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Crianças estao na escola sem aprender nada
Elaine Granconato
Da Redaçao
04/11/2000 | 18:09
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Com o fim da repetência, escolas estaduais públicas, inclusive do Grande ABC, estao aprovando alunos que mal sabem ler e escrever e, praticamente, diplomando semi ou analfabetos no ensino fundamental (1ª a 4ª e 5ª a 8ª séries). Nos bastidores, professores confirmam o que acontece nas salas de aula. Os pais, por sua vez, mostram-se amedrontados com o fato de seus filhos estarem passando de ano carregando deficiências na aprendizagem.

Crianças e adolescentes afirmaram estar desestimulados com o ensino. A maioria diz que, ao final do ano letivo (com exceçao da quarta ou oitava séries, e se tiverem freqüência abaixo de 75%), irao passar, independentemente de saber ou nao uma simples operaçao matemática. "É bom nao repetir mais, porém a gente nao aprende nada", disse R.F.C., 16 anos, aluno da 5ª série de uma escola estadual de Sao Bernardo, que cabulava aula na última segunda-feira à tarde.

"Uma das professoras da minha filha disse que a sala toda vai passar sem saber nada", confirmou uma mae, que preferiu nao se identificar, de uma escola localizada na Vila Sao Joao, em Mauá. Ao sair da aula, a garota, aluna da 6ª série, que apresenta sérias dificuldades com matemática, nao sabia dizer o nome da escola onde estuda. Outra reclamaçao das maes é que, até agora, a direçao só promoveu uma reuniao de pais. "Eu nem sei as notas do meu filho", confirmou outra mae.

Na mesma escola, Paulo Henrique, 18 anos, aguardava a irma que estuda na 5ª série. "Quando se paga, o nível do ensino é melhor. Sei disso porque já fui aluno do Estado", acredita. Preocupado, ele diz que o sistema da nao retençao está provocando desinteresse nos estudantes.

Em Sao Caetano, grupo de maes conversava na última quarta-feira em frente a uma escola estadual no bairro Barcelona. "As crianças perderam o interesse porque sabem que vao passar", disse uma delas. "Eu percebo que minha filha está fraca. Sei lá... Eu nao concordo com essa história de nao mais repetir", desabafou. "Agora vai se empurrando com a barriga", comentou outra mae.

A estudante V.O., 12 anos, aluna da 5ª série de uma escola no bairro Santa Maria, na mesma cidade, disse estar preocupada com o futuro desses alunos. "A conversa em sala de aula e o número de crianças que matam aula aumentaram", disse.

Em Rio Grande da Serra, uma das cidades mais carentes da regiao, professores e diretores, que preferiram nao se identificar, confirmaram que possuem "alunos semi-analfabetos" cursando os últimos anos do ensino médio. Sao jovens de 16, 17 ou 18 anos que nao conseguem ler ou escrever corretamente. "Alguns nao sabem nem mesmo preencher uma simples ficha para conseguir emprego", afirmou um diretor de escola.




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