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Pirataria cibernética chega à Asia
Do Diário do Grande ABC
15/06/2000 | 13:19
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Feng Jiangzhou acaba de ser seqüestrado em plena infovia. Sua banda de rock, The Fly, lançou dois CDs nos últimos três anos. Mas antes mesmo que estivessem disponíveis nas lojas, os prolíficos piratas de música da China já tinham colocado os CDs da banda na Internet, para serem copiados gratuitamente. A Internet "oferece um novo e crescente canal para a pirataria musical", diz Feng. "E o melhor que as gravadoras podem fazer a respeito é nao gastar dinheiro com álbuns, pois lucrar com isso é impossível".

A mesma queixa é ouvida por toda parte da Asia, que está sofrendo com essa onda de pirataria cibernética. Músicos, autores e produtores de softwares afirmam que a tecnologia da Internet, ao mesmo tempo que revoluciona a indústria, cria um vasto campo de novas oportunidades para espalhar cópias ilegais de seus trabalhos.

O problema vai muito além do debate nos Estados Unidos sobre os internautas que compartilham versoes digitais das músicas. Muitos piratas asiáticos usam músicas gratuitas e outros materiais para seduzir os usuários a entrar em seus sites, pois na realidade ganham dinheiro com o comércio eletrônico de outros bens de consumo ou com publicidade, paga por anunciantes interessados em seu público.

Setores da indústria dizem que os governos asiáticos estao apenas começando a compreender que os ladroes privam sua própria indústria criativa de um faturamento extremamente necessário.

"A maioria dos governos nao acredita que a pirataria na Internet seja um problema real, porque eles consideram que as indústrias locais de Internet nao sao suficientemente desenvolvidas", diz Sean Mok, no escritório de Hong Kong da Federaçao Internacional das Indústrias Fonográficas, que reúne um grupo de gravadoras. Em alguns países, a pirataria está se desenvolvendo tao rapidamente quanto a atividade on-line legalizada.

Dezenas de sites oferecem música copiada ilegalmente, softwares, jogos de computaçao e histórias de ficçao. A maioria está localizada na China, Hong Kong, Taiwan e Coréia do Sul. Mas os governos do sudeste asiático estao sendo obrigados a atualizar sua legislaçao e sua política em funçao da pirataria cibernética. Na China, a indústria da pirataria que falsifica CDs e roupas assinadas entrou de cabeça na Internet.

Em março, as gravadoras moveram uma açao contra o website MyWeb.com, sediado em Pequim, porque os serviços disponíveis para usuários de sua página personalizada da Internet incluíam links para os sites de piratas musicais. Eles pagaram a simbólica quantia de 8 yuans, cerca de US$ 1, pelos prejuízos causados, mas concordaram com uma penalidade de 100 mil yuans, US$ 12 mil, para cada futura violaçao. "O objetivo da MyWeb é oferecer páginas pessoais na Internet. Nao queremos problemas legais", garantiu Gily Lau, porta-voz da MyWeb.

O tipo de coaçao empregada varia de regiao para regiao, mas Hong Kong foi a pioneira na adoçao de medidas restritivas. No ano passado, foi criada uma unidade de fiscais composta de sete membros, todos devotados ao combate da pirataria cibernética. A primeira prisao efetuada pela equipe aconteceu em abril, quando um engenheiro em computaçao foi acusado de oferecer cópias ilegais de softwares na rede, incluindo o sistema operacional Microsoft 2000 e um software de negócios em chinês.

Caso seja condenado, ele terá de cumprir pena de quatro anos na prisao e pagar uma multa de US$ 6.500, conforme declaraçao de Ben L.C. Leung, um fiscal aduaneiro. "Este é um problema emergente da Internet que atinge todas as agências de fiscalizaçao", disse Leung. "Temos de nos preparar para lidar com a tecnologia trazida pela Internet e compartilhar essa experiência". Os piratas mais sofisticados da China estao a sudeste da província de Fujian, declarou Feng, o cantor de rock. Essa remota área litorânea, distante do controle do governo central, é o paraíso tradicional da pirataria e do contrabando.

O álbum de estréia do The Fly, de 1997, estava na rede antes mesmo de chegar às lojas, conta Feng. Ele declarou que a alta qualidade da versao digital deve-se, provavelmente, ao fato de ter sido copiada de um CD promocional enviado antecipadamente. O álbum vendeu respeitáveis 40 mil cópias. Mas Feng calcula que no mínimo 10 mil cópias piratas tenham sido feitas gratuitamente. O mesmo aconteceu em 1998 com o segundo álbum da banda, que vendeu pouquíssimas cópias enquanto milhares de versoes piratas foram distribuídas a partir da Internet.

Os intelectuais também têm sido vítimas. Um grupo de seis escritores chineses, incluindo o ex-ministro da Cultura, Wang Meng, processou uma empresa de Pequim no ano passado, por colocar suas obras on-line sem permissao. Em outubro, uma corte determinou que a Beijing Online pague a cada um dos escritores cerca de US$ 1.800, após rejeitar o argumento da empresa de que a antiquada legislaçao de direitos autorais da China nao poderia estender-se à Internet.

A facilidade de criar um website e a ausência de fiscalizaçao por parte dos provedores de serviços da Internet têm alimentado a onda de pirataria, segundo Clement Ngai, vice-presidente da Business Software Alliance, um grupo do segmento de informática. Ngai afirmou que, todo mês, sua empresa solicita a diversos provedores asiáticos que excluam os sites que trabalham com softwares, músicas ou jogos pirateados. "É somente após a nossa colocaçao do problema que eles descobrem que possuem material pirateado", garante.




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