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Bené Fonteles resgata a ancestralidade em sua 'OcaTaperaTerreiro'
11/10/2016 | 08:00
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Na maior parte do tempo, a OcaTaperaTerreiro que Bené Fonteles criou para a 32.ª Bienal de São Paulo é visitada pelo público como um espaço mítico dentro do Pavilhão Ciccillo Matarazzo. Do lado de fora, a construção de taipa com teto de palha, abrigada próxima das esculturas realizadas por Frans Krajcberg com restos de árvores e cipós incinerados, homenageia índios e caboclos, mas, ao mesmo tempo, mais parece integrar o que seria a cenografia de uma floresta. Seria pouco. Na verdade, é preciso saber que a OcaTaperaTerreiro foi erguida para se transformar em ágora - tal qual na antiguidade, ser um lugar dedicado a reunir pessoas e, mais ainda, palco de um ciclo curioso, Conversas para Adiar o Fim do Mundo.

O fim do mundo é, então, uma certeza? "Quero continuar na incerteza senão não faço o que eu faço", diz Bené Fonteles, que se apropriou, como conta, das "ideias para adiar o fim do mundo", do amigo e líder indígena Ailton Krenak, para conceber seu projeto para a 32ª Bienal, intitulada Incerteza Viva. Até 11 de dezembro, quando termina a mostra, a OcaTaperaTerreiro receberá uma série de convidados especiais (veja o quadro acima).

"Os curadores da Bienal aceitaram esse desafio de fazer uma coisa que não era só arte", afirma Bené, de 63 anos, artista, compositor, escritor, que lançou, na década de 1980, o termo "artivismo" - novo, até então - com a organização, em Cuiabá, do Movimento Artistas pela Natureza. "Antes dessa crise econômica e política, muito séria, que está nos afetando profundamente no Brasil, achei que eu deveria vibrar, fazer uma história pela alma da nação brasileira". Sendo assim, é possível dizer que a OcaTaperaTerreiro foi concebida, portanto, para também servir "em termos espirituais" - "eu não separo arte, ciência e a espiritualidade", define o paraense, que vive há 25 anos em Brasília.

No último dia 14 de setembro, quando a reportagem do Estado foi conhecer a proposta de Bené Fonteles para a 32ª Bienal, o fim do mundo seria adiado, como dizia o programa, com um concerto de kalimba, instrumento musical de origem africana que, segundo o artista, teria sido criado para imitar a água.

Naquela terça-feira, por volta das 17 horas, antes de apresentar o convidado do encontro, o músico Décio Gioielli, Bené acendeu velas e incensos em um altar que "tem de tudo" e que circunda boa parte da oca como uma nova versão de uma obra antiga sua, Sem Fronteiras. "Sou todas essas histórias, eu passei por tudo isso: umbanda, candomblé, budismo, zen-budismo, tive formação cristã na minha família...Mas não sou de nenhuma religião". Esculturas populares, santos, plantas, retratos emoldurados, livros e peças distintas reverenciam mestres das mais variadas áreas das artes e do conhecimento - e inclusive "Omame", o deus supremo para os ianomâmis, descrito em poema do líder Davi Kopenawa agora plotado sobre uma das colunas do pavilhão projetado pelo arquiteto Niemeyer. "Aqui, toda a ancestralidade come o modernismo", sintetiza Bené.

Naquele dia, cerca de 30 pessoas se acomodaram nos bancos de madeira a rodear o grande e enigmático círculo formado por faixas de farinha de mandioca do Pará (amarelo), de palha (bege) e de terra (vermelho) para ver a apresentação de Gioielli. Ouviram o suave som da kalimba, ouviram histórias. "A Bienal tem quatro pilares - cosmovisão, narrativas, educação e ecologia", diz o artista. "Ativada" pelas conversas ou apenas aberta à visitação, a OcaTaperaTerreiro vai tocando os temas da mostra - e se o visitante se sentir, em algum momento, em outro tempo, "nem velho nem novo, que é o tempo do transcendente", já terá valido o esforço, conclui Bené. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

32ª BIENAL DE SÃO PAULO

Pavilhão Ciccillo Matarazzo. Pq. do Ibirapuera, portão 3; 5576-7600. 3ª, 4ª, 6ª e dom., 9h/19h; 5ª e sáb., 9h/22h. Grátis. Até 11/1




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