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Trabalho de crianças persiste na região
Camila Brunelli
Do Diário do Grande ABC
23/05/2011 | 07:29
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Apesar de as autoridades responsáveis desconhecerem a exploração de trabalho infantil pelo setor imobiliário, ontem a equipe do Diário flagrou novamente crianças cuidando de placas de diversos empreendimentos.
Se assistentes sociais, promotores ou conselheiros tutelares circulassem ontem pelas pelas avenidas D.Pedro II e Pereira Barreto e pela Rua Figueiras, em Santo André, comprovariam facilmente a irregularidade.
Após denúncia do Diário, locais onde na semana passada meninos foram flagrados carregando ou vigiando placas - como Avenida Giovanni Battista Pirelli, em Santo André, Centro de Diadema, a avenidas Portugal e Papa João XXIII, em Mauá e a Rua dos Vianas, em São Bernardo - ontem estavam vazios.
Em outros pontos, no entanto, as empresas contrataram maiores de idade, até mesmo idosos, para o trabalho. O pagamento varia de R$ 25 a 35, por oito horas de trabalho.
Em São Bernardo, apenas um menor de 16 anos foi flagrado em divulgação de condomínio a ser construído na Avenida Pereira Barreto. O menino de 14 anos contou que usaria os R$ 28 recebidos para comprar roupas. Ele disse que os pais sabem do trabalho aos fins de semana, "Eles preferem que eu esteja trabalhando do que sem fazer nada", relatou.
Ontem, a maior concentração de menores foi encontrada em Santo André. Eles estavam uniformizados: calça e camiseta verdes com o nome da empresa contratante, a Mercado Ativo. E disseram que foram instruídos a mentir a idade e não dar informações.
Um deles, um garoto de 13 anos, informou ganhar R$ 70 por fim de semana; o dinheiro é dado para a mãe, para ajudar nas despesas da casa. Na Avenida D. Pedro II, já perto de São Caetano, um grupo de meninos vestidos de verde cuidava de uma placa. Um deles, com aparentemente 13 anos, ficou afônico ao ser questionado sobre a sua idade. Mais uma vez, disseram que não podiam falar com a reportagem.
Enquanto a equipe do Diário tentava conversar com os meninos, um homem em uma moto se aproximou e cochichou algo para as crianças. Marcelo Fernandes se apresentou como funcionário da Mercado Ativo e perguntou se a reportagem teria como provar que as crianças tinham menos de 16 anos. A palavra dos pequenos, para ele, não era suficiente. "Eu tenho 18", disse, irônico.
Em 2009, o Ministério Público de Santo André instaurou inquérito civil para apurar a exploração de trabalho infantil pelo setor imobiliário. No entanto, informou não ter encontrado provas sobre a prática.

Após denúncia, empresas estão em alerta, dizem funcionários

Um dos cuidadores de placa da Avenida Pereira Barreto, em Santo André, aparentava ter menos de 18, mas dizia ter 34. Graziela de Lima, tomava conta de anúncio que estava amarrado em um poste. "A empresa me pediu RG. Disseram que não podem mais contratar menores, porque está dando muito problema."
Na D.Pedro II, um senhor de 50 anos disse que os supervisores haviam o alertado que a equipe do Diário "passaria para tirar foto". O funcionário também disse que crianças não trabalhavam mais porque a empresa contratante teria sido multada em R$ 600.

DENÚNCIA
Há uma semana, o Diário flagrou pela primeira vez crianças trabalhando nas ruas como guardadores de placas de empreendimentos imobiliários. A prática, no entanto, vai na contramão do que diz o artigo 60 do Estatuto da Criança e do Adolescente: "É proibido qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos". Não foi o que a reportagem constatou.
Após a publicação da reportagem, na quarta-feira, o Ministério Público de São Bernardo resolveu instaurar inquérito para investigar a prática. O Conselho Tutelar disse desconhecer o caso.




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