a comunidade. Os frequentadores vão além dos estudantes. Pais, vizinhos e idosos marcam presença nas diversas atividades oferecidas em 107 das 330 escolas da rede estadual da região, das 9h às 17h.

Essa é a proposta do Programa Escola da Família, do governo estadual. Cada unidade organiza atividades dentro de quatro eixos: esporte, Cultura, Saúde e trabalho. O investimento no programa na região, até agosto, foi de cerca de R$1,1 milhão - no mês, foram quase 123 mil frequentadores.

Quem chega sábado à tarde na Escola Estadual Niceia Albarello Ferrari, no Jardim Remanso, em Diadema, não imagina o número de atividades programadas - de esportes a aulas de informática.

O ferramenteiro Wilson Vital Costa, 61 anos, era um dos frequentadores. Ele se surpreendeu com a qualidade do atendimento. Ele não sabia mexer no computador e apostou nas aulas gratuitas para aprender. "Fiz o curso básico e gostei. Já fiz de gestão e qualidade e agora estou no autoCAD", afirma.

Para ele, é a oportunidade de se aperfeiçoar. "O mercado exige atualização. Não teria condições de pagar esses cursos", explica.

Ao mesmo tempo em que Costa estava na aula de informática, no pátio, jovens se divertiam com aula de dança. "Venho sempre aos sábados. Já sabia, mas aprendi mais. E também encontro o pessoal", diz a estudante Kethleen Borges do Nascimento, 13.

Para a diretora da escola em Diadema, Rosimeire Vieira Santos, 49, as pessoas passam a olhar a unidade de outra forma. "Passam a cuidar, porque se sentem inseridas", explica Rosimeire. A escola recebe, em média, de 300 a 400 pessoas por dia no fim de semana.

Já em Santo André, o domingo na Escola Estadual Américo Brasiliense, no Centro, é encontro de mulheres que passam o dia na oficina de artesanato.

"O público é bem variado, mas vem mais adultos e terceira idade. Como é na região central, o perfil é diferente em comparação às outras, que atendem mais crianças e jovens", avalia Solange Bailão, do Programa Escola da Família de Santo André.

"Mudou muita coisa na minha vida. É uma terapia. Fiz amizades e aprendi. Passei a reciclar mais as coisas para aproveitar nas aulas de artesanato", comenta a dona de casa Elenice Baxmann, 67.

Mudar a rotina dessas pessoas não seria possível se não fossem os voluntários (740) e universitários (825). Eles abdicam do fim de semana para estar com a comunidade. "Me formo no fim do ano, mas vou continuar sendo voluntária. Faço o que gosto, que é artes, e conheci pessoas maravilhosas", afirma a estudante de Educação Física Tatiana Baradel, 27.

A estudante de Engenharia de Santo André Talita Pires, 26, é responsável por deixar as unhas das mulheres bonitas. "Em média, faço 15 unhas. Sabia fazer a minha, mas aprendi e hoje é muito bom o contato que tenho com as pessoas."

Comunidade passa a zelar pela escola

Para a professora de Políticas Públicas de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Maria Ângela Barbato Carneiro, a abertura das escolas desperta sentimento de proteção na comunidade.

"As pessoas passam a zelar pela instituição. Elas veem o local como importante e por isso passam a cuidar e preservar", avalia a professora. Segundo ela,isso ocorre sobretudo em unidades mais afastadas dos centros das cidades, em que as oportunidades são mais escassas.

Outro ponto que a professora destaca é a queda da violência no entorno da escola. "Quando as pessoas se mantêm ocupadas com as atividades, acabam tendo um desvio para a questão da violência."

Além de atividades de lazer, que tiram crianças e jovens das ruas, Maria Ângela vê espaço de oportunidade para qualificação profissional ou mesmo para adquirir conhecimento. "Muitas escolas dispõem de cursos, como informática, padeiro, entre outras, que estimulam os moradores", afirma a professora.

Quanto à participação dos universitários e voluntários, ela ressalta que é importante para colocar em prática conhecimentos para aqueles que atuam nas áreas ou até mesmo convívio com outras pessoas. "Acho que funcionários do Estado também poderiam fazer parte do programa, orientando e auxiliando a todos."

Com o trabalho, mãe e filho passam a dar mais valor à vida

A professora de Diadema Maria Lucimar Canela, 49 anos, e o filho, o estudante de Administração Rafael Canela, 24 ,participam do Programa Escola da Família. Maria Lucimar ingressou como universitária, em 2003. "Foi tudo novo. Não sabia o que me esperava. Aprendi a fazer tricô, origami, dava aula de culinária para crianças e adultos", explica a moradora da Vila Elida, que levava o filho Rafael, que passou a atuar há três anos.

"Depois que comecei a participar, minhas atitudes mudaram. Passei a ter mais responsabilidade e a valorizar o trabalho, que possibilita que muitas crianças deixem de ficar nas ruas", afirma Rafael. ele dá aulas de informática na Escola Estadual Niceia Albarello Ferrari, no Jardim Remanso.

A mãe, Maria, passou por três escolas e agora participa quando pode das atividades. "É uma experiência que só quem passa e gosta sabe o quanto é bom. Aprendemos muito com a comunidade, com os próprios colegas e com a direção", afirma a professora.

Para ela, a participação dos universitários é enriquecedora. "Só de ver o sorriso das pessoas quando chegam, o abraço de agradecimento. não tem preço. A gente aprende a valorizar muito mais as coisas da vida. Muitos poderiam estar aproveitando o fim de semana, mas estão ajudando o próximo", explica Maria.




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