Setecidades Titulo
Vl.Luzita: movimentação é semelhante a do Centro
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
14/02/2011 | 07:47
Compartilhar notícia
Andréa Iseki/DGABC


Movimento intenso de pessoas e automóveis, vendedores ambulantes disputando espaço e muito barulho. Apesar de estas características serem comuns, muitas vezes, apenas nos centros das cidades, é assim também o dia a dia da Vila Luzita, em Santo André.

O acesso ao bairro é feito principalmente pelas avenidas Dom Pedro I e Capitão Mário Toledo de Camargo, além da Avenida São Bernardo do Campo, que dá acesso ao município de mesmo nome. Nelas, os moradores têm à disposição agências bancárias, supermercados e sacolões, além de diversos equipamentos públicos, com destaque ao recém inaugurado Poupatempo da Saúde.

A dona de casa Luciana Barbosa da Silva, 36 anos, reconhece a semelhança com o Centro. "Aqui é sempre muito agitado, parece a Rua Senador Fláquer", compara a moradora, que vive no bairro há 13 anos.

No entanto, os moradores mais antigos contam que, no passado, a Vila Luzita era sinônimo de tranquilidade e proximidade com a natureza. "Quando eu era criança aqui tinha muito verde, muitos campos de futebol. Nosso passatempo era pescar no rio por onde hoje passa a avenida (Capitão Mário Toledo de Camargo)", lembra o aposentado Fiori Querense, 77, que mora há sete décadas no local.

O borracheiro José Vicente da Silva, 59, também mora na vizinhança desde pequeno. "Diversão era correr atrás de cavalo, pegar frutas nas árvores e nadar no rio. Hoje a criançada não sai de casa. É só videogame", compara. Ele conta que a violência não era um fator que amedrontava a população. "Só tinha ladrão de galinha. Briga era só no braço, o pessoal trocava uns tapas e depois estava tudo resolvido", afirma o borracheiro.

A criminalidade, aliás, é um dos pontos negativos do bairro. Moradores se queixam de assaltos e furtos. A dona de casa Olinda Marciola Teles, 61, afirma que já teve a casa invadida duas vezes. "Em uma delas, entraram na garagem, roubaram uma bicicleta e quebraram o vidro do carro. Na outra, com a casa em reforma, vieram roubar esquadrias de metal." Os fatos fizeram com que a família optasse por subir mais muros em volta do imóvel.

O comandante da Polícia Militar na região, coronel José Luís Navarro, diz que irá aumentar as operações de ostensividade no bairro. "É importante que a população denuncie, pois assim saberemos exatamente onde atuar", acrescenta.

Outro problema constado pelo Diário e reiterado pela vizinhança é a grande quantidade de lixo espalhado pelo bairro. O Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) informa que irá intensificar a limpeza nas ruas.

Adega é uma das identidades da região

Há 22 anos, os apreciadores da culinária nordestina têm um motivo especial para frequentar a Vila Luzita. Inicialmente localizada na garagem de uma casa, a Adega do Jabá hoje tem dois andares e é um dos cartões de visita do bairro.

O proprietário é o cearense Antônio Barroso Loiola, 57, que diz não ter vontade de deixar a região. "Posso até abrir uma filial em outro local. Mas da Vila Luzita eu não saio."

Seu Antônio, como é conhecido, reconhece a fama do estabelecimento. "A maioria dos meus clientes não são da Vila Luzita. Vem gente de São Paulo, Mauá, São Bernardo", destaca.

Ele considera que o bairro se identifica com seu restaurante. "Muitos se referem à adega quando dizem que moram aqui." Para ele, um dos motivos do sucesso é a permanência no local.

"Estou há mais de 20 anos aqui, o povo já conhece. Se eu tivesse saído, teria de começar tudo de novo."

Hoje, seu Antônio expandiu os negócios, mas continua inserido na Vila Luzita. Em frente ao restaurante funciona a fábrica de jabá, que atende a demanda da adega e também revende a carne no atacado. Segundo o proprietário, já foram vendidas até 30 toneladas do alimento em apenas um mês. Segundo ele, o objetivo da fábrica é reduzir custos e garantir a qualidade.

Bairro marca expansão urbana da cidade

Vila Luzita foi loteada por Adelino Augusto de Miranda Aviz na década de 1930. Expandia-se o Centro tradicional de Santo André, formado no século 19 em torno da estação ferroviária. Vila Luzita foi delineada em 40 alqueires de terra, com lotes negociados pela Casa Bancária Predial e Fiadora A. E. Carvalho & Cia. O ano referencial do loteamento é 1938.

A propaganda da época mostra que Vila Luzita se propunha a ser um loteamento modelo em Santo André, em espaço isolado e pitoresco da cidade, que só podia ser alcançado pela Estrada do Guarará, posteriormente batizada com o nome de Avenida Dom Pedro I. O loteamento mais próximo, à época, era a Vila Pires, aberta na década de 1920.

Anúncio de 1938, publicado pela Revista do Município, procura chamar a atenção dos interessados na compra de terrenos comentando que Vila Luzita era a futurosa cidade nova que se levantava nas proximidades de Santo André. O mote era sempre a importância de se ter uma casa própria num município industrial.

Do mesmo anúncio tem-se um apanhado do loteamento ainda rural: terrenos próprios para chácaras e pequenas fábricas, com muitas nascentes, vários córregos, diversos lagos, palmeiras e terras excelentes à plantação. Vivia-se um momento em que o morador de Santos buscava Santo André e Grande ABC atraído pela excelência do clima. Caso de Vila Luzita, próxima à Mata Atlântica.

A qualidade do clima trouxe à Vila Luzita um de seus primeiros grandes empreendimentos, a Clínica Borda do Campo, iniciativa do capitalista Alexandre Zirlis.

Entre as primeiras famílias de Vila Luzita estão as Martini e Di Pacce, adquirentes de lotes no nascedouro do bairro. Antonio Martini nos dizia, em 1976, que no seu nascedouro o loteamento possuía um lago com pequena ilha no centro. As primeiras ruas eram arborizadas com coqueiros. Havia flores.

Geograficamente, Vila Luzita foi traçada na margem esquerda do Córrego Guarará, no eixo da Avenida 1 - hoje denominada São Bernardo do Campo. Ali foram vendidos os primeiros lotes. Mas os planos eram os de expansão num futuro breve.

O chamado Largo de Vila Luzita, que receberia o comércio original e a primeira escola, se constituía em área de reserva da A. E. Carvalho, que ali instalou seu escritório de corretagem. A urbanização do largo ocorre a partir de 1950.

Esta nova área loteada era chamada de Mato da Vila Luzita. Um de seus pontos referenciais é a igreja católica do bairro, que forma a Paróquia Nossa Senhora do Rosário. (Ademir Medici)




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;