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Muita experiência a serviço da Medicina
Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
28/02/2011 | 07:50
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Os depoimentos, os hábitos de vida e a rotina de trabalho se assemelham. Eles compõem a chamada terceira idade, mas têm traços joviais que provocariam a reflexão de qualquer adulto, especialmente os pessimistas. São financeiramente estáveis, mas suas condições de vida correspondem a meio século de dedicação aos estudos e a aquilo que se propuseram a realizar no início de suas carreiras.

A busca pela atualização de conhecimento e o prazer em trabalhar permearam a conversa que a equipe do Diário teve com quatro médicos experientes da região, que revelaram, entre outras intimidades, curiosidades sobre os atendimentos em consultório, inclusive a oportunidade de atender várias gerações de uma mesma família, desmistificando a existência de um segredo para alcançar a vida longa em atividade.

O paulistano Benedito Maw Baptista da Luz transparece a vitalidade de um adolescente e considera uma esquisitice as pessoas que param de trabalhar quando completam o tempo de contribuição com o governo.

Ele tem 82 anos e 58 dedicados à carreira de médico. Foram mais de 800 participações em congressos nacionais e internacionais desde 1953, quando se formou na Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. Trabalha até 12 horas por dia e atende, em média, 20 pacientes em sua clínica de oftalmologia, localizada no Centro de São Bernardo.

Seu hobby são as motos. Tem três delas e até escolhe alguma para ir trabalhar em dias ensolarados. "Ando até hoje, dentro da cidade ou fora. É minha paixão desde os 18 anos." Em sua sala refrigerada, doutor Baptista da Luz, como é conhecido, recebeu a equipe do Diário com respeitosa lucidez, enquanto pacientes que lotavam a sala de espera aguardavam o chamado para a consulta. "Está sempre assim", comentou, com naturalidade. Para ele, o segredo da longevidade não é algo inatingível.

Manter a cabeça pensante e modernizar o conhecimento são alguns dos fatores determinantes para a vida sadia, física e mentalmente. "O importante é fazer o que gosta e não lembrar-se do tempo. Atualização é fundamental em todas as áreas profissionais da vida, por isso participo de pelo menos cinco congressos todos os anos. Enquanto tiver consciência de que estou atualizado e com capacidade física para exercer a profissão, não penso em parar, mas sim em evoluir. Acho uma esquisitice esse negócio de parar de trabalhar." O médico também atua uma vez por semana no Poupatempo de São Bernardo, onde realiza os exames médicos para retirada da carteira de habilitação de motoristas.

Em meio às consultas, é comum o médico reencontrar pacientes depois de anos. "As pessoas vêm e falam: ‘Você operou meu pai.' É algo normal, cuidamos de muitas famílias com imensa satisfação."

‘Se eu ficar em casa, só atrapalho'

"O que minha mulher mais quer é que eu não fique em casa." A frase é de um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, formado em 1960 pela USP (Universidade de São Paulo), onde doutorou-se nove anos depois. Luiz Henrique Camargo Paschoal tem 76 anos e é ex-diretor da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), onde atuou por 40 anos. Atualmente atende em uma clínica no bairro de Perdizes, em São Paulo. Para ele, sua presença em casa é inútil. "Minha esposa fica contente quando saio. Eu só atrapalho! Vou fazer o quê lá? Acho que parar de trabalhar é uma espécie de suicídio lento. A pessoa começa a ficar hipocondríaca e doente. Quem se aposenta está fadado a desenvolver doenças degenerativas. Por isso não quero parar e nem recomendo." Hoje, seu único cuidado é com o diabetes. "Se não me cuidar, me arrebento."

O dermatologista lecionou na USP, na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e na FMABC. Assim como doutror Baptista, ele considera especial a relação com os pacientes. "Atendo até a quarta geração de uma mesma família."

Em sua agitada rotina no consultório não há tempo para reclamações. "Meu local de trabalho é uma diversão. Não me sinto cansado. Ficar parado sem pensar só traz coisas ruins. No fim, a aposentadoriatorna-se um mal, pois ganha-se pouco e as condições de vida continuam as mesmas. Logo a pessoa será obrigada a arrumar outra fonte de renda."

O médico é considerado cidadão do Grande ABC. Em 2006 recebeu da Câmara Municipal o título de Cidadão Honorário de Santo André. Já no ano seguinte, foi homenageado com os títulos de Cidadão São-bernardense e Sul-sancaetanense, concedidos em reconhecimento aos mais de 30 anos dedicados à FMABC.

 Família funciona como alicerce para o sucesso

A ligação entre o desempenho profissional e o bom convívio familiar, aliada à presença dos amigos, é evidente na vida de outros médicos experientes entrevistados. O pediatra Adanor Ângelo de Aguiar Quadros, 73 anos, atende em Santo André e atribui à mulher e aos amigos uma especial colaboração com o triunfo em sua carreira.

"Faz bem para o espírito. A base é minha esposa. Ela é fundamental. Me deu apoio e ofereceu a possibilidade de exercer a profissão com o pensamento voltado apenas para o meu trabalho."

Independentemente da profissão escolhida, o médico aconselha os mais acomodados. "A pessoa tem que procurar não ‘involuir' e nem esperar a morte", recomenda.

O ginecologista e obstetra Airton Arantes Ferraz, 73, é médico bastante conhecido em São Caetano. Ele admite que a sagacidade na terceira idade é um fruto colhido dentro de casa. "É o que traz a vitalidade e o bem-estar ao profissional. Sou bem casado e vivo muito bem com meus seis filhos e nove netos."

Trabalhando em tempo integral até em fins de semana, o especialista planeja diminuir o ritmo frenético na carga horária para aproveitar melhor o tempo livre com a família. No entanto, Airton logo se apressa para revelar o desejo de continuar em atividade na área. "Estou sempre operando, correndo. E aí, se de repente eu parar, vou fazer o quê? Jogar dominó no bar?", brincou.




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