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Rosas Negras com a bênção de Iemanjá
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
11/02/2011 | 07:35
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O sorriso de Maria da Conceição Rodrigues do Amaral, a Conché, 63 anos, não dá pistas do que aconteceu na semana passada na escola de samba Rosas Negras. Os R$ 14 mil que a presidente da agremiação de São Bernardo conseguiu por meio de empréstimo foram, literalmente, enterrados na lama: a enchente que atingiu o Conjunto Habitacional Granja Ito, no bairro Cooperativa, onde fica o barracão, destruiu as fantasias preparadas para o desfile deste ano.

Mesmo assim, Conché está animada e promete levar muita garra para a avenida. "Temos menos de um mês para tentar fazer tudo de novo. Vai ser uma luta, mas a gente vai desfilar nem que seja de camiseta e bermuda", prometeu.

A subvenção de R$ 45 mil prometida pela Prefeitura, e que deve ajudar Conché a pagar as dívidas, está atrasada. "Espero que saia logo, pois vai ser de grande ajuda", torceu.

A rotina dos que participam da escola, uma das mais antigas da cidade, se dá toda no barracão improvisado no conjunto habitacional da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano). Ali, o grupo faz as refeições como pode e também dorme em colchões improvisados. "Moro perto, mas prefiro ficar aqui. A gente vive o Carnaval 24 horas", garantiu.

Sobrinha de Conché, a coordenadora da ala das crianças Kátia Janaína Felício da Silva, 39 anos, está lá para o que der e vier. "Não é fácil, mas a gente dá conta do recado", disse.

RAINHA
Neste ano, o enredo não deixa de lado as raízes da Rosas. Cerca de 300 pessoas vão contar a história dos negros no Brasil, desde a escravidão até o domínio no Carnaval. A bateria de 50 componentes vem fantasiada de bambas do samba, os malandros da folia de antigamente. A ala das baianas estará de mãe-preta e a das crianças, de diplomandos.

O desfile também aborda o candomblé, tradição da família de Conché. "Iemanjá protegeu a vida dos negros que chegaram ao Brasil e vai proteger nossa escola", afirmou. E que assim seja, com as bênçãos da rainha do mar.

Ajuda vem ‘importada' da Capital

Depois de passar pelo sufoco de ver as fantasias feitas com tanto cuidado e dedicação ficarem cobertas de lama, os integrantes da escola de samba Rosas Negras, de São Bernardo, receberam ajuda extra direto da Capital. Vladimir Dantas, que desde os 15 anos vive e respira Carnaval, está no barracão para fazer "o que precisar".

Dantas trabalhou em escolas de São Paulo, tais como a Uirapuro, do bairro da Mooca, e a Barroca, do Ipiranga. "Já conhecia o pessoal da Rosas Negras e sempre tive vontade de participar do Carnaval deles, nem que fosse para colar uma lantejoula", comentou.

E não é só uma lantejoula que Dantas terá de colar: há muito trabalho pela frente para recuperar o que a chuva estragou. Mesmo assim, a escola tem fama de ser guerreira e, na última hora, surpreender no desfile. "Acho que isso vem da minha mãe, que assumiu a Rosas nos anos 70", disse a presidente da agremiação, Maria da Conceição Rodrigues do Amaral, a Conché, 63 anos.

Em pleno mês de Carnaval, a família relembra os 10 anos da morte de Natália Rodrigues do Amaral, mãe de Conché. "Ela desfilou na avenida sem ligar para nada. Depois faleceu por problemas no coração. Parece que ela esperou passar o Carnaval para, só então, ir embora", disse Conché.

A missão de conduzir a folia passou para a filha mais velha, que desde 2001 conquistou dois títulos com a Rosas Negras: o acesso ao Grupo 2 em 2004 e o acesso ao Grupo 1 em 2007. "Vou continuar levando essa missão que minha mãe me deu até o dia em que eu morrer", prometeu.




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