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Brasileiros deportados acusam ingleses de maus-tratos
Beto Gomes
Do Diário OnLine
10/04/2000 | 13:16
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Um grupo de 12 brasileiros, entre eles dois moradores de Mauá, foi deportado da Inglaterra no último dia 17. Ao desembarcar no aeroporto de Heathrow, em Londres, o Departamento de Imigraçao britânico suspeitou que eles pudessem entrar na clandestinidade depois que o visto de permanência expirasse. Decidiu entao mandá-los de volta ao Brasil, com escala em Portugal. O retorno, no entanto, demorou mais de um dia. O grupo passou cerca de seis horas em uma sala do aeroporto de Heathrow e, após chegar a Lisboa, foi mantido mais 14 horas dentro de outra sala, à espera do aviao que os traria ao Brasil. Neste meio tempo, afirmam que foram humilhados, e por isso decidiram processar o governo inglês.

O eletricista de manutençao Paulo Gomes Bezerra, 23 anos, e seu amigo André Luiz Vilardi, 21, que serviu a Aeronáutica por três anos, moram em Mauá e estavam no grupo. No mesmo vôo, encontravam-se estudantes e turistas do interior de Sao Paulo e de outros Estados brasileiros.

Bezerra e Vilardi afirmam que sofreram maus-tratos e foram humilhados pelos funcionários do Departamento de Imigraçao britânico. "Eles nao disseram porque estavam nos mandando de volta ao Brasil. Estávamos com todos os documentos e, ainda assim, nao deixaram que nenhum brasileiro entrasse no país", afirmou Bezerra.

Os dois moradores de Mauá iriam passar 15 dias em Londres. Foi a primeira vez que saíram do Brasil. Compraram um pacote em uma agência de turismo de Sao Paulo por 476 libras (cerca de R$ 1,4 mil), com direito a curso de duas semanas em escola de inglês para estrangeiros e hospedagem em casa de família. Pela passagem, desembolsaram mais US$ 800 (cerca de R$ 1,3 mil).

Ao serem barrados pelos agentes de imigraçao, os dois estudantes apresentaram a carta da escola na qual fariam o curso, os comprovantes de pagamento e o endereço da casa onde ficariam. Foram levados à sala onde permaneceram por cerca de 6 horas, e interrogados sobre o motivo da viagem.

"Queríamos aprimorar nosso inglês e conhecer a Inglaterra, mas o agente disse que era impossível aprender a língua em apenas 15 dias", conta Bezerra. Os dois brasileiros pediram entao para fazer uma ligaçao - eles queriam entrar em contato com a escola em Londres -, mas o funcionário da imigraçao nao deixou que usassem o telefone.

"Mandaram a gente calar a boca e sentar. Depois, revistaram nossas malas e reviraram nossas roupas", afirmou Vilardi. "Eles foram extremamente irônicos. Apesar de eu nao entender direito o que estavam falando, deu para perceber que estavam rindo da nossa cara".

De acordo com os brasileiros, os agentes britânicos nao revelaram porque estavam os mandando de volta ao Brasil. "Eles disseram apenas que nao aceitaram o motivo que a gente apresentou para entrar no país", disse Vilardi.

O eletricista disse ainda que, quando o grupo estava na fila se dirigindo para a sala, um dos brasileiros ouviu um funcionário britânico dizendo que iria deportar 25 brasileiros naquele dia. "Provavelmente pessoas que chegariam em outros vôos", deduziu Vilardi.

Portugal - Os dois moradores de Mauá disseram que o tratamento em Portugal, ao contrário do esperado, foi pior que o de Londres. "Parecia que éramos bandidos. Nos escoltaram do aviao até uma sala no aeroporto de Lisboa, onde passamos a noite inteira. Nao podíamos comer e nem tomar banho. Dormimos no chao, em cima de nossas roupas", conta Vilardi.

Conduzidos a uma sala onde estavam cerca de 20 pessoas, "a maioria de africanos que também seriam deportados", segundo o ex-militar, permaneceram lá das 20h de sábado (18) até as 10h30 de domingo (19).

De volta ao Brasil, procuraram a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Sao Paulo, que os encaminhou para o advogado Arnaldo Jesuíno da Silva, membro da Comissao de Direitos Humanos da entidade em Mauá. Silva entrou em contato com o Ministério da Relaçoes Exteriores, que está estudando as medidas que podem ser tomadas. A resposta deve chegar em 15 dias, segundo previsao do advogado.

O Consulado-Geral Britânico informou, por meio de nota oficial, que o número de imigrantes brasileiros em busca de trabalho ilegal na Gra-Bretanha vem aumentando nos últimos tempos. "Se falharem em provar ao oficial da Imigraçao que farao uma visita de lazer ou estudo, eles terao a entrada negada", diz um trecho do documento.

A nota diz ainda que "nao pode comentar casos individuais", mas que "aparentemente tem havido um número crescente de jovens brasileiros que tiveram entrada negada no Reino Unido". O consulado alertou que muitas empresas que oferecem trabalho para brasileiros no Reino Unido estao 'extorquindo dinheiro de supostos viajantes'".

Sobre as acusaçoes de maus-tratos e humilhaçao, o consulado informou que precisa receber uma notificaçao por escrito das vítimas, para entao pedir o início das investigaçoes.

O Consulado-Geral de Portugal em Sao Paulo e a embaixada de Portugal no Brasil afirmaram nao ter conhecimento do caso e, por isso, nao se pronunciaram.




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