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Moradores de rua tomam pontos
na região central de Santo André
Renan Fonseca
Do Diário do Grande ABC
19/07/2011 | 07:44
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Ruas repletas de carros estacionados, calçadas abarrotadas de pessoas e cobertas por marquises, caixas de papelão e sacos com material para reciclagem perfilam a sarjeta, o aroma do ambiente fica por conta dos restaurantes do entorno. O cenário poderia descrever bem a região central de qualquer cidade, mas também é um atrativo para sem-teto. Pelo menos em Santo André, ruas do Centro se transformaram em moradia para essas pessoas. A situação é mais perceptível no bairro Casa Branca, região central, onde se encontra a Casa Amarela, instituição de apoio aos moradores de rua.

Quem passa pelas principais ruas da região central, como avenidas Queiroz dos Santos e Firestone, reclama que a abordagem dos mendigos é constante. Não roubam, o incômodo é pela mendicância.

Em um supermercado localizado na confluência da Queiroz dos Santos com Rua Siqueira Campos, um canto do passeio acomoda vários sem-teto. Alguns estacionam os carrinhos cheios de material reciclável. O uso de bebidas alcoólicas é comum. Inclusive, eles se ‘reabastecem' no comércio local. "Chegam com moedinhas e compram pinga ou outra bebida barata. O problema é que incomodam os clientes, que ficam com medo por causa da aparência dos mendigos", contou uma das gerentes do supermercado.

A equipe do Diário acompanhou dois moradores de rua instalados na esquina da Artur de Queiroz. Tão logo conseguiram alguns trocados, correram para o supermercado. Sem receio, entraram na loja e se dirigiram para a prateleira de bebidas. A preferência é por uma pinga vendida em uma garrafinha transparente. Os dois aguardam na fila do caixa enquanto Moleque, um vira-latas nas cores preta e marrom, espera atenciosamente na entrada do estabelecimento. Ora recebe um empurrão, um leve e rápido carinho, ora uma carreira. Mas é persistente, espera os donos saírem, usarem o banheiro que fica na parte de fora, e segue a dupla.

"A gente compra uma pinguinha para esquentar. Sei que as pessoas não gostam, mas é a vida que a gente leva há muito tempo", contou Genival Ferreira da Silva, 42 anos, 14 deles rondando ruas de São Bernardo e Santo André. "Tenho problema, sabe. Por isso não posso trabalhar. Mas logo vou começar a vender amendoins", explicou.

O amigo, Michel Rebello Loureiro, 25, perdeu a mão em um acidente. É menos falante, mas também sabe por que está nas ruas. "Nasci sem casa. Meus pais também eram sem-teto."

FILA
Dona Cecília dos Santos, 70 anos, prefere não ajudar o grupo dos pedintes. Há seis anos, ela tem um restaurante no bairro. "Eles entram, pedem esmolas para a clientela, usam o banheiro. Se der comida para um, logo começa a se formar uma fila diária para pedir prato-feito", disse, referindo-se à situação que passou no começo do empreendimento.

A Secretaria de Inclusão Social informou que existem 350 pessoas morando nas ruas da cidade, e que o Centro de Referência Especializado de Assistência Social é responsável por atender essas pessoas. Por dia, o local recebe entre 70 e 100 moradores de rua. O órgão explicou que aborda os sem-teto, porém, "ocorrem recusas e não temos como proibi-los de permanecer no local."

 

Sujeira marca áreas onde os sem-teto ficam

Lixo espalhado pelas ruas. E não são apenas papelão, papéis e plástico. Pedaços de roupas e colchões também ficam jogados ou apenas esperando o dono chegar. Os moradores de rua deixam a sujeira na porta de comércios e residências, se tornando mais um problema criticado pelos moradores e trabalhadores do Centro de Santo André. Mais distante dali, na Avenida Prestes Maia, debaixo dos dois viadutos em frente à Fundação Santo André, usuários de drogas e mendigos de passagem também deixam rastros.

Na Avenida Firestone, bairro Casa Branca, dois pequenos barracos foram construídos pelos mendigos. Em um deles, roupas e muito papelão fazem o quintal do casebre improvisado. A moradora quer distância de qualquer pessoa que se aproxime. Revoltada, ela vira as costas para a equipe do Diário e continua a lavar uma peça de roupa sob a água que cai de uma calha. "Não quero ser incomodada", disse. Um pouco mais à frente, outro barraco encostado ao muro de uma firma segue firme. Ontem, ninguém estava em casa. Lixo se acumulava na parte de fora.

Quem arca com o incômodo são os comerciantes da vizinhança. Haruo Morita, 67 anos, possui uma quitanda na avenida. Para evitar que os sem-teto sujassem a porta do estabelecimento, resolveu dar emprego a um deles. "Era conhecido como Macarrão. Ficou dois meses e sumiu. Levou dois carrinhos de compras e uma bateria da perua que uso", lamentou.

A Prefeitura informou que vai intensificar a varrição e limpeza das pavimentações do bairro Casa Branca e entorno. Disse também que abaixo do viaduto Dom Jorge Marcos de Oliveira, na Avenida Prestes Maia, a varrição é executada três vezes por semana e que vai reforçar a fiscalização. Ontem, conforme a Prefeitura, o local seria limpo.




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