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Livro sobre aventura dos Beatles chega ao Brasil
Do Diário do Grande ABC
14/04/2000 | 15:58
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Nos anos 60, o dândi e aspirante a escritor Barry Miles nao fazia muita coisa na vida além de editar um jornalzinho underground chamado "International Times". Mas tinha amigos muito especiais, como Peter Asher, John Dunbar, John Lennon, Ringo Starr, George Harrison, Paul McCartney, Allen Ginsberg e William Burroughs. Parece que estava gestando o futuro, já que se tornou célebre em nossos dias, 30 anos depois, justamente por ter escrito a história - em biografias consentidas - dos três últimos personagens da lista de amigos acima.

A editora brasileira DBA está lançando agora no Brasil um dos grandes sucessos comerciais de Miles, o livro "Paul McCartney - Many Years from Now", no qual revela a versao de Paul sobre o que foi o furacao Beatles. O livro já tem três anos de seu lançamento na Inglaterra e nao foi exatamente um escândalo naquela época - revelou um ou outro hábito sobre consumo de drogas entre os Fab Four, Paul conta de um fracasso sexual com uma stripper em Hamburgo quando era muito jovem e aborda corajosamente as grandes intrigas que levaram à dissoluçao da banda.

"Eu gostaria de dizer que é apenas como me lembro disso caso magoe alguém ou a família de qualquer pessoa que se recorde diferentemente", adverte Paul, antes mesmo de começar seus depoimentos. "Para que nao pensem que estou tentando realizar meu próprio tipo de revisionismo, eu gostaria de deixar registrado o fato de que John era ótimo, de que ele era absolutamente maravilhoso e eu o adorava", diz o ex-Beatle.

O livro tem um posfácio que atualiza informaçoes sobre o músico, incluindo até a carta que escreveu para distribuir à imprensa quando Linda McCartney morreu, em 17 de abril de 1998, vítima de câncer de mama. "Tive o privilégio de amá-la durante 30 anos e, nesse tempo todo, com exceçao de uma ausência forçada nunca passamos uma noite separados", ele conta. "Quando nos perguntavam porquê, dizíamos: e por que nao?"

Esse estilo caseiro de McCartney nem sempre foi assim. Antes de Linda, houve uma infinidade de farras. Ele lembra até mesmo que teve problemas com uma prostituta alema em Hamburgo, onde os Beatles passaram quase um ano tocando, quando eram ilustres desconhecidos. "Era certamente alguma espécie de profissional e lembro que fiquei muito intimidado na cama com ela", diz. "Passei a noite toda sem fazer grande coisa, mas tentando me excitar para aquilo", confessa.

Ele lembra que John Lennon, mesmo quando os Beatles já se tinham separado, continuava dando entrevistas como se nada tivesse acontecido. Em entrevista à revista "Rolling Stone", em janeiro de 1970, ele dizia que estavam para gravar um novo disco. "Toda vez ainda é a mesma batalha e a mesma alegria."

Divergências - Segundo Barry Miles, um dos grandes motivos de escrever o livro foi para responder a numerosas insinuaçoes de que os grandes clássicos dos Beatles, quase todos eles, foram escritos por John Lennon e nao por McCartney ou em parceria. Essas teses cresceram com o assassinato do cantor. "Lennon virou Sao Lennon, um papel que iria diverti-lo tanto quanto horrorizá-lo", conta Miles.

O escritor diz que, durante a elaboraçao do livro, eles avaliaram e refizeram a circunstância de criaçao de todas as composiçoes de Lennon e McCartney e chegaram à conclusao - baseados até mesmo em entrevistas de Lennon - que só havia desarcordo em apenas duas situaçoes. Lennon reivindicara mais de 70% da letra de "Eleanor Rigby", coisa com a qual Paul nao concorda. E Paul lembrava de ter composto a música "In My Life", com o que Lennon nao concordava.

Paul conta toda a história da composiçao de "Eleanor Rigby", a faixa que abre o disco "Revolver", gravado em 1966. Ele diz que a música é dele e Lennon só ajudou com algumas palavras. Compôs num piano de armário, num porao de uma casa em Wimpole Street. Diziam que ele retirara o nome Eleanor de uma lápide no cemitério de Woolton, mas Paul diz que era uma homenagem a Eleanor Bron, que fez uma ponta no filme "Help!" e teve um caso com John Lennon. O Padre McKenzie que celebra um casamento, na letra, era para ser Padre McCartney, mas ele achou excessiva a citaçao.

Paul também analisa um pouco a personalidade dos seus parceiros. "Se minha educaçao me transformou num sujeito cara-de-bebê razoavelmente instável, a de John foi o oposto, um sujeito muito inseguro, de nariz aquilino e rosto anguloso e irado", diz Paul. "Mas isso é fácil de explicar: o pai foi embora quando John tinha cinco anos e só tornou a vê-lo quando já era famoso". Um jornalista achou o pai de Lennon lavando pratos na Bear Inn de Esher, lembra.

Ele conta também que o envolvimento de George Harrison com a música e a filosofia oriental começou durante a gravaçao do filme "Help!" Ele aprendeu um pouco de cítara com três músicos indianos convidados para participar de uma versao de "A Hard Day's Night". Em outubro de 1965, já apareceria tocando cítara em Norwegian Wood, do álbum "Rubber Soul". Barry Miles bem que tenta ser o mais isento possível, mas o fato de ter dado o livro para McCartney aprovar ou nao mostra que nem tudo é assim tao imparcial.

Mas ele aborda questoes até meio proibidas entre os Beatles, como o fato de o assassino Charles Manson ter culpado o LSD e o "Album Branco" dos Beatles pela série de assassinatos que sua "família" praticou. Manson era obcecado pelos Beatles e achava que estes lhe mandavam mensagens. Mas isso é besteira: até o vocalista do A-ha, Morten Hackert, já foi acusado de mandar ordens subliminares em músicas para psicopatas.

No julgamento de Manson, conta Miles, o promotor Vincent Bugliosi, de Los Angeles, disse que o acusou dos assassinatos e ele retrucou: "Nao, foram os Beatles, a música que eles espalham. Eles estao falando de guerra. Essa garotada ouve a música e capta a mensagem. É subliminar", afirmou o malucao. Ele conta também que a rivalidade entre Beatles e Stones era "fajuta", forjada por jornalistas do ramo musical do mundo inteiro. "O verdadeiro adversário sempre foi Brian Wilson, o compositor e arranjador dos Beach Boys", conta Miles.




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