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Região possui 386
famílias em abrigos
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
17/02/2011 | 07:06
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"Eles falam que aqui não é lugar de gente". É essa a reação que os colegas de escola de Ana Paula dos Santos, 14 anos, têm quando ela conta que vive no alojamento José Fornari, em São Bernardo. Na mesma situação estão 386 famílias de São Bernardo, Santo André e Diadema, o que representa cerca de 1.600 pessoas: todas aguardam por um lar.

E por falar em lar, Ana Paula Bagaren, 37, tem um problema. Ela também vive no José Fornari e precisa de um comprovante de endereço para apresentar ao hospital em que conseguiu emprego como faxineira. "E como eu faço pra ter esse documento? Aqui a gente não tem endereço", lamentou.

Mesmo assim, as 228 famílias ali alojadas há quase cinco anos deram ares de bairro ao lugar: há sete bares, lanchonete e uma biblioteca comunitária com mais de 3.000 livros, iniciativa do comerciante Moisés Bispo dos Santos, 45.

O espaço inaugurado no fim do ano já se tornou pequeno. "A meninada aproveitou nas férias. Os livros mais lidos foram Rota 66, do Caco Barcelos, e Estrela Solitária, do Ruy Castro", contou.

A mulherada do José Fornari também não precisa sair de casa para cuidar da beleza. A manicure Claudete dos Santos garante as unhas das clientes. Ela também é dona da lanchonete e, entre um lanche e outro, aproveita para deixar as moradoras na moda. "Não importa que a gente é alojada, a vaidade não fica de lado."

ANIVERSÁRIO
No dia 8 de março o alojamento da Rua dos Dominicanos, no Jardim Santo André, completa um ano. As famílias, porém, dizem não ter muito o que comemorar: o mato ao redor do terreno está alto, as paredes de madeirite esquentam ou esfriam demais e as crianças correm risco de ser atropeladas, pois o muro prometido pela Prefeitura ainda não saiu.

A dona de casa Claudinéa Pereira da Silva bem que tentou sair de lá. "Com duas crianças, não consigo alugar casa", disse ela, que não dá conta de organizar a unidade em que vive. "Minhas coisas ficam amontoadas, não tenho armário para as roupas e nem posso comprar porque não cabe nessa caixa de sapato", reclamou.

O mato alto traz a sensação de abandono aos alojados, que chegaram a encontrar uma cobra ali. "Ela apareceu logo depois de uma chuva forte. Mostrei para várias pessoas e me disseram que era venenosa. Aqui tem muita criança, é um perigo", alertou a vizinha Ana Cristina dos Santos Vitorino.

Previsão de sair dali, não há. "Disseram que ficaríamos dois anos, mas cadê os prédios?", questionou Claudinéa. As primeiras 194 unidades devem demorar 18 meses. Na cidade, 118 famílias do Jardim Santo André estão nesta situação.

Em Diadema, cerca de 200 pessoas, ou 40 famílias, seguem alojadas no Conjunto Habitacional Júpiter (leia mais ao lado).

Diadema quer acabar com os alojamentos em 12 meses 

As 40 famílias alojadas em área do Conjunto Habitacional Júpiter, no bairro Serraria, em Diadema, devem ser atendidas por meio de recursos oriundos do FNHIS (Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social). Segundo a Prefeitura, a obra terá inicio neste ano e tem cronograma de 12 meses.

O abrigo foi implementado na cidade, em 1995, com o objetivo de atender provisoriamente famílias moradoras de diversas áreas de risco ou de núcleos em processo de urbanização.

Em 2005, porém, a cidade criou o programa de renda mínima Auxílio-Moradia, que surgiu como alternativa aos alojamentos convencionais e provisórios. Com a entrega de moradias para as famílias desse alojamento, o atendimento provisório será extinto na cidade, conforme a Prefeitura.

Prazo é incerto em Sto.André e S.Bernardo 

Os prazos para que as 118 famílias de Santo André e as 228 de São Bernardo deixem de viver em alojamentos ainda são incertos. Os moradores têm cadastro nos programas habitacionais das prefeituras. Algumas obras já começaram; outras não têm sequer um tijolo.

No Jardim Santo André, as primeiras 194 unidades habitacionais devem ficar prontas em 18 meses, prazo maior que os dois anos prometidos quando as famílias chegaram aos alojamentos. O processo licitatório para a intervenção já foi concluído, e o terreno utilizado para erguer os prédios fica no próprio bairro, em área que pertencia ao Banco do Brasil.

O problema é que nem todos os alojados serão atendidos nesta primeira fase, pois o bairro ainda tem cerca de 1.300 famílias vivendo com recursos do bolsa-aluguel, pago pela administração.

Segundo o secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Frederico Muraro, as famílias atendidas nesta primeira fase serão definidas por meio de critérios socioeconômicos. "O projeto do Jardim Santo André, feito em parceria com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), do governo do Estado, deverá beneficiar cerca de 6.000 famílias, incluindo remoções e urbanização. Atualmente, 2.600 moradores que vivem em apartamentos no bairro terão suas unidades regularizadas", destacou.

Muraro afirmou ainda que o convênio com a CDHU prevê a construção de cerca de 3.000 unidades habitacionais no bairro, que atenderiam famílias alojadas e que vivem com o bolsa-aluguel.

A previsão para finalizar a urbanização do Jardim Santo André é o ano de 2015. Os investimentos totais são da ordem de R$ 300 milhões. 

OPÇÃO
No caso do alojamento José Fornari, em São Bernardo, as obras já começaram. As 228 famílias foram incluídas no Projeto Vila Esperança (segunda etapa), cuja construção se iniciou em setembro de 2010.

Porém, após discussões com a administração, a Secretaria de Habitação abriu o processo de manifestação de opção, de setembro a outubro do ano passado. Ao final, 73 famílias optaram pelo atendimento no Projeto Vila Esperança e 128 pelo Projeto Silvina/Naval, cuja obra é bem próxima ao alojamento.




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