Setecidades Titulo
Cresce número de mulheres seqüestradoras
Nicolas Tamasauskas
Do Diário do Grande ABC
30/03/2003 | 21:02
Compartilhar notícia


Dados da Cadeia Pública Feminina de São Bernardo revelam aumento no número de mulheres participantes em seqüestros, entre 2000 e 2002. Neste intervalo de dois anos, a incidência desse tipo de crime nos registros de entrada na unidade passou de apenas um caso ao longo de um ano para dez casos no mesmo período. A cadeia de São Bernardo é a única unidade prisional feminina do Grande ABC, e mantém detentas de toda a região.

Embora os números ainda pareçam pequenos, a tendência é que cresçam. Segundo os registros de fevereiro, 10% das mulheres que cumpriam pena (que varia entre 12 e 20 anos para o crime) ou aguardavam julgamento na unidade tinham participação em seqüestros praticados no Grande ABC. Em novembro de 2001, eram apenas três presas cumprindo pena por esse delito (3% do total).

“Normalmente, as mulheres que se envolvem em seqüestro têm como responsabilidade dentro da quadrilha a guarda do cativeiro ou alimentar a vítima”, disse o diretor da cadeia, Kazuoyoshi Kawamoto. Ou seja, raramente são mentoras do crime.

O número de mulheres detidas por envolvimento em seqüestro continua crescendo. De acordo com Kawamoto, no entanto, entre os registros de entrada da cadeia a quantidade de reincidências atinge índices de até 50%. Há casos de presas com prontuários que mostram até três retornos em um mesmo ano, situação que não se verifica em casos de seqüestro.

O aumento da participação das mulheres em seqüestros reflete uma realidade comum aos homens. Ao longo da última década, os casos se multiplicaram no Estado e, como uma das conseqüências, cresceu a presença de mulheres.

“Os números refletem a mesma coisa que acontece entre os homens, que é a migração de uma modalidade de crime para outra”, disse o vice-presidente do Instituto São Paulo contra a Violência e membro do Conselho Estadual de Política Penitenciária, Roberto da Silva.

De acordo com o delegado assistente da Delegacia Seccional de Santo André, Edison Nogueira de Souza, homens e mulheres passaram a trocar roubos a banco por seqüestros no início dos anos 90.

No começo deste ano, entre as 101 mulheres retidas na unidade de São Bernardo – que possui capacidade para apenas 32 – 27 foram indiciadas por tráfico de drogas, 18 por furto, 16 por roubo e 12 por homicídio.

Detida na Cadeia Pública de São Bernardo desde 15 de agosto do ano passado, Ana Paula Pereira de Moraes, 32 anos, teve uma participação diferenciada no seqüestro de um industrial em Santo André. Amiga da vítima, R.J., 43 anos, há 15 anos, ela teria sido uma das líderes da quadrilha que cometeu o crime. Ana se passou por vítima, na tentativa de enganar a polícia, mas acabou presa.

Já Rosilene Ferreira Gomes, 30 anos, teve uma participação clássica no seqüestro que terminou com a morte do comerciante Jackson Wataru Komati, então com 24 anos, em agosto do ano passado, em São Bernardo. Rosilene era dona da casa onde o comerciante foi mantido em cativeiro por 26 dias, dentro de um buraco, até ser torturado e morto por parte do grupo.

Depois do crime, ela fugiu para o interior da Bahia, acompanhada pelo marido e por uma sobrinha, também envolvidos no seqüestro do rapaz. Mas os três foram presos por policiais da Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes em uma diligência no interior da Bahia um mês depois do crime.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;