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A cada ano, 1,8 mil pessoas desaparecem em SP
Andrea Catão
Do Diário do Grande ABC
15/05/2004 | 17:55
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A dor supera a de um parente morto de forma violenta. É o que afirma a maioria das pessoas que tiveram um familiar desaparecido. A falta de uma explicação, de um motivo aparente, gera dúvidas que só não são maiores do que a esperança de que, um dia, o filho, o irmão, a mãe, o pai volte para casa. A cada ano, o Estado registra 18 mil casos de desaparecimento, entre os quais, menos de 10% ocorrem no Grande ABC. Do total, cerca de 60% são esclarecidos. Para ajudar as famílias, a Ecovias lançou uma campanha de divulgação de fotos de pessoas desaparecidas na região e Baixada Santista, no verso dos cupons de pedágio.

No Estado, dos quase 19 mil casos de 2003, 11,5 mil foram solucionados. O maior índice de encontro está na faixa etária abaixo dos 18 anos. Esse é um indício de que pessoas acima dessa idade, em geral, saem de casa espontaneamente, de acordo com o delegado Antônio Mestre Júnior, da Divisão de Proteção à Pessoa do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).

Ele afirmou que a maioria dos desaparecidos com mais de 18 anos é do sexo masculino, e os principais motivos são frustração com o projeto de vida, dívidas ou simplesmente cansaço do ambiente familiar. No ano passado, dos desaparecimentos nessa faixa etária, apenas 56% das pessoas retornaram para casa.

O mesmo não ocorre com freqüência com os menores de 12 anos, em que o índice ficou em 82%. “As crianças geralmente desaparecem em locais públicos ou então quando os responsáveis não fazem um controle maior da movimentação da criança, como horários de saída e de chegada. Já entre os adolescentes (índice de encontro de 77%), a maioria sai de casa para desafiar os pais. Muitas vezes, o desaparecimento dura um fim de semana, mas ainda existem muitos casos em que o adolescente sai de casa decidido a não voltar”, disse.

Nem sempre, porém, os pais sabem o motivo do desaparecimento. É o caso da corretora Terezinha Augusta da Silva, 49 anos, de Santo André. Seu filho caçula, Renan Duca da Silva, 19, desapareceu de casa no dia 8 de novembro de 2002, aos 17 anos.

“Cheguei em casa por volta das 11 da noite e ele foi embora 45 minutos depois. Naquele dia, estava se comportando de maneira estranha. Saía do apartamento e dava uma volta no condomínio. Retornava e, em seguida, saía novamente, sempre com um caderno na mão. Quando saiu e deixou o caderno na mesa, dois minutos depois, me dei conta de que ele foi embora.”

Segundo ela, o porteiro disse que Renan pediu para abrir o portão e desceu a rua. Desde então, nunca mais foi visto. Terezinha o procurou por toda parte. Foi à casa de amigos do filho, pediu ajuda à polícia e espalhou cartazes. A corretora imagina que ele tenha ido embora por influência de um rapaz com quem passou a andar seis meses antes de desaparecer. “Quando a polícia perguntou a esse amigo se conhecia o Renan, ele negou, o que não era possível. Ele sempre estava em casa.”

A rotina vivida por Terezinha se assemelha à de inúmeras famílias. A dúvida permanece desde o desaparecimento e só vai terminar quando receber notícias do filho. “Eu acredito que ele esteja vivo, mas como vou ter certeza? Não é fácil conviver com isso. A gente não consegue se desfazer de nada. O quarto do meu filho, as coisas dele, estão do jeito que deixou. Eu ainda espero que ele volte.”




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