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Glória Menezes vive uma mulher diante do imponderável
Mauro Fernando
Da Redaçao
20/09/2000 | 19:54
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Glória Menezes careca. É isso mesmo. A atriz cortou o cabelo para interpretar a professora Vivian Bearing, que descobre ter de ovário em estágio avançado, em Jornada de um Poema (Wit). A peça, dirigida por Diogo Vilela, estréia nesta sexta-feira no Teatro Faap, em Sao Paulo.

Vivian é uma bem-sucedida especialista no poeta inglês John Donne, cujos temas sao o amor e a morte. "Ela passou a vida achando que o conhecimento era tudo, mas, de repente, se vê desmascarada. O tema da peça é a vida, e nao a morte", diz Glória.

"O espetáculo mostra um ser humano diante do imponderável, de uma situaçao limite: o câncer. Mas poderia ser qualquer outra", explica. A partir do diagnóstico, a personagem promove uma transformaçao em sua vida. "Ela compreende o valor das pequenas coisas", afirma a atriz.

"Apesar de ser uma especialista em Donne, Vivian nao sentia a poesia, o que só acontece depois do diagnóstico. Entao passa a ironizar a vida que levava", completa. Wit, em inglês, significa ironia, sagacidade, inteligência.

O texto discute o próprio relacionamento humano, explicitado nas relaçoes entre Vivian, o médico e a enfermeira. "Ele prefere a pesquisa à humanidade, vê mais a doença que o ser humano. Vivian percebe nele o que ela é", diz Glória. Contrapondo-se, há a enfermeira, com quem a paciente encontra bondade e simplicidade. A atriz relaciona a essa situaçao o desenvolvimento tecnológico: "O contato humano é cada vez menor".

A autora faz com que haja no palco várias mudanças de discurso, do narrativo (no passado) para o dramático (no presente). As cenas nao ocorrem em ordem cronológica. Para Glória, "é essa carpintaria teatral (a maneira como a autora montou a estrutura dramática) diferenciada que dá dinamismo ao espetáculo".

Vilela, que debuta como diretor, concentrou seu trabalho nos atores. "Ele é meticuloso nas marcaçoes, mas tudo, inclusive a música, valoriza a fala. Na peça, o ator é o importante", confirma Glória. Nove atores compoem o elenco.

Glória encara o fato de cortar o cabelo como um desafio a mais em sua carreira de 40 anos. "Uma personagem tao fascinante nao vai aparecer de novo", diz. Glória estava afastada do teatro há quatro anos, desde que atuou com Tarcísio Meira em E Continua Tudo Bem, de Bernard Slade.

O texto, da estreante Margaret Edson, recebeu o prêmio Pulitzer, um dos mais prestigiados dos Estados Unidos, em 1998. Glória foi indicada este ano para o prêmio Shell pela sua atuaçao na temporada carioca - a peça ficou cinco meses em cartaz no Rio.




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