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Adoção tardia faz crianças mais felizes
Aline Mazzo e Isis Mastromano Correia
Especial para o Diário
23/12/2006 | 20:01
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Pesquisa realizada pela Universidade Federal do Paraná comprova que as crianças adotadas mais velhas têm auto-estima alta e são mais queridas pelos pais adotivos. O trabalho feito pela psicóloga Lidia Weber derruba o mito de que a adoção tardia, com crianças a partir de 2 anos, traga mais problemas de adaptação.

A pesquisadora acompanhou 329 filhos adotivos, com idades entre 8 e 56 anos. Segundo a psicóloga, todos apresentaram elevado índice de auto-estima. Isso deve-se ao processo transformador que a adoção tem. “Crianças mais velhas sabem como é ser rejeitado. Quando recebem amor e são acolhidos por uma família, todo esse sentimento vai embora e eles se sentem muito queri<TB>dos”, relata.

A pesquisa também comparou estilos de pais de filhos adotados e biológicos. A maior parte dos pais adotivos (66%) foi classificado como participativo. No caso dos biológicos, a maioria (39,6%) é enquadrada como negligente, principalmente no campo afetivo. “Isso mostra que quando alguém adota, realmente está com muita vontade de criar uma criança, ao contrário de uma filiação biológica, que pode ser não desejada”.

Para Lidia, esses dados são importantes para mudar a concepção de adoção que se tem no país. “A maioria ainda procura meninas brancas, recém-nascidas e de até um ano. É preciso entender que adotar é receber e não escolher, assim como não se escolhe um filho biológico”, enfatiza a psicóloga.

Crianças mais velhas e negras costumam ser adotadas por estrangeiros. “É uma questão cultural. Eles vêm aqui buscar o filho. O primeiro abraço com a criança parece um reencontro. É como se tivessem perdido esse filho em algum lugar”, fala o juiz da Vara da Infância e Juventude de São Bernardo, Luiz Carlos Ditommaso.

No Brasil, a adoção teve avanços nos últimos anos, mas ainda é tratada com bastante descaso e desinformação. Não existem dados sobre quantas crianças estão disponíveis para a adoção e nem quantas estão abrigadas. “Poderíamos ter um banco de dados nacional, com informações de quem quer adotar e das crianças disponíveis”, sugere Lidia.

Além de informatizar o sistema de adoção, seria imprenscindível mudar a cultura equivocada que se tem da adoção. Uma boa opção seria abordar o tema no momento em que se fala sobre reprodução humana na escola, mostrando-a como uma outra forma de filiação. “A criança tem o direito de ser escolhida. Deixar que elas envelheçam em abrigos é algo perverso”, conclui Lidia.

Os interessados em adotar devem procurar a Vara da Infância e Juventude da cidade em que moram para fazer um cadastro com informações da família e o perfil do jovem a ser adotado.



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