A tempestade que desabou sobre o Grande ABC ainda causa insegurança. Em áreas de risco, como no Jardim Limpão, em São Bernardo, pessoas vizinhas a barracos que desabaram permanecem em alerta, pois temem perder suas moradias caso volte a chover.

A força da água, que correu "o tempo todo e o dia inteiro" na terça-feira, derrubou dois barracos ao lado da casa da doméstica Helena Maria, 44 anos, que vive com quatro filhas, com idades entre 22 e 4 anos. No momento do acidente, ela estava apenas com a mais nova em casa.

"Ouvi o barulho e fiquei aqui dentro, mas com muito medo", afirmou. Na parte mais alta do morro, onde mora a doméstica, o acesso se dá por vielas e caminhos estreitos, de chão de barro. Precárias pontes feitas com restos de madeira servem de travessia por sobre o esgoto.

Também vizinha da casa que foi ao chão, a estudante Naiara Amorim Carvalho, 13, contou que a mãe interditou a moradia da família por conta própria, pois a Defesa Civil disse que não havia o que temer. "Fomos para a casa de um amigo, mas como nossas coisas estão aqui, precisamos voltar", disse a jovem, observando da porta de sua residência, a menos de um metro de distância, o começo do pequeno vale que se abriu com a queda do barraco.

O receio dos moradores é de que um novo desbarrancamento do solo frágil, ainda úmido, provoque um efeito dominó, arrastando uma casa atrás da outra. "Não consigo dormir. Passo a noite olhando pela janela para ver se nada acontece", afirmou Misael Oliveira Fernandes, 23. Sua casa foi erguida em cima de uma porção de terra por onde a água já se infiltrava antes da chuva, devido a um vazamento. "Se ninguém fizer nada, pode cair a qualquer momento."

A Prefeitura de São Bernardo informou que a Defesa Civil realiza "intensa vistoria nas áreas de risco" e que "as famílias que perderam suas residências são encaminhadas para a Secretaria de Habitação para inscrição no Programa Renda Abrigo". Em toda a cidade, 26 casas foram interditadas e duas, destruídas.