Setecidades Titulo
Telefones adaptados para
surdos não funcionam
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
24/10/2011 | 07:00
Compartilhar notícia


Fazer uma ligação por meio de um telefone público adaptado para surdos é tarefa complicada. A complexidade dos equipamentos e a demora na obtenção de retorno são fatores que dificultam a utilização. Na região, segundo a Telefônica, 372 orelhões são adaptados para portadores de deficiência auditiva. O número corresponde a 2,4% do total de 15.538 telefones públicos espalhados pelas sete cidades. A Agência Nacional de Telecomunicações exige ao menos 2% de orelhões aptos para cada tipo de deficiência.

A equipe do Diário testou diversos aparelhos e não conseguiu completar a ligação em nenhuma das vezes. Para iniciar a operação, o usuário deve inserir o cartão telefônico e discar para a Central de Intermediação da Comunicação (código 142). Em seguida, o deficiente deve retirar o monofone do aparelho convencional e colocá-lo no gancho do telefone adaptado ligado.

Para que a chamada seja completada, um atendente da Telefônica deve iniciar a comunicação, solicitando o número do telefone do interlocutor, que precisa digitá-lo. O problema é que, nos aparelhos testados pela reportagem, o sinal era falho e não foi possível estabelecer contato com a central de intermediação da operadora.

Em alguns dos equipamentos, o visor do teclado exibia a mensagem "sending auto ID", algo como "enviando identificação" na tradução. Em outros, a tela mostrava apenas o nome da marca e do modelo do telefone. Após cerca de cinco minutos de espera, a ligação é desligada automaticamente. A equipe do Diário ligou para o 142 e questionou a atendente, que não soube informar o motivo do problema.

Procurada, a Telefônica não comentou as falhas nos orelhões adaptados. A empresa também não respondeu se pretende modificar o sistema de comunicação entre surdos.

Baixa Procura

A estudante de pedagogia Elaine Borges Pereira, 28 anos, não utiliza os orelhões adaptados por conta da demora na resposta. "Lembro de um amigo meu, surdo, que precisou usar e não podia esperar por tanto tempo", conta a aluna, que também é instrutora de Libras, a Língua Brasileira de Sinais.

Ela avalia que o número de telefones espalhados pelas cidades é baixo, mas que não vê necessidade de aumento devido à baixa procura. "A maioria dos surdos não os utilizam."

Para agilizar a comunicação, a solução encontrada é o envio de mensagens de texto por celular. "Também já existem aparelhos com câmera em que sinalizamos para outros surdos que possuem um outro aparelho, como se fosse webcam. Nele, nos comunicamos por Libras", revela. Elaine nasceu surda devido a uma rubéola contraída pela mãe durante a gestação.

Para especialistas, aparelho é obsoleto

Para especialistas em acessibilidade ouvidos pelo Diário, os telefones públicos para surdos são ultrapassados e já não representam a melhor tecnologia para a comunicação. Para o coordenador do Grupo de Trabalho da Pessoa com Deficiência do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, Alexandre Francisco, a demora para o estabelecimento do contato é o principal fator responsável pela rejeição aos equipamentos.

Xande, como é conhecido, avalia que os orelhões ficaram mais obsoletos com a popularização dos serviços de mensagem de texto por celular. "Ao mesmo tempo que os surdos começaram a usar mais os celulares, a procura pelos orelhões foi diminuindo, o que fez com a empresa responsável diminuir o rigor com a manutenção." Questionada sobre a periodicidade da execução de reparos nos aparelhos, a Telefônica não respondeu.

Para o intérprete de Libras da Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência, Vinícius Nascimento, o poder público deveria investir em tecnologias mais eficientes para a comunicação entre os surdos. "Uma das possibilidades que poderia ser explorada é a diminuição no custo das tarifas dos torpedos por celular para pessoas com deficiência auditiva", sugere.

Outra alternativa apontada é utilizar a internet como forma de facilitar os diálogos entre a população surda.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;