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Jardim Irene: De morro à bairro, em dez anos
Raymundo de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
01/05/2002 | 18:55
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Em dez anos de ocupação irregular de uma área invadida próximo ao Jardim Irene, em Santo André, as cerca de 2,5 mil famílias que atualmente ocupam o complexo formado pelos jardins Irene 2, 3, 4, e 5, enfrentam dificuldades como falta de esgoto, ligações clandestinas de água e energia elétrica e falta de acesso para que caminhões possam fazer entregas de compras de supermercado, móveis e materiais de construção nas áreas de encosta de morros.

Apenas 305 famílias que moram no Jardim Irene 2 possuem documento de compra e venda dos lotes onde construíram suas casas. Elas são associadas de uma cooperativa habitacional que mantém um processo de regularização de uma área de 54 mil m². Com a regularização, a Prefeitura iniciou obras de esgoto, canalização de um córrego e de asfalto.

Os outros moradores estão em situação irregular e a maioria (cerca de 1,5 mil famílias) ocupa áreas de encosta de morros. As ocupações no complexo do Irene começaram em 1992 com invasões organizadas pelo extinto MSTU (Movimento dos Sem Terra Urbanos), responsável por invasões e ocupações ocorridas em Santo André nos anos 90.

Para pegar ônibus, os moradores das áreas de encosta têm de descer para a rua Caminho dos Vianas, a principal do bairro e a única que é utilizada pelo transporte coletivo. “Para subir nesses morros só mesmo os carros velhos de quem mora por aqui”, conta Márcia Aparecida Alves Carvalho, 25 anos. Moradora do Jardim Irene 4 há dez anos, ela diz que as dificuldades para quem mora na região aumentam na época das chuvas. “As vezes o barro é tanto que as pessoas têm que usar as mãos e os pés para poder chegar em suas casas e quando chove o problema do esgoto piora muito”, afirma Maria Cícera Julião dos Santos, 43.

Depois de morar por três anos na parte de encosta do morro no Jardim Irene 4, o desempregado José Rodrigues Soares, 38, resolveu construir um barraco na parte mais baixa do bairro. “Na parte de cima do morro tem que conviver com a falta de água e o único jeito é carregar baldes para poder abastecer a casa.” Ele mora com a mulher e dois filhos na parte baixa do Irene 4 e convive com esgoto a céu aberto na rua onde fica sua casa.

Para tentar resolver o problema da falta de infra-estrutura enquanto não conseguem regularizar a área, os próprios moradores criam e executam projetos como o de uma rede de esgoto e galerias de águas pluviais para escoar a enxurrada. O pedreiro Jorge Braga Neto, 42, e alguns vizinhos da rua onde moram no Irene 4 construíram uma rede de esgoto com 180 metros. Neto mora com a família, mulher e cinco filhos, há quatro anos no local. Segundo ele, a rede de esgoto comunitária foi construída há dois anos e meio com canos de PVC de quatro polegadas (10 cm de diâmetro) e serve para escoar o esgoto até a parte mais baixa do bairro.

Na rua 8 de Abril, que fica no Irene 2, boa parte dos moradores construiu galerias na frente de suas casas para escoar esgoto e enxurrada. “As pessoas fazem as galerias também porque a erosão causada pela enxurrada acaba provocando verdadeiras crateras na entrada de casa”, conta o desempregado Aparecido Martins, 41. Além de redes de esgotos e de galerias pluviais improvisadas, em alguns pontos do Jardim Irene 2 os moradores também construíram redes clandestinas de energia elétrica (os gatos) de forma organizada. “Nós compramos postes de cimento e fizemos as ligações com segurança”, afirma a dona-de-casa Maria Cícera Julião dos Santos, 43.




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