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Idosa recolhe lixo em parque e dá exemplo de cidadania
Marília Montich
Do Diário OnLine
24/11/2016 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


Quem frequenta pelas manhãs o Parque Antônio Pezzolo Chácara Pignatari, na Vila Metalúrgica, em Santo André, já está acostumado com a presença de uma simpática senhora que recolhe, incansavelmente, todo o lixo que encontra no chão, como embalagens de alimentos, garrafas pet , latas e papeis. Ela não é funcionária do local, apenas uma aposentada de 72 anos, moradora do bairro Camilópolis, que dá verdadeira aula de cidadania diariamente.

Helena Terazawa se exercita no parque há 20 anos. Há dois, se aposentou e começou a preencher suas manhãs de segunda a sábado e domingos alternados com corrida. Não demorou a perceber a quantidade de sujeira que era largada pelo caminho e, ao notar garrafas acumulando água, decidiu tomar uma atitude. “As pessoas reclamam que tem mosquito, mas não fazem nada para que isso pare. Resolvi, então, fazer a minha parte, pegando o que vejo e jogando nas latas de lixo.”

A aposentada acredita que há poucos funcionários para realizar a limpeza. A quantidade de cestos de lixo, contudo, é suficiente na visão dela. “O que falta mesmo é a educação das pessoas. Quando a pista de skate foi inaugurada aqui, a situação piorou. Me pergunto como gente jovem pode viver desse jeito. Acredito que jogam o lixo no chão, mas simplesmente não olham para o lado depois”, diz.

Descendente de japoneses, Helena conta que seus pais foram os responsáveis por lhe ensinar tudo o que ela põe em prática hoje. “Eles me falavam para não jogar lixo em qualquer lugar, para manter os lugares limpos. Nossa cultura é assim.” Infelizmente, não são todas as famílias que se preocupam em transmitir bons ensinamentos aos pequenos. “Uma vez, bem na minha frente, um menino jogou uma embalagem no meio do caminho. Ele estava acompanhado da mãe. Mesmo assim, fui até ele e disse que ele deveria jogar o lixo na lata, e não no chão. Ele entendeu, mas a mãe veio brigar comigo depois, dizendo que eu não deveria dar ordens à criança, que a educação do filho era responsabilidade só dela”, lamenta.

Helena conta que é comum ser abordada de maneira negativa. “Tem gente que diz que eu estou tirando o emprego dos outros fazendo o que eu faço. Mas isso não é verdade, porque só a quantidade de folhas que caem das árvores já dá muito trabalho às moças que varrem esse parque, que é enorme.”

As críticas, contudo, não superam os elogios. Muitos a parabenizam ou a agradecem, inclusive encarregados pela limpeza, que a enxergam como uma valiosa ajuda. Helena já conquistou até mesmo “discípulos” que, inspirados por seu exemplo, começaram a fazer o mesmo.

É o caso do autônomo Douglas Patini, de 28 anos. Ao observar Helena, passou a ajudar na varrição de parte do parque todos os dias. “Gosto da atitude dela e acredito que todos têm o dever de cuidar do local, que é público”, diz. “Claro que há exceções, mas acho que a maioria das pessoas se comove com a atitude dela”, completa.

Falante, porém discreta, Helena preza pelo parque apenas por princípios. Solteira e sem filhos, a aposentada vive com a irmã, que sequer sabe o que ela faz todos os dias quando sai de casa. “Acho que nunca contei para ela que recolho a sujeira antes do meu exercício”, conta, deixando uma lição simples e verdadeira: “Se todo mundo fizer sua parte, consertaremos o mundo aos poucos.”




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