Setecidades Titulo
MST recruta 'invasores' na região
Raymundo de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
13/07/2002 | 17:02
Compartilhar notícia


Com um quartel-general no Jardim Zaíra, em Mauá, e outro no Montanhão, em São Bernardo, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) vem recrutando famílias de desempregados no Grande ABC para participar de invasões de terra na Região Metropolitana e no interior paulista. Os dois locais foram escolhidos pelas lideranças do MST por causa da grande concentração de pessoas carentes. Dentro da nova estratégia de fortalecer esse trabalho, o movimento pretende comprar barracos para manter núcleos permanentes nessas áreas. Zaíra e Montanhão estão entre as regiões mais pobres do Grande ABC e, juntas, somam cerca de 80 mil pessoas (70 mil no Zaíra e 10 mil no Montanhão).

O núcleo do MST no Montanhão foi instalado há seis meses e o do Zaíra, há três. Das duas regiões já saíram 50 famílias (15 do Zaíra e 35 do Montanhão) que resolveram trocar os barracos de madeirite ou blocos no morro pelas barracas de lona plástica dos acampamentos de sem-terra.

Além dos núcleos no Grande ABC, o MST mantém pelo menos mais oito núcleos na Região Metropolitana. A estrutura urbana dos sem-terra na capital paulista conta com uma coordenação estadual que funciona em uma casa no Brás, e lideranças do movimento estão infiltradas na zona Leste, em São Lourenço da Serra, em Guarulhos e em Franco da Rocha, onde estão acampadas cerca de 350 famílias que trocaram suas casas na periferia da Região Metropolitana pelo único acampamento do MST na Grande São Paulo.

Segundo Marcelo Reinaldo da Silva, coordenador do MST no Grande ABC, a atuação do movimento na região começou em 1994 e passou a ser mais intensa em 1998. Segundo ele, em 1998 o MST começou a cadastrar famílias de desempregados na região para participar de invasões e ocupações do movimento. O coordenador afirma que em 1999 saíram do Grande ABC para participar de invasões de sem-terra cerca de 150 famílias. “Eram famílias de pessoas carentes que moravam em Santo André, São Bernardo, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires”, disse Silva.

Do final dos anos 90 até início deste ano, o MST viu diminuir seus índices de aprovação em relação aos métodos utilizados (invasão de terras não produtivas) e a atuação dos núcleos urbanos passou a ser redefinida. Há cerca de três anos, começou uma parceria entre lideranças do MST e grupos como o Projeto Meninos e Meninas de Rua, de São Bernardo. Desde que montou os núcleos urbanos no Zaíra e no Montanhão, o trabalho de recrutamento e cadastro para participar de invasões ganhou novo fôlego.

Segundo Silva, o motivo da parceria é conseguir adesão de famílias carentes que estão desestruturadas, onde os filhos estão na rua e os pais desempregados e desesperançados. “Nós queremos apresentar uma alternativa para essa população que não tem mais nada além da miséria e da desigualdade.”

A parceria também serviu para que adolescentes em risco de vida assistidos pelo projeto passassem a ter refúgio em acampamentos do MST. Segundo o coordenador do Projeto Meninos e Meninas de Rua, Marco Antonio da Silva, já houve casos de adolescentes que estavam jurados de morte serem encaminhados para acampamentos dos sem-terra como garantia de sobrevivência.

De acordo com o coordenador do MST na região, nos núcleos urbanos do movimento no Grande ABC são feitos contatos com associações de moradores e outras entidades que desempenham trabalhos sociais. Na última quinta-feira, Silva participou de uma reunião com jovens dos grupos Ativistas do ABC (que fazem trabalho de conscientização política), da Umes (União Municipal dos Estudantes Secundaristas) de São Bernardo e da ALS (Avançar a Luta Socialista) para discutir sobre o encontro regional de jovens que será realizado no dia 10 de agosto em São Bernardo.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;