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UFABC tem desafio de inserir bacharéis no mercado
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
18/09/2011 | 07:36
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Ricardo Trida/DGABC


 

Uma das grandes apostas da Universidade Federal do ABC, que há cinco anos realizava sua aula inaugural em Santo André, é o curso rápido de graduação. Em tese, isso aceleraria a entrada do aluno no mercado de trabalho. Mas, na prática, não é o que ocorre. "As empresas ainda não conhecem as habilidades de um aluno formado por nós. E a maioria dos estudantes prefere seguir carreira específica", reconhece o reitor, Helio Waldman.

O bacharelado em Ciência e Tecnologia (BC&T) - e, mais recentemente, desde 2010, o de Ciências e Humanidades (BC&H), no campus São Bernardo - são os cursos básicos obrigatórios da UFABC. O calouro tem de optar por um dos dois no processo seletivo. Após cumprir a grade básica, com duração de três anos, o estudante tem dois caminhos: contenta-se com a formação inicial e parte em busca de emprego, ou escolhe uma das 21 carreiras, entre oito engenharias, oito bacharelados e cinco licenciaturas.

Cerca de 400 alunos já se formaram bacharéis em BC&T. A universidade não tem estatísticas, mas Waldman diz que pouquíssimos optaram por se aventurar no mercado. "Somos uma universidade nova. É natural que isso aconteça. Nossa expectativa é de que, com a quebra dessa resistência inicial, nossos alunos consigam boas colocações em empresas. E isso estimule os novatos a seguir os passos de seus veteranos", disse o reitor.

A não adaptação ao modelo de ensino proposto fez com que cerca de 2.000 alunos - 25% do total de matriculados desde 2006 - abandonassem a UFABC. Nas duas primeiras turmas, a evasão chegou a 50%; hoje, está em torno de 15%, informou Waldman.

"O aluno que quer seguir carreira específica ou ser pesquisador vê no curso básico a chance de ter formação sólida e de poder escolher melhor os caminhos a seguir. O aluno que quer conseguir emprego logo não vê sentido nesse bacharelado inicial, porque o diálogo com o mercado ainda não foi construído", explicou a historiadora da Universidade de São Paulo Tatiana Carvalho.

Em abril, ela defendeu tese de mestrado sobre a UFABC. A interdisciplinaridade e sistema de cotas (50% das vagas são reservadas a alunos de escolas públicas) são, na avaliação de Tatiana, os méritos da universidade, que garantem o caráter inovador da instituição. "É uma universidade em fase de consolidação. Professores e alunos ainda estão presos ao tradional. A UFABC não pretende ser a USP. Pretende ser ela mesma. E já é referência para o País", apontou.

 

É preciso rever critérios de ingresso, diz pesquisadora

 

A má formação durante a educação básica, e a consequente falta de conhecimentos prévios, faz com que muitos alunos desistam da UFABC. "Principalmente os estudantes vindos de escolas públicas. No BC&T, conteúdos da área de Exatas são muito exigidos. O problema é bastante comum", afirmou a pesquisadora da USP.

Desde 2007, a UFABC criou sistema de tutoria, onde o aluno com dificuldades de aprendizado é acompanhado por um professor, que o orienta até que o estudante se reabilite na disciplina. "Mas, infelizmente, isso não basta. É preciso criar mecanismos mais sólidos de auxílio, como cursos intensivos", concluiu Tatiana.

Uma das saídas, apontou a historiadora, é rever os critérios de acesso e torná-lo mais difícil, sem abrir mão do sistema de cotas. Em 2010, a UFABC aboliu o vestibular e passou a selecionar candidatos exclusivamente pela nota do Exame Nacional do Ensino Médio.




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