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Sonia Braga: sedutoras mais uma vez
Mariana Trigo
Da TV Press
02/12/2006 | 17:22
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Sônia Braga assume que é meio nômade. Mora onde tiver trabalho e está sempre disposta a mudar de vida. Há 26 anos sem atuar numa novela inteira, a atriz de 56 anos participa pela primeira vez de uma trama de Manoel Carlos. Ela está em Páginas da Vida, como Tônia Werneck, uma escultora que, assim como a atriz, volta ao Brasil após uma longa temporada morando e trabalhando no exterior. No entanto, o que mais tem festejado, no momento, é a aproximação de Tônia com Tide, personagem de Tarcísio Meira. “O Tarcísio é minha memória mais distante de televisão e novelas. Nós fazemos parte da história da telenovela. Ao gravar com ele, tive a impressão de que havia morrido, pois minha vida inteira passou como num filme”, emociona-se a atriz, que trabalhou com o ator em Irmãos Coragem, de 1970, e Espelho Mágico, de 1977.

PERGUNTA: Desde Chega Mais, em 1980, você não atua numa novela inteira. O que a fez aceitar o convite para Páginas da Vida e deixar Nova York?

SÔNIA BRAGA: Tive vários convites para novelas, mas estava sempre comprometida com outros projetos nos Estados Unidos. Quando o Maneco me ligou dizendo que a Tônia era minha cara, topei na hora. Não poderia recusar essa proposta. Mesmo se o Pedro Almodóvar me quisesse em um filme seu, não iria fazer. Estou apaixonada pela Tônia.

PERGUNTA: Essa é a primeira vez que você trabalha com o Maneco e com uma linguagem naturalista. Como tem sido?

SÔNIA: Ele escreve na medida em que a vida vai acontecendo. Isso pode parecer estranho numa ficção, mas está muito perto da realidade. Não temos nenhuma frente. Me sinto numa ilha onde, a cada dia, preciso furar um coco para tomar água. Tenho adorado descansar de mim mesma para viver a Tônia. Ela é uma mulher especial, independente e admirável. É livre como um pássaro. Espero a cada dia ver quais são as páginas dela.

PERGUNTA: Atualmente as novelas costumam ter pouca antecedência de capítulos, atrasos de roteiro, os capítulos são maiores que há alguns anos. Que diferenças você sentiu nas novelas brasileiras após tantos anos distante?

SÔNIA: Realmente as novelas mudaram bastante. Considero que minha última novela mesmo foi Dancin’ Days, na qual estava extremamente envolvida. Antigamente, quando a gente gravava um capítulo, demorava tanto para ir ao ar que até esquecia o que havia feito. Agora, penso numa coisa e já está indo ao ar, como o caso da Tônia com o Tide.

PERGUNTA: A Tônia se envolveu com o Silvio (Edson Celulari), que é marido da amiga Olívia (Ana Paula Arósio) e, em seguida, Tônia se apaixona pelo Tide e vira madrasta da Olívia. Como você avalia essas “relações em família”?

SÔNIA: O Maneco é muito provocativo. Ele faz com que as pessoas reflitam sobre seus erros, acertos, vontades e desejos. É como aquela peça do Nelson Rodrigues, Perdoa-me Por Me Traíres. Acho que essa provocação do triângulo com o Silvio e a Olivia deu certo por mostrar a análise dos personagens com seus sentimentos. Sempre achei que quando as relações estão para acabar é porque elas já acabaram há muito tempo.

PERGUNTA: A relação da Tônia com o Tide dá um novo fôlego para a personagem numa trama em que grandes atores praticamente atuam como elenco de apoio. Como você tem lidado com isso?

SÔNIA: Me sinto valorizada. Agora só quero saber se a Nanda vai aparecer para mim! (risos). Passei o início da novela gravando apenas esporadicamente, só fazia Tai Chi Chuan. Agora, porém, ela está no núcleo principal, tem uma relação engraçada com a empregada e uma relação maravilhosa com a Sabrina e o Vinícius, da Leandra Leal e do Sidney Sampaio.

PERGUNTA: Na verdade, você agiu como a personagem Tieta, que também ficou exatos 26 anos longe e voltou para resgatar um passado. Você identifica coincidências nesse paralelo?

SÔNIA: É verdade! Esse Jorge Amado me persegue. Mas temos profissões diferentes (risos). Ela era uma prostituta. A alma da Tieta é linda. Tenho esse astral de voltar para casa e matar as saudades, rever as pessoas. O fato de ter ficado tanto tempo fora foi porque fui aceita no exterior. Adoro o Brasil, mas tenho de estar onde eu trabalho. No momento estou adorando ficar aqui, mas se amanhã for convidada para trabalhar no Japão, na Índia, na China ou voltar para os Estados Unidos, eu vou. Sinto falta do mundo.

PERGUNTA: Do que você mais sente falta em Nova York?

SÔNIA: Minha vida praticamente era ir ao cinema. Ia três vezes por dia. Principalmente na época do Oscar, pois sou membro da Academia. Gostava de assistir a tudo para poder votar direito. Além disso, me enviavam todos os filmes para casa, às vezes assistia a cinco filmes por dia e me deliciava. Disso tenho muita saudade.

PERGUNTA: Falando em cinema, você é uma espécie de referência do cinema nacional no exterior. Por que atua tão pouco em filmes brasileiros?

SÔNIA: Porque não sou convidada. Muitos acham que meu cachê é alto. Sou uma pessoa bem acessível, não ando com guarda-costas. Percebo que as pessoas só querem me convidar para alguma coisa importante. Isso complica. Também existe uma linha jovem de cineastas brasileiros que já se sentem mais seguros com seus grupos. Se eu puder assistir a filmes brasileiros, já estou feliz. Se não estou na tela, seguramente estou orgulhosa na platéia.

PERGUNTA: Do que você mais se orgulha na sua carreira?

SÔNIA: De ter feito Dona Flor e Seus Dois Maridos e Gabriela, Cravo e Canela. Foram trabalhos que abriram fronteiras, que são vitoriosos nesse sentido. A adaptação de uma obra de Jorge Amado era uma coisa incrível para aquela época, há 30 anos. Isso era novidade, além de ser na segunda novela das dez. Era na época que a TV a cores havia sido lançada. Sou muito de época, né? (risos).




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