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Casa Beth Lobo faz 10 anos
Valéria Cabrera
Do Diário do Grande ABC
12/05/2001 | 18:09
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A Casa Beth Lobo, em Diadema, completou dez anos de existência na última sexta-feira com a marca de 6 mil mulheres atendidas. São vítimas de violência doméstica (praticada por conhecidos, em geral maridos ou namorados), que procuraram a casa para denunciar a agressão e para ter ajuda psicológica e jurídica.

A Casa Beth Lobo foi inaugurada no dia 11 de maio de 1991, depois da criação da Coordenadoria Especial da Mulher pela Lei Orgânica do município de 1990. O espaço funciona em dois eixos, segundo a coordenadora da Casa Beth Lobo e chefe da Divisão dos Direitos da Mulher de Diadema, Analdeci Moreira dos Santos. Ela atende mulheres que sofreram agressão e orienta para que procurem a Delegacia da Mulher – e façam queixa – e oferece ajuda psicológica para que a vítima possa voltar a ter uma vida normal.

Para isso, a Casa conta com uma psicóloga, uma assistente social e uma advogada. De acordo com Analdeci, a assistência psicológica é o principal trabalho desenvolvido no espaço. Ela explicou que as mulheres que desejam a ajuda são encaminhadas para dois grupos de trabalho.

Primeiro, elas vão para o grupo de reflexão, que ajuda mulheres a entender o que está acontecendo com ela, que a violência doméstica não é apenas física e que isso também acontece com outras pessoas. Depois, elas são encaminhadas para o grupo operativo, onde poderão aprender a fazer artesanato e também praticar ioga.

Nas aulas de artesanato, além de propiciar o contato entre pessoas que têm o mesmo problema, a mulher pode descobrir uma nova fonte de renda. “Muitas vezes, ela não denuncia o marido agressor porque não tem como sustentar a casa e os filhos. As que possuem fonte de renda saem com mais facilidade da situação de violência”, afirmou Analdeci.

De acordo com ela, o número de mulheres que procuram a Casa Beth Lobo vem crescendo nos últimos anos. No início, uma média de dez mulheres por dia procuravam assistência. Hoje, esse número subiu para 15. “Não acredito que só a violência esteja crescendo. Hoje, as mulheres têm mais facilidade em denunciar a agressão e também mais coragem.” Analdeci disse acreditar que a abertura de uma Delegacia da Mulher no município, em fevereiro do ano passado, facilitou o procedimento.

A dona de casa Maria Aparecida Siqueira, 42 anos, de Diadema, também acredita nisso. Na década de 80, ela viveu um drama quando tentou denunciar que era agredida por seu marido, que bebia e a espancava. Nessa época, não havia delegacias especializadas em atender as mulheres nem instituições, como a Casa Beth Lobo, para dar assistência. “Demorou quase nove anos para criar coragem de ir até uma delegacia e, quando fui, me disseram que não podiam fazer nada, que o agressor era meu marido e que tinha direitos.”

Ela conseguiu resolver a situação três anos depois da primeira tentativa. “Se o espaço (Casa Beth Lobo) existisse quando vivia o problema, tenho certeza que seria muito mais fácil resolvê-lo, e que teria tido coragem de fazer a denúncia antes.”

Um problema parecido de violência doméstica, mas extremamente mais grave, viveu a funcionária pública municipal Iraci Ferreira Simão, 42 anos, também moradora de Diadema. “Acho que foi sorte estar viva hoje”, disse. Ela contou que, durante os 18 anos que ficou casada – desde os 14 –, foi agredida por seu marido. “Ele me ameaçava com revólver e chegou a jogar a panela de pressão na minha cabeça”, contou.

Iraci disse que chegou a procurar a delegacia para fazer boletim de ocorrência. Na época ainda não existia a Casa Beth Lobo nem Delegacias da Mulher. “Os policiais (homens) faziam piadinhas e até passavam cantadas. Fui embora muitas vezes sem conseguir denunciar.” A funcionária pública conseguiu resolver seu problema depois que a Casa Beth Lobo foi inaugurada. Com ajuda de seus profissionais.




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