Setecidades Titulo
MTST deixa área da Prefeitura de Santo André
Deborah Moreira
Do Diário do Grande ABC
24/05/2010 | 07:23
Compartilhar notícia


Cerca de 500 famílias lideradas pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), que ocupavam um terreno da Prefeitura de Santo André, em Cidade São Jorge, desde o dia 8, deixaram o local e mudaram-se para um terreno particular de 26 mil metros quadrados ao lado. A medida faz parte da estratégia do movimento de manter-se no local sem precisar entrar em confronto com a Polícia. A reintegração de posse do município está marcada para hoje, por volta das 7h.

"Não queremos colocar a vida das famílias em risco. Por isso o grupo decidiu sair pacificamente do espaço", disse Maria das Dores Cerqueira, 40 anos, da cooredenação estadual do MTST. Com relação à nova área invadida, Maria disse que se trata de área particular comprada há 12 anos por um grupo de pessoas e que estaria abandonada e com impostos atrasados. "De lá, só saímos com a garantia de moradia. Muitos foram embora com a notícia da reintegração. Mas quem precisa ficou", declarou Maria, que entrou no movimento há seis anos, quando morava na casa de uma tia em Itapecerica da Serra. Na ocasião, era confeiteira e foi afastada do emprego com problema no coração e de pressão alta. "Fiquei sem receber da empresa e do INSS. Entrei no movimento porque não tinha mais a quem recorrer e todos aqui estão em situação parecida."

MUDANÇA
Segundo os acampados, a mudança começou a ser feita no sábado à noite. Ontem, muitos ainda transportavam toras de madeira, lonas, martelos e pregos. Outros carregavam como podiam seus pertences ao novo terreno, que tem acesso mais difícil por ser uma área montanhosa. Com a chuva, muita lama se formou entre as barracas improvisadas.

O casal de baianos vindos de Várzea Nova, Isabel Cristina Emídio, 28, e Joab Emídio dos Santos, 28, morava de favor há 12 anos na casa do irmão de Joab, em Cidade São Jorge. "Eu falei para ele: já está na hora de procurar nosso cantinho. As crianças estão crescendo e não tem mais espaço para todos", contou Isabel, dona de casa, que convenceu o marido a se mudar para o acampamento desde a invasão. Joab é pedreiro e com os R$ 800 mensais que ganha não tem conseguido manter mulher e três filhos, de 4, 8 e 10 anos - que não estão no acampamento.


Sem-teto esperam por moradias

Moradora de Santo André há 40 anos, a funcionária pública aposentada Raquel Batista Crepalde, 49 anos, é uma das integrantes do acampamento. Veio de Açaí, no Paraná, com a mãe e os irmãos, para tratar de tuberculose óssea. Atualmente, mora com a filha mais nova (15 anos), em Santa Cristina.

"É por ela que estou aqui. Meus outros três filhos já são maiores e podem batalhar. Ou a gente come, ou paga o aluguel, de R$ 400", contou Raquel, que recebe R$ 630 da aposentadoria e faz alguns bicos como faxineira. Nos últimos anos, teve câncer duas vezes e precisa tomar medicação de alto custo. "Nunca tem os remédios no posto. Daqui só saio depois de conquistar a casa própria", desabafou.

"Quem depende de programas governamentais, se não fizer pressão, corre o risco de permanecer na mesma situação", disse a socióloga Rosa Maria Scaquetti, 28, coordenadora regional do MTST desde 2006. Ela também está no local com a filha de 2 anos e o marido, que é professor mas atualmente trabalha como garçom. A família, com renda mensal de cerca de R$ 1.300, está inscrita no programa federal Minha Casa, Minha Vida e aguarda ser chamada.

Segundo o secretário de Desenvolvimento e Habitação, Frederico Muraro, existem 57 mil inscrições para o programa do governo federal. Já os projetos habitacionais na cidade possibilitam a construção de 2.312 moradias populares.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;