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Rio recebe esgoto de Mauá e Sto.André
Isis Mastromano Correia
Do Diário do Grande ABC
21/01/2009 | 07:00
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Olhar para o Rio Tamanduateí significa observar muito pouco de sua própria água. O leito é alimentado especialmente por 2.000 toneladas mensais de esgoto doméstico que Santo André e Mauá despejam juntas no principal corpo d'água urbano da região.

Para se ter uma ideia, a vazão original do rio era de 30 metros cúbicos por segundo conforme as primeiras medições realizadas ainda no final dos anos 1800.

Dois séculos depois, o despejo desproporcional de esgoto, aliado à impermeabilização de boa parte das margens, fez o escoamento ultrapassar a marca dos 500 m³.

Sozinha, Mauá contribui com 1.142.000 m³ de esgoto despejados por mês no rio e Santo André com outros 1.000.000 m³ mensalmente. São Caetano, que também é cortada pelo rio, não despeja mais esgoto.

Para o geógrafo e professor de pós-graduação em Meio Ambiente da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Minas Gerais, Maurício Waldman, há pouca probabilidade de reverter a situação à qual o Tamanduateí está exposto: a de ser o maior canal de esgoto da região.

"Essa situação é irreversível no aspecto de remodelar o deslocamento de esgotos. O que está à mostra é uma situação extremamente inercial, com pouca probabilidade de retorno", diz Waldman.

"Em princípio não tem como mudar isso", enfatiza o especialista, autor de vários livros sobre ecologia e de uma tese sobre as águas e a metrópole.

Toda rede de drenagem natural, todos os córregos que abastecem o Rio Tamanduateí já foram canalizados há tempos. O mesmo vale para o Rio Tietê.

A política de gestão das águas deve ser vinculada a políticas de ocupação do solo e de coleta de resíduos, afirmam especialistas (um quarto da poluição do Tamanduateí é formada de resíduos sólidos). Mas, o rio que corta o Grande ABC, empaca na falta de integração do poder público em busca de melhorias.

Diferente até mesmo de seu vizinho Tietê, o Tamanduateí conta com toda sorte de elementos que o desprotegem ainda mais: as margens foram densamente ocupadas por residências (legais e ilegais) e indústrias. O rio da Capital conta, pelo menos, com o Parque Ecológico do Tietê e a maioria da várzea foi tomada por avenidas ao invés de residências.

"Na cabeça das pessoas, o Tamanduateí deixou de ser um rio. Elas perderam essa referência e em diversos mapas de São Paulo ele já aparece como um canal", avalia Waldman. Como agravante, o rio foi tampado na região do Parque Dom Pedro II, no Centro da Capital.

"Acabar com as ligações clandestinas de esgoto e aprimorar a fiscalização ajudariam a melhorar a situação do rio", explica o professor.

Para os mais radicais, se os esgotos deixarem de ser jogados no rio, o Tamanduateí passará a ser apenas um filete d'água.




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