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Jovens carentes encantam hípica
Rita Norberto
Do Diário do Grande ABC
05/07/2003 | 18:36
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Em dois dias da semana, jovens de bairros carentes, como Royal Park e Batistini, em São Bernardo, deixam a vida de privações e entram em um clube restrito à elite, o Centro Hípico Capi, na mesma cidade. São 16 meninos e meninas, de 8 a 14 anos, de famílias carentes, que integram o Projeto Rosazul, criado há três anos. Eles aprenderam e hoje dominam o volteio, uma das modalidades do hipismo clássico, na qual o volteador executa figuras acrobáticas sobre o cavalo em movimento. Mesmo com todas as dificuldades – falta de patrocínio e até mesmo de alimentação mais adequada a um atleta – esses jovens conquistaram o Troféu Eficiência 2002, o maior prêmio do hipismo brasileiro, vencendo equipes de clubes particulares de alto nível.

O projeto nasceu da iniciativa de uma freqüentadora da hípica, Maria Ester Fávero, que pôde mantê-lo financeiramente por seis meses. Para não deixar o trabalho acabar, a professora dos jovens e amazona profissional Carla Lombardi Massenzi, 18 anos, assumiu, sozinha, o financiamento do projeto. Atualmente, Maria Ester segue dando aulas de reforço escolar.

O ensino do volteio foi escolhido, diz Carla, pois "desenvolve a disciplina, responsabilidade, auto-estima, respeito pelo animal e pela vida e, especialmente, o trabalho em equipe. Para as crianças, o esporte representa inclusão social e viver uma experiência restrita a outra classe". Cada aula/hora de volteio no Centro Hípico Capi custa R$ 100, mais do que ganho familiar deles.

Os meninos e meninas foram chamados por professores das escolas em que estudam e, por regra, pertencem a famílias cuja renda mensal média é inferior a R$ 80 (valor de três anos atrás). Eles têm de ter bom desempenho escolar e comportamento, além de freqüência nas aulas do esporte.

Eles recebem aulas de condicionamento físico e alongamento. E, aos poucos, aprendem o esporte. "Primeiro fazemos o exercício no chão, depois montamos para acostumar e só depois fazemos as coreografias", disse Juliana Barbosa dos Santos, 13 anos, que está no projeto com os irmãos Jonathan Henrique dos Santos, 11, e o caçula do grupo, Joas Barbosa dos Santos, 8, que "ia todo dia pedir para fazer as aulas".

Sonho – Todos chegaram assustados, mas hoje já falam em ser profissionais. "Nunca imaginei, nunca tinha montado, mas na primeira aula me encantei", disse Erika Bezerra da Silva, 14 anos. Por ser forte, ela é a base nas coreografias e nem mesmo ter quebrado a perna em um tombo a fez desistir. Luan Pereira de Oliveira, 10, faz jus à sua função na coreografia: ele é o voador, por ser leve. Como todos, ele quer ser atleta profissional, "um volteador". A professora Carla se impressiona. "Eles encaram como a oportunidade da vida deles. São responsáveis, esforçados; é impressionante." A equipe não tem patrocínio, e quem se interessar em ajudá-los deve contatar o Centro Hípico Capi, pelo número 4396-3296.




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