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Cemitério da região escondem obras de arte
Daniel Tossato
Do Diário OnLine
02/11/2016 | 08:00
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Claudinei Plaza/DGABC:


Para a maioria das pessoas, cemitérios não são os locais mais agradáveis para se entreter e muitos os visitam apenas em dias especiais, como o Dia de Finados. Por abrigar os mortos, muita gente acredita que o espaço é tomado por energias negativas. Porém, há quem pesquise, encontre e enxergue belezas nas necrópoles. É o caso do professor Eduardo Rezende, que pesquisa os locais reservados aos mortos há quase 20 anos. “A ideia da arte tumular surgiu da necessidade dos vivos representarem a morte e o próprio falecido”, contou o especialista, que já visitou mais de 500 cemitérios em todo o mundo.

No Grande ABC, somente duas administrações – Santo André e São Bernardo - confirmaram a presença de obras únicas que fazem as peças serem consideradas como verdadeiras obras de arte.

No cemitério da Vila Euclides, em São Bernardo, um dos mais antigos da região, podemos encontrar uma das obras de arte que adorna o mausoléu da família Linguanotto. Uma mulher com traços angelicais, com uma túnica, e que provavelmente foi feita em mármore branco. A obra não tem assinatura aparente, o que dificulta a autoria da peça.

Outra sepultura que chama atenção pela exclusividade pertence à família Dall’Igna, que ostenta duas grandes mãos unidas em prece. A sepultura tem, aproximadamente, cerca de três metros de altura e é possível vê-la de longe.

Chama a atenção a pomposidade dos mausoléus mais antigos em relação aos mais atuais, e Rezende também sabe por qual motivo essa diferença ocorreu durante os anos. “Vivemos um período de ocultamento da morte, para dar a impressão de que ela não existe. Na época das construções dos grandes mausoléus a morte era vivida e ritualizada”, explicou o especialista no assunto.

Outra necrópole que abriga obras únicas fica em Santo André. O Cemitério da Saudade, na Vila Assunção, revela peças de artistas famosos, como o italiano Materno Giribaldi, que também criou artes para o Cemitério da Consolação, na Capital.

A família que mantém suntuosas peças do italiano é de uma das mais tradicionais do Grande ABC, os Tognato, cujos adornos são feitos em bronze. “A capela da família, com todas as esculturas e pedras utilizadas para sua realização, deve alcançar um valor entre R$ 2 milhões e R$ 5 milhões”, revelou o gerente do serviço funerário de Santo André, Jessé Roberto Barison.

Apesar de ser mais cara, a capela da família Tognato não é a que chama mais atenção de Barison. O gerente caminha pela rua principal do cemitério e leva a equipe do Diário para conhecer a obra que mais o agrada. Realmente a imagem é belíssima, um anjo aponta para o céu com a mão direita, enquanto carrega uma trombeta não mão esquerda. Suas longas asas são perfeitas, com detalhes impressionantes das penas, assim como as articulações e o jeito que sua vestimenta se desenha pelo corpo. Tudo feito em pedra de mármore única, porém sem assinatura aparente.

A peça também enfeita um túmulo da família Tognato. Jessé explica que em toda sua vida como gerente nunca viu obra semelhante e diz que é possível que ela tenha ligação com artistas que tenham criações no Cemitério da Consolação.

Tanto a Prefeitura de Santo André quanto a de São Bernardo não tem um sistema de catalogação das peças, o que dificulta na identificação e na história das obras. “Se algum parente tiver túmulos aqui neste cemitério e souber a origem dos adornos e artes em suas sepulturas, entre em contato com a administração para nos contar a história”, solicita Jessé.

Com a imagem de uma Pietá, onde Jesus jaz desfalecido nos braços de Virgem Maria, o mausoléu da família Didone também chama atenção de quem passa pela necrópole. Feita totalmente de bronze, a escultura já sofreu tentativa de roubo, que só não foi consumado devido ao grande peso da obra. “A tentativa de levar essa Pietá aconteceu entre 2005 ou 2006. Amarraram uma corda em volta de Jesus e arrastaram a peça. Como não conseguiram atravessar o muro, a abandonaram. Uma obra dessa vale em média R$ 200 mil”, relembrou Jessé.

Utilizados apenas para nos lembrar da única certeza da vida, que é a morte, os cemitérios também abrigam itens que podem nos encher de vida.




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