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No Grande ABC, futuras mães ignoram pré-natal
Kelly Zucatelli
Do Diário do Grande ABC
24/06/2010 | 07:55
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São Bernardo, São Caetano, Santo André e Diadema contabilizaram entre 2008, 2009 e os primeiros cinco meses deste ano 217 óbitos fetais, e 424 óbitos de recém-nascidos, afetados por doenças da mãe, como a hipertensão arterial, gestacional, eclâmpsia, infecção urinária e diabetes, entre outras. Essas mortes poderiam ter sido evitadas com um pré-natal levado a sério.

As outras cidades não informaram os números de casos, mas os médicos alertam que é urgente a necessidade de melhores campanhas de conscientização para induzir que futuras mães façam um planejamento de gestação e passem por uma série de exames para diagnosticar se têm complicações clínicas que podem afetar o bebê durante a gravidez, ou logo que ele nascer.

Os especialistas não demonstram otimismo com relação à diminuição de óbitos devido às dificuldades de terem contato com algumas pacientes, principalmente as de classe baixa e da periferia. Elas geralmente procuram o serviço público de Saúde somente a partir do quarto mês de gestação, quando os riscos de morrer são maiores.

A diretora clínica do Hospital da Mulher, em Santo André, Eliane Terezinha Rocha Mendes, explica que, em muitos casos, as mulheres engravidam com a doença em grau elevado e elas nem sabem sequer que têm tal problema. Esse perfil além de colocar em risco a vida do bebê também reflete nos altos índices de crianças que nascem prematuras.

"Observamos que muitas mulheres têm dificuldades em se comprometer com o tratamento e entender que por ter pressão alta, por exemplo, ou uma infecção de urina não tratada, pode refletir na vida do feto ou do recém-nascido", explicou a médica.

Em São Bernardo, o Caism (Centro de Atendimento Integrado da Mulher) contratou 1.000 agentes comunitários focados na saúde da mulher para que façam um mapeamento por região da cidade que identifique mulheres com gravidez de alto risco, atrasos menstruais, e possíveis vítimas de violência sexual, para que sejam encaminhadas para a UBS (Unidade Básica de Saúde) mais próxima de sua casa para ter o acompanhamento.

"Essa é uma maneira que temos de identificá-las e ajudar com o tratamento necessário. Infelizmente, essas mulheres não têm condições de ter uma gestação saudável, pois sequer conseguem agendar uma consulta rapidamente. Isso complica", explicou o coordenador médico, Rodolfo Strufaldi.

Os números resultantes da causa morte de muitos bebês mostram que a vulnerabilidade de atenção das mulheres não está somente nos casos que chegam no atendimento público.

Strufaldi salientou que dos 88 casos de óbitos fetais em 2009, 31 foram do serviço particular. Neste ano, dos 30 casos, sete são do serviço particular.

TABAGISMO - Os principais erros de conduta das mulheres durante a gestação que podem afetar de maneira negativa o bebê são peso elevado e tabagismo. "Mulheres que fumam diminuem o vício, mas não param totalmente. Isso é muito ruim", alerta o coordenador da maternidade do Hospital Márcia Braido, de São Caetano, Gilberto Palma.

Na cidade é realizado o programa Coração de Estudante, no qual os alunos da rede são esclarecidos sobre doenças como hipertensão, diabetes e infecções entre outras. "Essa maneira educativa é um caminho importante para conscientizar as mulheres através dos próprios filhos", finalizou Palma.

Seis é o número mínimo de consultas

A pré-concepção, ou acompanhamento médico três meses antes de engravidar, é a alavanca para o diagnóstico de saúde das mães. Mas, independente desse planejamento, os médicos pontuam algumas rotinas necessárias de um pré-natal de qualidade.

Durante os nove meses é necessária uma agenda de no mínimo seis consultas, sendo uma no primeiro trimestre de gestação, duas no segundo e três nos últimos meses.

"Se seguida essa rotina fica mais fácil identificar as patologias", explica o coordenador do Caism de São Bernardo, Rodolfo Strufaldi.

A higiene pessoal e dos ambientes que a gestante convive deve ser mantida também de maneira criteriosa para evitar contaminações.

Alimentação saudável e nos horários indicados nas dietas médicas, evitando gorduras e optando por cardápios saudáveis como frutas e saladas.

A realização de exames corriqueiros como de sangue, urina e ultrassonografias deve ser respeitada. Assim como deixar de ser tabagista.

"Infelizmente de dez mulheres que fumam, apenas uma deixa efetivamente o vício na gravidez", lamentou Eliane Terezinha Rocha Mendes, do Hospital da Mulher.

Mulheres com idades entre 20 e 40 anos são as que mais têm dificuldade de se comprometer com os tratamentos das doenças que já têm e também com as obrigações do pré-natal.




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