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Segurança fica em risco
no Parque Celso Daniel
Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
10/09/2011 | 07:30
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As 23 câmeras de vigilância do Parque Prefeito Celso Daniel, no bairro Jardim, em Santo André, instaladas para ajudar a garantir a segurança dos frequentadores, estão sem funcionar há cerca de três anos. Mesmo assim, os equipamentos continuam ali, muitos já transformados em sucata e enferrujados, apenas como enfeites entre as árvores da área verde de cerca de 70 mil metros quadrados.

Um dos mais frequentados do Grande ABC, até o fim de 2010 o parque era o único a abrir durante as 24 horas do dia, mas foi justamente por problemas na segurança que a Prefeitura decidiu limitar o funcionamento até 22h.

Além da falta do sistema de videomonitoramento, o patrulhamento da Guarda Civil Municipal está mais enxuto. Em 2008, eram 25 guardas nas rondas e quatro seguranças patrimoniais. Hoje, a Prefeitura informou que são 22 fixos, divididos em dois plantões de 12 horas - "seis diurno e cinco noturno". Porém, guardas disseram que são "quatro à noite".

Questionada, a administração não informou ontem se as câmeras estão em funcionamento nem se há projetos na área de segurança para o parque. Apontou que, em média, nos fins de semana, são de 800 a 1.500 visitantes. Na semana, caem para 500.

A equipe do Diário esteve no local duas vezes - uma ontem à tarde. Servidores públicos, que pediram para não ser identificados, confirmaram o não funcionamento do equipamento eletrônico. Outro funcionário, que trabalha há dois anos na área, garantiu nunca ter visto as câmeras em operação.

Em 1999, as câmeras foram instaladas quando o parque passou a funcionar 24 horas por dia - desde o fim do ano passado abre as portas às 5h e fecha às 22h. Mas, efetivamente, o equipamento nunca teve funcionamento contínuo. Reportagens do Diário, entre 2003 e 2007, apontaram série de problemas e descasos com a segurança da população no espaço verde, inclusive cenário de roubos, furtos, pedofilia, estupro e até morte por afogamento (veja reportagem nesta página).

A central de monitoramento das câmeras funcionava dentro da sala da GCM, localizada na entrada principal do Parque Celso Daniel - pela Avenida Dom Pedro II. Hoje, abriga apenas os guardas. "Nem sabia que as câmeras não funcionavam", afirmou o professor Regis Nascimento, 44 anos, morador na Vila Floresta e frequentador do parque pela manhã.

 

Problemas são antigos e viraram alvo de inquérito

Câmeras de vigilância inoperantes, efetivo reduzido de guardas municipais, roubos, furtos, drogas e sexo sempre pontuaram os problemas de segurança do tradicional Parque Prefeito Celso Daniel, ex-Duque de Caxias, em Santo André.

Em abril de 2006, a Polícia Civil apontara em 100 páginas de inquérito que o Parque Celso Daniel era inseguro e não tinha estrutura para funcionar 24 horas. Laudo do Instituto de Criminalística registrou, na época, que a iluminação da área verde, de cerca de 70 mil metros quadrados, era "meramente decorativa e paisagística". As câmeras de monitoramento não eram eficazes: não giravam ou gravavam e eram praticamente inúteis durante a noite por causa da escuridão.

O inquérito foi baseado a partir da morte de jovem de 22 anos, em janeiro de 2006, afogado no lago, durante mergulho noturno. O afogamento comprovou o fracasso do sistema de segurança. Nem câmeras ou guardas municipais bastaram para impedir que o rapaz se afogasse no lago.

Nos mesmos mês e ano, o parque seria cenário de outro crime. Um professor de idiomas de 41 anos foi encontrado fazendo sexo com adolescente de 16 no banheiro masculino. Ele teria induzido o estudante a praticar o ato.

Em junho de 2004, um rapaz de 18 anos, estuprador confesso, foi preso. Ele agia no parque e nas imediações - uma vítima foi atacada dentro da área verde e outras duas na Avenida Industrial, próxima à outra entrada.

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) ABC, com sede em São Bernardo, requisitou ao 4° Distrito Policial de Santo André, em janeiro de 2010, os boletins de ocorrência de crimes cometidos dentro do Parque Celso Daniel em 2009. O motivo, no entanto, não foi revelado ontem pelos promotores.

 

Drogas e sexo estão entre as queixas

E os problemas não param apenas na falta de segurança no Parque Prefeito Celso Daniel. Além das pessoas que simplesmente caminham ou correm pelas pistas diariamente, a área verde, que é um espaço aberto e público, também tem entre os frequentadores usuários de drogas, moradores em situação de rua, travestis, prostitutas e homossexuais.

A equipe do Diário ouviu cinco frequentadores que diariamente vão ao parque. Todos afirmaram que o maior problema é a falta de segurança, principalmente depois das 18h. Eles comentaram que deixaram de usar o banheiro por conta do assédio de homosexuais.

E por falar em banheiros, todos do parque estão totalmente pichados; alguns sem torneiras nas pias e sem papel higiênico.

Há ainda consumo de álcool e outras drogas pelos cantos do parque, segundo os relatos.

Outra queixa é que os guardas municipais não circulam pelo local para o patrulhamento. "Eles ficam enfiados na sala deles", disse uma mulher, 31 anos, de Santo André, que pediu para não ser identificada.

Nas duas vezes em que a equipe do Diário esteve no parque, no feriado e ontem, por cerca de uma hora e 30 em cada dia, não encontrou nenhum guarda em ronda a pé.

A falta de manutenção, como brinquedos isolados para uso e falta de cerca no campo de futebol, também foi criticada. A Prefeitura informou que os parques da cidade possuem rondas setoriais e a pé. E que as ocorrências verificadas, como uso de drogas ou de prática de atos obscenos, são conduzidas à polícia. A Secretaria de Obras e Serviços Públicos fará vistoria no parque para identificar os problemas na manutenção do local.

Nenhuma cidade da região possui câmeras nos parques.




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