Garoava, fazia frio e uma neblina densa cobria Sao Caetano no dia 11 de agosto de 1951, quando o legendário tenor italiano Beniamino Gigli cruzou a porta de uma antiga oficina mecânica transformada em pizzaria na rua Baraldi, 577.  "Gigli tinha se apresentado na Matriz da Sagrada Família e estava faminto", recorda Mario Bendazolli, na época um garoto que ajudava o pai, Arthur Bendazolli, a elaborar pizzas fumegantes, uma novidade alimentar ainda pouco conhecida dos brasileiros. 

  O patriarca Bendazolli era um napolitano que chegou em Sao Caetano com uma receita de pizza na cabeça e muita vontade de vencer na vida. Ele associou-se à família Garbugio no sonho de criar uma pizzaria.  O garoto Mario viu Gigli devorar vários pedaços de pizza, regados a vinho chianti. Depois do jantar, Gigli ficou tao satisfeito que subiu em uma cadeira e cantou para um público de privilegiados extasiados. Hoje, a Pizzaria Brasil continua no mesmo lugar, com o tradicional forno que tem a entrada da lenha por fora e areia na abóboda para garantir a temperatura.  

A primeira pizzaria do Grande ABC surgiu em 1936 e guarda ainda os tijolos aparentes da antiga mecânica. Sao 63 anos de história e muito trabalho para a família Bendazolli. "As férias mais longas que eu tirei duraram cinco dias", Mario faz as contas.  Aos 64 anos, ele continua pilotando o fogao. O segredo da fama é o olho do dono. "Sou em quem ponho a mao na massa e preparo o molho."

Nosso Bar - A segunda casa a fabricar pizzas no Grande ABC se transformou hoje numa pastelaria. Em 1954, um dos mais tradicionais pontos comerciais de Santo André, o Nosso Bar, passou a vender pizzas, em um espaço conhecido como Reservado.  Em volta das mesas de madeira e toalha quadriculada, sentavam-se dezenas de pessoas, disputando a pizza produzida pelo Joanim, um italiano grande e corpulento que fez escola como pizzaiolo.  

A maioria dos fregueses nas noites de sábado era proveniente da última sessao do cine Tangará. Vinha também o pessoal que saía do Salao do Moinho Sao Jorge e seguia a pé até a rua Queiroz dos Santos, 218. "O Joanim jogava a massa em uma mesa de mármore e abria bolinhas, que depois se transformariam em discos de pizza", relata Nilton Freire, 56 anos, filho do ex-proprietário do Nosso Bar, Antonio Freire, o seu Toninho. "O tempero era feito com orégano, azeite e um pouco de sal. O azeite era português, a mozarela derretia melhor."  

Jóia - Quatro anos mais tarde, surgiria a primeira pizzaria de Santo André. Waldemar Marcolin queria transformar sua lanchonete, Lanches Universo, em algo diferente. Foi assim que surgiu em 22 de novembro de 1958 a Pizzaria Jóia.  O nome foi sugestao do amigo Eloi Motta. "É um lugar pequeno e cheio de gente, por que você nao poe o nome Jóia, que é uma coisa pequena e de valor?" Aprovado o nome, a pizzaria passou a botar muita lenha no forno e assar oito tipos de pizza.  "Pizza nao tem segredo. Uma boa farinha, um bom fermento, água, sal e um pouquinho de banha. Os ingredientes têm de ser das melhores marcas e o tomate é o campeao: vermelho, concentrado", revela Marcolin, filho do casal de imigrantes italianos, Antonio e Vicenta.  

A Jóia mudou-se para o atual endereço, na praça Kennedy, em 6 de setembro de 1973. Waldemar divide hoje a direçao da casa com os sócios José Maria de Souza Coelho e Nei Artur Brandao. Daqueles oito tipos de pizza do princípio, foram somados mais 80.    

Gino - As primeiras fornadas de pizza foram tiradas ali mesmo na rua Joao Pessoa na casa da família para uma platéia seleta de amigos . Mas foi só em janeiro de 1976 que Gino Belletato resolveu ceder aos pedidos e abriu a Pizzaria do Gino, a primeira casa a servir exclusivamente pizzas em Sao Bernardo.  

A casa tinha uma novidade: a cozinha era aberta, iluminada, para todo mundo ver o que se tramava ali dentro. As crianças que se aproximavam do pizzaiolo Gino e do forno a lenha saíam presenteadas com um enroladinho de mozarela e presunto. O enroladinho fez tanto sucesso que virou um dos 63 tipos de pizza disputados hoje pela clientela.  

Gino era filho de italianos de Padova. Trabalhou como marceneiro em Sao Bernardo até ter um problema cardíaco e precisar se afastar da atividade profissional. Ficava em casa, vendo televisao. Triste. Chateado. Por recomendaçao médica, foi estimulado a buscar uma outra atividade. Mas o quê? A resposta veio da boca dos amigos, que esfregavam as maos de contentamento quando eram convidados a provar a pizza produzida pelo artesao . "Tudo que ele falava que ia fazer dava certo", conta Evani, 56 anos, a mais esfuziante dos quatro irmaos, que hoje comandam a pizzaria. "Para nós nao tem feriado nem dia santo. Mesmo assim é gratificante. A noite é uma festa", dizem os irmaos Belletato, quase que ao mesmo tempo. Tutti buona gente.