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Bienal de Arquitetura de SP começa neste sábado
Do Diário do Grande ABC
19/11/1999 | 16:33
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Começa neste sábado, no Ibirapuera, a 4ª Bienal Internacional de Arquitetura de Sao Paulo, painel abrangente da forma pela qual o homem está modificando a natureza e uma grande discussao ética sobre o futuro da cidade e a necessidade de humanizaçao das metrópoles. A estimativa de público, segundo o presidente da Fundaçao Bienal, Carlos Bratke, é de 150 mil a 200 mil visitantes até 25 de janeiro, quando termina.

A mostra, que reunirá só na exposiçao geral de arquitetos 394 projetos (328 arquitetos brasileiros e 66 estrangeiros), custou cerca de R$ 3 milhoes. E começa endividada - a organizaçao busca meios para pagar R$ 1,5 milhao da 3ª Bienal, organizada em 1997. "É duro buscar patrocínio para pagar dívida", diz Bratke.

A bienal mais recente durou apenas 16 dias e levou cerca de 60 mil pessoas ao Ibirapuera, um sucesso relativo. Para atrair a atençao do público leigo, a nova mostra buscou elementos extras, como a réplica de uma estaçao orbital da Nasa. Montada pela agência espacial norte-americana e pela Boeing, deverá ser, sem dúvida, o hit da temporada, ocupando uma área de 600 metros quadrados dentro da mostra.

Na bienal passada, o hit absoluto foram as cadeiras de Arno Jacobsen. Este ano, a escolha é mais difícil. Entre as salas especiais, pontificam as de Mies Van der Rohe, do finlandês Alvar Aalto, de Frank O. Gehry (arquiteto do Guggenheim de Bilbao) e a do argentino Alberto Varas. Os brasileiros que se destacam este ano sao Joao 'Lelé' Filgueiras e Paulo Mendes da Rocha. Pietro Maria Bardi, morto recentemente, será homenageado com sala na qual sua contribuiçao à arquitetura é ressaltada. Quatro desenhos inéditos de Le Corbusier, do seu acervo particular, serao expostos.

Bardi foi amigo de Le Corbusier (codinome de Charles Edouard-Jeanneret), que veio ao Brasil para uma série de palestras, em 1923 e 1929. Bardi o definiu assim: "O protagonista de emergentes aventuras estéticas do século, anotador de nutrido calendário de eventos, propostas, polêmicas, ilusoes e certezas." Defendia seu racionalismo como uma atitude antiburguesa.

Mas é a grande cidade e suas distorçoes que ocupam o centro das atençoes de especialistas e dos cidadaos nas últimas décadas. Nao será diferente nessa mostra, que organizou o seminário Arquitetura e Cidadania, com a participaçao do ministro da Justiça, José Carlos Dias. "Se uma cidade nao funciona bem, produz uma deseconomia, tornando deficientes as relaçoes profissionais, pessoais, a produçao das riquezas", diz Bratke. "Sao Paulo está sendo comandada pelos agentes imobiliários, encarada predatoriamente como produto a ser vendido", afirma.

Proposta educativa - Arquitetos que participam da mostra, como o argentino Alberto Varas e a holandesa Hannie van Eyck, concordam que, de forma indireta, a arquitetura pode ser instrumento até de diminuiçao da escala de violência nas cidades. "A revalorizaçao dos espaços públicos pode influir no rol cívico e educativo da sociedade", diz Varas. "Eu acredito que podemos mudar essa história", diz Hannie. Ela é viúva de Aldo van Eyck, arquiteto que mudou a cara de Amsterda com seus playgrounds e creches revolucionárias.

Carlos Bratke espera que a bienal de arquitetura adquira, a partir de agora, uma periodicidade razoável. A primeira exposiçao de arquitetura internacional em Sao Paulo foi em 1951 e integrou a 1ª Bienal do Museu de Arte Moderna. Foi montada no Parque Trianon, na Avenida Paulista. A segunda foi organizada em 1953.

Mas a bienal mesmo só surgiu em 1973, já no pavilhao do Ibirapuera. O tema era O Ambiente Que o Homem Utiliza: Suas Conquistas e Dificuldades e, entre as salas especiais, estavam Burle Marx, Vilanova Artigas, Lúcio Costa e Flávio de Carvalho. Depois de um hiato de 20 anos, voltou em 1993, com 350 participantes e arquitetos como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.

Em 1997, a 3ª Bienal veio com uma amostragem diversificada da produçao nacional e internacional, mostrando do pioneirismo de Victor Dubugras e Rino Levi à modernidade de Lina Bo Bardi.

Júri internacional - Este ano, os latino-americanos foram mais bem lembrados. O arquiteto Clorindo Testa, considerado tanto como arquiteto quanto artista, terá uma sala especial na mostra. O urbanista Alberto Varas traz sua visao de recuperaçao dos espaços públicos urbanos.

Para resolver problemas de suscetibilidade com o julgamento do concurso que promove, o da Exposiçao Geral de Arquitetos, a organizaçao montou um júri internacional. "Dá um grau maior de imparcialidade, para evitar comentários", diz Bratke. Outra diferença é que, agora, sao todas obras construídas (antes, só projetos), o que torna mais difícil o julgamento. Até arquitetos consagrados, como Norman Foster, mandaram trabalhos para o concurso.

A arquitetura como elemento de transformaçao social é tema de uma grande mostra, Arquitetura para a Cultura, organizada pela 4ª Bienal com patrocínio da Volkswagen e apoio do Jornal "O Estado de S.Paulo".

Paralelamente à bienal, ou integrando-se a ela, estará no Sesc Pompéia a exposiçao Cidadela da Liberdade. É uma reuniao de desenhos, plantas, fotografias e documentos que remontam às atividades do Sesc Pompéia em 17 anos de funcionamento. Fotos mostram como era a fábrica ainda em funcionamento e acompanham sua transformaçao ao longo do tempo. A mostra no Sesc fica aberta até 30 de dezembro.




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