Setecidades Titulo
Braille faz 200 anos, mas não envelhece
Kelly Zucatelli
Do Diário do Grande ABC
07/09/2009 | 07:39
Compartilhar notícia
André Henriques/DGABC


Duzentos anos se passaram desde que o francês Louis Braille criou o sistema de ensino para cegos que leva o seu nome. O método - que consiste em um mecanismo de escrita e leitura por pontos em relevo pelos quais o leitor passa os dedos sobre os pontilhados e identifica o que está escrito - está longe de ser substituído, mesmo com as inovações tecnológicas do mundo moderno.

Integrante da Comissão Brasileira do Braille e coordenadora da Fundação Dorina Nowill, referência em São Paulo na inclusão social de crianças, jovens e adultos cegos, Regina Fátima Caldeira Oliveira faz o parâmetro de que o método Braille é tão perdurável quanto a escrita comum. "No Braille temos simbologias para tudo, é muito completo, assim como a escrita. A informática veio como complemento, mas a base realmente está no que os alunos aprendem com o uso das máquinas", explicou Regina.

Para professores, psicólogos e coordenadores de instituições, a utilização das máquinas em Braille é a maneira mais eficaz e serve de largada para o processo de alfabetização das pessoas cegas de diversas faixas etárias.

A máquina reglete, semelhante a de escrever, é a mais usada pelos alunos no aprendizado do Braille e seu preço varia de R$ 40 e R$ 150. Porém existem modelos maiores que chegam a R$ 2.500. Assim como impressoras que ganharam por empresas versões para o sistema.

O tempo de aprendizado do método Braille varia muito de aluno para aluno, se a pessoa tem outras deficiências e o nível de preparo para o desenvolvimento dos outros sentidos, como o tato. "É um processo individualizado. Geralmente para as crianças leva-se de três a seis meses. Mas para isso um fator primordial é que elas aceitem que são cegas", explica Regina.

DEMANDA - As necessidades especiais dos alunos e os custos do processo de aprendizado e utilização do Braille fazem com que especialistas lamentem a falta de iniciativas que ajudem na divulgação de materiais existentes para esse público.

A programação de eventos para comemorar o bicentenário do método de leitura pretende levantar a polêmica da escassez de bibliotecas com livros em Braille e a necessidade de melhor divulgação dos serviços que são oferecidos.

O Instituto de Cegos Padre Chico e a Fundação Norina Dowill, ambos em São Paulo, que atendem alunos do Grande ABC, estão com uma série de palestras que vai até o dia 11 de novembro em diversos endereços. Mais informações pelo telefone 5087-0954.

Computadores se tornam aliados no aprendizado

Ao contrário de atrapalhar, a informática - que ainda representa um desafio para grande parte da população - casou perfeitamente com os leitores em Braille. Programas feitos especialmente para esse público possibilitam a transição do sistema impresso para o digital.

"Lembro que quando chegaram os primeiros computadores na instituição, os alunos ficaram eufóricos com a expectativa que o sistema substituísse a máquina em Braille, mas logo perceberam que não. Hoje eles usam o computador para aprender a manusear e-mail e jogos por sistema de áudio", afirmou a professora de informática e especialista em educação especial, Cynthia Carvalho, 36 anos.

Depois de estudar oito anos no Instituto Padre Chico, o analista de suporte Anderson da Cunha Farias, 31, desafiou a cegueira adquirida aos 7 anos e passou a dedicar-se ao aprendizado da computação. Hoje, ele se orgulha de estar entre os que acompanharam a criação do software Virtual Vision, especial para os deficientes visuais. "Esse programa varre todas as informações da tela do computador que chegam por e-mail, por exemplo, e as transfere para um sintetizador de voz que reproduz a mensagem. É muito prático e é instalado em um computador comum, sem adaptações de teclado em Braille para os cegos."

Contudo, mesmo mergulhado nas inovações tecnológicas que o faz superar barreiras da cegueira, o rapaz acredita que o aprendizado em Braille é o primeiro contato com a possibilidade de ler e escrever. "Nada ainda superou esse modelo. É preciso que o Braille seja mais disseminado na sociedade, como por exemplo, em cardápios de restaurantes e com mais bibliotecas especializadas", defendeu Farias.

Integração de crianças é essencial

A necessidade de integração de crianças cegas com as de visão baixa e visão normal também dá aos professores a responsabilidade durante a formação pedagógica, seja em escolas especializadas ou não.

Para a coordenadora da entidade Dorina Nowill, Regina Fátima Caldeira Oliveira, a capacitação dos professores ainda impede que a integração das pessoas cegas tenha excelência. "Os professores têm algumas noções elementares de deficiência. Mas alguns não têm nem o preparo em Braille", comentou Regina.

A diretora do Instituto para Cegos Padre Chico, Ana Maria Pires, acredita que se os alunos tiverem profissionais realmente preparados para oferecer o suporte necessário, a integração será fácil. "Durante o tempo que eles estão aqui podemos acompanhar a desenvoltura, agilidade e conhecimento de cada um. Eles se gostam e querem ajudar um ao outro. Essas características pessoais os ajudam no convívio com quem não possui a deficiência."

Segundo os profissionais, fator importante nesse processo é o acompanhamento constante de psicólogos, que conversem tanto com os cegos quanto com seus familiares durante o período de adaptação ao mundo das pessoas com visão normal.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;