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Roberto Alvim radicaliza proposta cênica em Pinokio
17/03/2011 | 07:46
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Inventar o futuro. Parece ser essa a ambição a nortear a criação do diretor Roberto Alvim. A concepção de uma cena que dê conta do contemporâneo não apenas em seus procedimentos e formas. Que não se restrinja às propaladas desconstruções ou sistemas pós-dramáticos.

Em "Pinokio, novo espetáculo da Cia. Club Noir, que estreia hoje, Alvim lança-se em um território que pretende exceder o drama, extrapolar o teatro. Sem meneios, declara a intenção de nos apresentar um instantâneo do que seria um novo homem, uma humanidade para além do humano.

Debruçado sobre a fábula clássica de Carlo Collodi, visita a história do boneco transformado em menino para trilhar um percurso às avessas. Neste "Pinokio", são os homens que passam pela experiência de tornar-se outra coisa, uma espécie de máquina surgida da sobreposição de pedaços de corpos e de objetos.

Na contramão de qualquer apego a uma suposta essência humana, o diretor demonstra-se devoto de uma ideia de identidade que não precisaria ser descoberta, mas forjada. "Existe uma recusa a essa máxima de ‘conhece-te a ti mesmo'. A luta é por encontrar não dentro de nós, mas fora de nós, em outras paisagens, a ideia de humanidade."

Novas maneiras de existir e habitar o mundo demandam também uma outra linguagem. Para erigir o seu drama não dramático, Alvim dispõe de uma língua reinventada. Eivada de neologismos e construções sintáticas inusuais, a peça transporta o espectador a um lugar desconfortável, onde não é possível seguir a semântica do que está sendo dito.

A ambição, que resvala na proposta de precursores como o dramaturgo francês Valère Novarina, é a de criação de uma estrutura em que nada precisa ser necessariamente compreendido. Entra em derrocada a noção de entendimento, desponta a de experimentação.

Se o intuito que atravessa "Pinokio" é atingir o público em seus sentidos, isso não o torna menos cerebral. Ainda que Alvim não alardeie suas referências, é difícil não vislumbrar na sua ficção rastros e desdobramentos das proposições de filósofos, como Gilles Deleuze.

Pinokio - Teatro. No Club Noir - Rua Augusta, 331. Tel.: 3255-8448. Quinta a sáb., às 21h; dom., às 20h. Ingr.: R$ 10. Até 15 de maio.




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