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Mães guerreiras contam suas histórias
Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
09/05/2010 | 07:10
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André Henriques/DGABC


Mãe é mãe. Não importa se de um ou de dez. O amor é incondicional, e a cada gestação acontece uma história diferente. E, sem dúvida, existem mães especiais. O Diário acompanhou três mulheres que deram à luz a 11 bebês prematuros e hoje os filhos têm entre 24 anos e 1 ano e 11 meses.

Hoje é Dia das Mães. Decidimos contar histórias dessas mulheres, que mais lembram heroínas de desenhos animados, por causa da garra, do esforço, dos percalços enfrentados e da imensa disposição de viver e se doar para os filhos.

A diarista Ilma Marta de Moura, 54 anos, a desempregada Simone Alves Nascimento, 37, e a dona de casa Terezinha Cristina da Silva, 29, fazem parte de seletíssimo grupo. Elas tiveram gestações de trigêmeos e quadrigêmeos, moram e fizeram o parto no Grande ABC.

A chance de uma mulher ter quatro filhos de uma vez, sem qualquer tipo de tratamento, como aconteceu com a diarista Ilma, do Parque Capuava, em Santo André em 1986, é algo raríssimo. A probabilidade é de um em 512 mil partos. No Brasil existem pouquíssimos casos de gestação múltipla concebida sem ajuda médica.

Algumas delas superaram tratamentos hormonais por longo período para engravidar. E quase todas aguentaram dores pelo corpo, incertezas, conselhos médicos para interromper as gestações, brigaram com a balança e perderam - como castigo chegaram a engordar até 50 quilos -, afora o abandono dos maridos e a morte de filhos.

Mas nem tudo é sofrimento. Como todo conto de fadas, há partes boas e finais felizes. As mamães não cansam de lembrar os sorrisos dos rebentos, suas descobertas, as primeiras palavras, os gestos de carinho multiplicados por dois, três ou quatro. E hoje, nesta data especial, elas são homenageadas com presentes muitas vezes imateriais, como afeto, carinho, expressos em meros beijos e abraços ou até em telefonemas, que enchem o coração dessas guerreiras de alegria e satisfação.

"Superei barreiras, passei sufoco, mas não tem alegria maior que ver meus filhos criados e com saúde. Isso é difícil, mas não é impossível quando temos Deus no coração e ajuda das outras pessoas", conta a diarista Ilma, mãe de Daniel, Daniele, Rafael e Raquel, os mais conhecidos gêmeos do Grande ABC.

Para se ter ideia do número das sete cidades, apenas em 2008, 36.787 mulheres deram à luz na região. Naquele ano, a cidade que mais registrou recém-nascidos foi São Bernardo, com 11.396, segundo dados recentes da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados).

 
Diarista cuidou de múltiplos e de marido deficiente
A simplicidade e a superação são as marcas da diarista Ilma Marta de Moura, 54 anos. Ela teve quadrigêmeos em 18 de fevereiro de 1986 e foi notícia na época em diversas publicações, inclusive no Diário. Dois anos e quatro meses depois deu à luz a mais uma menina.

Ela e seu companheiro de então marido sabiam que a primeira gravidez era múltipla. Mas esperavam por três crianças e, ao terminar o parto, veio a surpresa. "O que importa é que consegui cuidar de todos os filhos e do marido", comenta a diarista.

Paralítico, o pai das crianças andava com a ajuda de muletas e precisava de cuidados especiais, além de chegar em casa frequentemente embriagado, segundo conta a mulher.

Nos primeiros tempos, a residência simples no Parque Capuava, em Santo André, ficava lotada com familiares e vizinhos e da Igreja Nossa Senhora da Auxiliadora, que vinham oferecer sua ajuda. "Ainda bem que as pessoas foram boas comigo", lembra emocionada.

Agora, a meta de vida de Ilma é ajudar seus filhos e os dos vizinhos da melhor forma possível, por isso é considerada super-mãe por todos no bairro. "O que ela fez pela gente não é para qualquer um. Sempre dava atenção aos cinco e ainda cuidava do nosso pai", comenta o filho Rafael.

Quando os quadrigêmeos fizeram 17 anos, o marido foi embora e deixou Ilma sozinha. A mulher ficou triste com a separação, mas levantou a cabeça, voltou a estudar e cuidou ainda mais de todos. Hoje é avó e comemora como nunca seu dia mais especial. A alegria só não é completa, porque o filho Daniel foi trabalhar em de Minas Gerais. WN

 

Mãe de quadrigêmeas precisa de ajuda
Ser mãe de quatro mulheres não é tarefa fácil. E ainda mais quando todas as filhas são da mesma idade e têm comportamentos diferentes. Essa missão Simone Alves Nascimento, 37 anos, do Jardim Telma, em São Bernardo, quase tira de letra.

As quadrigêmeas - Suzana, Sophia, Gabriela e Giovana - são espertas e contam 5 anos e 6 meses. A mãe faz questão de vestir, quando pode, todas iguais. "Já ouvi piadinha falando que eu não parava de ter filhos. Tive um monte sim, mas foi de uma vez", brinca.

A vontade de Simone de ser mãe novamente (ela já tinha um filho, atualmente com 17 anos) foi tanta, que ela não obedeceu às recomendações dos médicos para tirar, no início da gravidez, pelo menos dois dos fetos. "Falei para todos: de jeito algum! Aguentei o sofrimento por amor. Não conseguia andar a partir do sexto mês. E dormia sentada quando dava", lembra.

As meninas nasceram prematuras, precisaram ficar dois meses internadas para ganhar peso no HMU, de São Bernardo. Uma delas nasceu com problema no coração e, até hoje, a cardiologista Regiane Sonentino a atende gratuitamente.

A comoção do caso também criou uma rede de ajuda na vizinhança e até de pessoas que ficaram sabendo do caso pela imprensa. "A igreja Batista criou um berçário para elas", conta.

Mesmo com os cinco filhos em casa, Simone voltou a trabalhar quando as gêmeas completaram 1 ano e 3 meses. Na época, a mãe tinha um Fusca vermelho, 1974, com um berço adaptado no banco traseiro.

"As pessoas não acreditavam quando eu começava a tirá-las de dentro do carro. O bagageiro, com quatro carrinhos em cima, às vezes parecia um caminhão."

Atualmente, Simone está sofrendo com duas situações que faz qualquer mãe perder o sono: apenas duas das quadrigêmeas conseguiram matrículas na escola da Termomecânica; e o medo de que a formação das filhas seja diferente é um temor. Agora, ela luta para tentar colocar as outras meninas na mesma unidade de ensino. Mas outra parte é mais complicada: arrumar um emprego. "Quando falo que tenho cinco filhos, os selecionadores mudam a cara na hora", conta a desempregada. (Willian Novaes)

 

Dona de casa enfrenta perda de recém-nascido
A simpática dona de casa Terezinha Cristina Silva, 29 anos, passou da extrema felicidade, junto com o marido, o aposentado Antenor Menezes, 54, no Jardim Utinga, em Santo André, para o total desespero e tristeza, três meses após o nascimento dos três filhos.

Vicente Matheus, Vinicius e Viviane nasceram prematuros, com 33 semanas, e o primeiro precisou ficar 26 dias internado. Os outros foram para casa com 12 dias no hospital.

Com a chegada dos pequenos, a família se reuniu para ajudar a mãe de primeira viagem. "Era uma bagunça, todo mundo queria ver (as crianças), e eu adorava ser paparicada. Foi um trabalho danado", conta Terezinha.

Em uma noite, após o casal deixar os três bebês dormindo no quarto decorado com objetos do Corinthians - Terezinha e o marido são fanáticos pelo Timão - e ir para a sala assistir televisão, em sua ronda habitual para ver se estava tudo bem com os pequenos, o pai encontrou Vicente Matheus desmaiado e com falta de ar.

"Foi um choque, não acreditava que estava acontecendo comigo, o menino estava bem, era o mais bravo deles. Tinha engordado e tudo mais. Foi embora desse por causa do refluxo", conta Terezinha.

A perda deixou marca na dona de casa: ao relembrar do filho morto, no mesmo instante foi buscar fotografias do pequeno. Mas, como a tristeza não poderia tomar conta da casa, já que ainda havia outros dois recém-nascidos para criar, Terezinha buscou forças. "Não sei onde. Mas segui em frente. A todo instante ainda lembro do meu filho. Tive três e vou ser eternamente mãe de três", comenta emocionada.


Mortes violentas marcam os corações
O retrato da dor pode vir de uma mãe chorando a morte do filho. Às vezes, as lágrimas não saem, mas o rosto entristecido exibe sinais claros de um sofrimento cruel, angustiante e contagiante. Principalmente quando perdem os seus filhos de formas trágicas e violentas.

Em abril e outubro de 2008, duas mães, a bancária Ana Carolina de Oliveira e a merendeira Ana Cristina Pimentel, ficaram conhecidas nacionalmente pelas respectivas perdas. A primeira era mãe de Isabella, que, aos 5 anos, foi asfixiada e jogada do 6° andar do prédio, em que o pai morava na Zona Norte da Capital. A outra vítima foi Eloa Cristina, 16, assassinada pelo namorado dentro do apartamento da família, no Jardim Santo André, em Santo André, após ficar 100 horas refém.

As duas mães ainda choram a sua perda e têm dificuldade para falar. Ana Carolina encarou por quatro horas os assassinos da sua filha no dia 27 de março deste ano, no primeiro dia de julgamento de Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá. Depois de cinco dias, o casal foi condenado.

Já Lindemberg Alves, matador de Eloa, não conseguiu encarar Ana Cristina, em um dos depoimentos, no Fórum de Santo André. Ela o perdoou. O bandido está preso na Penitenciária de Tremembé. O Diário agendou por duas vezes uma entrevista com Ana Carolina, confirmadas e desmarcadas em cima da hora. E não conseguiu localizar Ana Cristina. WN

 
Maioria de gestações múltiplas é culpa de tratamentos
Para os médicos consultados pelo Diário para a reportagem, qualquer gravidez múltipla é de alto risco para mães e bebês. Segundo a ginecologista Flávia Fairbanks, a gestação com mais de um feto está relacionada, na maioria das vezes, com terapias de fertilidade.

"Aumentou muito a procura por tratamentos para engravidar. A legislação brasileira permite até quatro embriões", explica a médica.

Nos Estados Unidos em 2009, uma mulher de 33 anos teve oito filhos de uma vez, Esses casos acontecem de forma programada, segundo os especialistas. A probabilidade de uma gravidez de gêmeos é de uma para 80, de trigêmeos passa para uma a cada 6.400 e de gestações de quádruplos é 512 mil para um caso.

"As mulheres precisam tomar muito cuidado com o aborto instantâneo nos três primeiros meses. A chance de nascer prematuro é altíssima para qualquer gravidez múltipla", conta Anderson Moura, professor de ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina do ABC.




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