Setecidades Titulo
Procissão náutica tem menos barcos a cada ano
Henrique Munhos
Especial para o Diário
01/02/2011 | 07:13
Compartilhar notícia
Edmilson Magalhães/DGABC


Uma comemoração que conta com a presença de milhares de devotos e muitos barcos. Essa não é mais a tônica da festa de Nossa Senhora dos Navegantes, que acontecerá domingo. Se antes a procissão náutica pela Represa Billings era bastante disputada, hoje os fiéis preferem acompanhar a pé. O desafio dos organizadores é manter a tradição, ainda que por terra firme.

Tanto Diadema quanto São Bernardo realizavam suas próprias comemorações. Apesar de o Dia de Nossa Senhora dos Navegantes ser 2 de fevereiro, nenhuma das cidades celebrava nesta data.

Em Diadema, o mês de maio era escolhido para o festejo, enquanto os pescadores de São Bernardo faziam a procissão em dezembro. Segundo o padre Odair Agostin, responsável pela volta da festa, a junção entre os dois municípios ocorre há cerca de cinco anos.

A Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, no bairro Eldorado, é o local da celebração em Diadema. Segundo os moradores, o auge da festa aconteceu no começo da década de 1970.

A comemoração chegou a fazer parte do calendário turístico do Estado. Segundo fiéis, a festa perdeu sua característica com a chegada do comércio.

"As pessoas começaram a vender para ganhar dinheiro. A gente fazia por amor, e toda a renda ia para a igreja", afirma a aposentada Leila Palestreri, 58 anos. Divergências fizeram com que a celebração fosse interrompida em 1978.

O padre Odair Agostin trouxe a procissão de volta, em 1995. "Queremos voltar com a tradição e também alertar a população para a limpeza da represa", diz.

A sujeira da Billings irrita os responsáveis pelos festejos do passado. "Antes, os barcos vinham até perto da igreja. Hoje, a distância para a margem da represa é mais de um quilômetro", protesta o devoto Helmut Muller, 71.

Em São Bernardo, a festa começou em 1944 e foi até 1957. "Os pescadores e donos de barcos se reuniam e faziam a procissão. Também tínhamos barracas de churrasco e outras comidas", conta o fiel Nelo Rosa, 64.

Com o passar do tempo, as pessoas começaram a vender os barcos e a celebração foi perdendo força. O aposentado Quirino Vizentin, 85, é o único barqueiro daquela época ainda vivo. "Carregava lenha de uma cidade a outra. Era um dos poucos. A maioria trabalhava com a pesca."

Festa enfraquece, mas a fé é inabalável 

"É muito bom saber que uma festa que fez tanto sucesso no passado não irá morrer." O pensamento de Nelo Rosa, 64 anos, é comum entre os devotos de Nossa Senhora dos Navegantes. Apesar de saber que a celebração perdeu força, apenas a lembrança já traz alegria a quem, antigamente, organizava as comemorações.

O frei Nilso Cignachi, da Paróquia São João Batista, no Riacho Grande, sabe que a pesca já não é tão comum na região. Porém, nem por isso os festejos têm de acabar. "Queremos dar destaque a uma festa popular, que foi tão tradicional nos dois municípios."

Por isso, quando a procissão chegar a São Bernardo, domingo, a emoção tomará conta dos devotos. "É uma lembrança de um tempo muito bom. Sem contar que é mais um motivo para resgatarmos a nossa fé em Nossa Senhora dos Navegantes", afirma a devota Jacira Ribeiro, 71.

Os fiéis de Diadema relembram com alegria de como eram feitos os pedidos no passado. "Acendíamos uma vela que estava dentro de um recipiente em forma de barco. Depois, fazíamos o pedido e jogávamos a vela no mar, que era levada pela represa", relata Helmut Muller, 71.

A vela não é mais acesa, mas a fé não acabou. "Faço pedidos durante todo o ano. Quase sempre sou atendida", diz Leila Palestreri, 58.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;