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Santo André: PM não feriu psicóloga, diz laudo
Christiano Carvalho
Do Diário do Grande ABC
18/03/2001 | 20:03
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Seis meses depois do trágico acontecimento continua desconhecido o autor do tiro que atingiu a cabeça da psicóloga Ana Maria de Souza Santos, 41 anos, durante bloqueio policial montado na avenida dos Estados, em Santo André, para a captura de um assaltante.

O laudo elaborado pelo IC (Instituto de Criminalística), a partir da reconstituição dos episódios e concluído semana passada, descartou a possibilidade de um dos policiais militares que participavam da operação em 8 de setembro do ano passado ter efetuado o disparo certeiro. O laudo também afasta a hipótese de que o assaltante fosse o autor do disparo, até porque ele não estava armado. Caso tivesse atirado – o que não ocorreu, de acordo com testemunhas –, a trajetória da bala teria atingido o lado onde estavam os policiais, e não o da vítima. A bala permanece alojada na cabeça da psicóloga, que, apesar de ter saído do coma, leva uma vida totalmente dependente em razão de sérias restrições de ordem neurológica.

Dirigido pelo perito criminal Hélio Rodrigues Ramacciotti, o laudo mostra com precisão as supostas posições das pessoas e veículos envolvidos no caso. Para isso foram tomados depoimentos de todos os policiais que estavam no local e de testemunhas, entre as quais um motorista de ônibus que viu a movimentação e o momento em que o Pálio dirigido pela vítima parou na sua frente, no cruzamento da avenida dos Estados com a avenida Antônio Cardoso. Ana Maria já havia sido baleada, 83 metros antes desse ponto, quando trafegava no sentido Mauá-Santo André para entrar no retorno. Ela estava acompanhada do filho de 6 anos. Foram feitos 18 desenhos até que se chegasse ao croqui final. A reportagem do Diário teve acesso ao documento, mas sua publicação não foi autorizada pela polícia.

A bala partiu do lado oposto da avenida, onde acontecia o bloqueio. Segundo o laudo, o projétil, cujo calibre não pode ser determinado, teve trajetória reta e paralela ao solo, traçando um ângulo de 45 graus em relação à pista, e acabou ricocheteando no guard-rail do sentido contrário da via. Em seguida, assumiu um ângulo de 42 graus, perfurou o vidro lateral do veículo e penetrou na cabeça de Ana Maria.

Três viaturas da PM ocupavam a avenida dos Estados, em lugares diferentes, quando passou em alta velocidade a motocicleta ocupada pelo adolescente V.R.F., 17 anos, que havia participado de uma tentativa de assalto a um banco no ABC Plaza Shopping, naquela mesma manhã de sexta-feira. Mas as duas primeiras estavam antes do cruzamento com a avenida Antônio Cardoso, e, pelo laudo, o tiro originou-se após esse ponto. Assim, 20 metros separam a área delimitada de onde teria partido o disparo e o policial mais próximo dali.

De acordo com Ramaciotti, nem ele nem o seu companheiro, da mesma viatura, poderiam ser os autores, pois, se assim fosse, conforme a localização que os dois alegaram estar, o tiro não teria força para alcançar a vítima ou o Pálio já estaria metros à frente. O resultado da reconstituição, feita com a ajuda de instrumentos que permitiram a medição eletrônica de distâncias e a determinação geométrica e dimensional de cada elemento, aponta que, entre a psicóloga e o atirador, o espaço máximo era de 80 metros em linha reta.

O laudo foi enviado ao 10º Batalhão e ao 2º DP de Santo André, que investigam o crime. Na PM, o Inquérito Policial Militar era presidido pelo então comandante da 1ª Companhia, capitão Paulo Barthasar Júnior, que foi transferido para Mauá. Agora, essa incumbência é do oficial de Justiça e Disciplina da corporação em Santo André, tenente Marcelo Davi Ferreira, que tinha até sexta-feira para relatar o inquérito. “Tudo leva a crer que houve lesão corporal culposa (sem intenção) e não tentativa de homicídio”, afirmou o tenente. Por isso, o caso deverá ser analisado pela Justiça Militar, ao contrário do que poderia ocorrer se o fato fosse configurado como tentativa de homicídio, crime de competência do Tribunal do Júri. “Temos prova da materialidade do crime, mas não temos como imputar a autoria a alguém, com base apenas no laudo”, lamentou Davi Ferreira. O delegado Mariano Rosa, titular do 2º DP, deve concluir o inquérito nesta semana. Ele preferiu não se pronunciar sobre a divulgação do documento emitido pelo IC.




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