Cultura & Lazer Titulo
Moradoras do entorno do Sesc Sto.André estréiam em mostra internacional
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
18/03/2006 | 09:56
Compartilhar notícia


Arte e costura se encontraram em ambiente de recreação. Sexta-feira, costureiras, moradoras do entorno do Sesc Santo André e integrantes dos grupos de terceira idade da unidade concluíram o workshop de produção de uma obra artística calcada em técnicas artesanais brasileiras. A obra, da série Valquírias da artista plástica portuguesa Joana Vasconcelos, foi montada na área de eventos do Sesc. Portanto, é a sexta instalação da Mostra Internacional de Design - Safety Nest/O Ninho Seguro, que abriu na quarta-feira passada e fica em exposição até dia 14 de maio.

A "Valquíria brasileira", como as costureiras chamam a peça, ganhou cores e formas com tricô, crochê e vários tecidos. O fuxico, tipo de cerzidura artesanal, impressionou a artista que não conhecia a técnica. Outra impressão tiveram as costureiras - diferenciar o trabalho com fins utilitários que resulta da costura e o trabalho com fins estéticos, livre de regras e padrões, da arte. Entre paetês e tecidos, o tema da exposição surge de forma subliminar.

Para trabalhar com o grupo sobre a questão do ninho seguro, Joana Vasconcelos aproveitou técnicas de trabalhos domésticos, que são feitos na segurança do lar. "Mas a casa também pode ser um lugar de violência, de agressão ou acidentes. Por isso a Valquíria, deusa nórdica da força e compaixão, seria a deusa que vem salvar o lar dessa violência calada", disse Joana. A profusão no uso de cores também impressionou a artista, que fez as outras cinco Valquírias da série trabalhando com mulheres portuguesas. "Em Portugal, não conhecia o fuxico. Lá, predomina o preto como cor básica nos trabalhos e o vermelho. Aqui, usaram muitas cores, predominando o amarelo e o verde, quase nunca o preto", afirma.

Joana deixou os 25 integrantes à vontade no workshop. Propôs que em vez de fazerem a costura de sempre, fossem mais longe na mesma técnica. "Mostrei a fronteira entre arte e design da seguinte maneira: peguei a utilidade e o bom gosto das peças de costura e as fiz desaparecer. Nas artes não nos preocupamos se vai ficar bom, o gosto não interessa. Não faço julgamento de gosto. O que interessa é o conceito".

Conceito este que Francisca Santos, 48 anos, da cooperativa de costureiras do bairro Sacadura Cabral, percebeu com clareza. "Arte não tem regras, não segue a lógica dos padrões da costura. Em arte podemos misturar as coisas sem combiná-las". Sua companheira de cooperativa e de workshop, Raimunda Alves Feitosa, 51, não costuma sair do trabalho, mas desta vez topou adquirir mais experiência ao receber convite do Sesc para integrar o workshop. Ela comandava a única máquina de costura da sala, que alinhavou todas as peças e tecidos que as colegas preparavam. "Estou me divertindo! Quero sair na foto! Quando a gente costura tem de combinar tudo, mas nesta obra tem um grande contraste de cores", diz.

Diversão - Boa parte das pessoas estavam ali para se divertir trabalhando enquanto esperavam a artista montar a obra confeccionada por eles. Os professores aposentados Jurandir Ferreira, 72, e Valter Kuhl Valin, 61, eram os benditos frutos entre as mulheres. "Todos nos conhecemos de outras oficinas aqui no Sesc, e aplicamos neste trabalho as técnicas que aprendemos", disse Ferreira. Valin se empolga com o artesanato brasileiro que impressionou a portuguesa. "Ela não conhecia o fuxico! Nós mostramos para ela dois exemplos e ela vibrou! Ela só nos fala o tamanho que quer a peça. Cores, tecidos, técnica, isso é a gente que escolhe", diz.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;