Cultura & Lazer Titulo
Saudade inspira bailarina de Diadema em Amsterdã
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
08/09/2001 | 16:55
Compartilhar notícia


Longe de Diadema, a bailarina Suzana Gomes, 27 anos completados na última sexta-feira, se prepara para estrear em Amsterdã, na Holanda, sua coreografia de dança contemporânea criada e produzida durante curso de dois anos concluído em agosto na escola de dança Amsterdamnse Hogeschool Voor de Kunsten. Com o título O Louco, é inspirada no tarô e na psicanálise de Carl Gustav Jung. A apresentação será de 19 a 21 de dezembro no teatro Melk Weg (via láctea). Antes, ela confessa: “Amanhã faz um ano que voltei para cá pela segunda vez. Estou melancólica e saudosista. Minha família, meus amigos, festas e reuniões, ou só bate-papo...Como sinto falta.”

Com esses sentimentos, surgiu O Louco. “Foi em uma época na qual eu não tinha certeza se teria uma bolsa de estudos ou se voltaria para o Brasil. O baralho do tarô era meu analista nestes momentos e a carta do Louco sempre aparecia,” disse. De início, seu louco era mais para bobo da corte. Seu orientador e diretor do espetáculo, Robert Steijn, pediu que buscasse suas raízes. “Ele havia vindo ao Brasil e falou dos menores de rua e mendigos que viu por aqui e me lembrou de meu trabalho social em Diadema. São esses os loucos que apresento, com seu lado inocente e suas experiências”, afirmou.

Suzana estuda desde os 9 anos. Bailarina clássica formada, fez jazz, sapateado e flamenco. Deixou a Cia. de Danças de Diadema em 1999, onde dançou e deu aulas de iniciação durante cinco anos, para aperfeiçoar sua técnica na Holanda. Vendeu o que tinha para pagar um ano de curso. No segundo ano, teve de provar que precisava de uma bolsa de estudos. Ela foi faxineira, babá e hoje atua como modelo vivo.

A vida cultural intensa de Amsterdã impressionou. “Todos participam de eventos culturais porque os preços são acessíveis. Eu pagava, como estudante, cerca de R$ 7,50 a R$ 15 por espetáculo.” Para ela, primavera e verão são as melhores épocas, porque as pessoas ficam mais felizes e muitos eventos acontecem. Sua maior dificuldade foi com o frio, tanto o do inverno como o do holandês.

“Neve é linda, mas só por dois ou três dias. Depois, enche o saco. Só tem nove horas de luz por dia. No verão, é o oposto: amanhece por volta de 6h e escurece às 23h! É lindo...” Suzana não tem muitos amigos em Amsterdã e aponta três motivos para a falta de “tato” entre as pessoas: “Primeiro, não temos contato com vizinhos; segundo, se toco em alguém quando conversamos, ele congela sem saber como reagir; e terceiro, me incomoda profundamente a falta de sensibilidade em relação a emoções.”

Suzana sente falta de dançar. “Farei algumas audições por aqui e não ficarei frustrada se não acontecer nada. Quero viajar mais, saber o que acontece em outros países.” Sua volta ao Brasil está prevista para março do ano que vem.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;