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'Programa Raul Gil': velho formato mas novas estrelas
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
01/12/2001 | 15:05
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A clonagem no meio televisivo raramente incita polêmicas ou motiva chefes de Estado a se pronunciarem, em uníssono, contra sua prática. Ela gera, sim, dinheiro. E muito. Vide o caso de Quem Sabe Canta, Quem não Sabe Dança, quadro do Programa Raul Gil, na Record, em que calouros desafiam a rouquidão ao esticar a voz até os níveis mais agudos que os equalizadores podem registrar. A principal atração do programa exibido aos sábados, das 13h às 18h, tem como matriz genética quadros semelhantes outrora comandados por Chacrinha, Flavio Cavalcante, Silvio Santos e a turma contemporânea da válvula.

Se o programa vespertino de Raul Gil é um caça-níqueis respeitável, é tolerável supor então que sua extensão fonográfica também o seja. Para evidenciar o teorema, basta pinçar o exemplo do calouro Robinson Monteiro. O Anjinho – apelido que flagra olhos azuis e cachos ofuscantes – lançou há um mês seu primeiro disco, Anjo. E não é que o álbum, selado pela WEA, já vendeu 250 mil cópias e rendeu ao cantor disco de platina!

A linha de montagem está a plenos pulmões. Está prevista para esta semana outra cartada da WEA autenticada por calouros sombreados pelo manto de Raul Gil. A cantora Liriel, que mora na divisa entre Diadema e São Paulo, lança seu disco de estréia ao lado de Rinaldo, amigo e companheiro de peregrinação televisiva. “Esse era um grande sonho, gravar um disco, ser cantora profissional”, afirma Liriel ou, para todos os efeitos burocráticos, Raquel Domiciano Pereira, como consta em sua certidão de nascimento. Do alto de seus 20 anos, a incipiente solista alcança o planalto que todo calouro pretende freqüentar depois de semanas de participações no Programa Raul Gil. Liriel bate ponto nos estúdios da Record desde maio e lança seu disco somente agora, graças à unção divina, acredita ela. “Agradeço muito a Deus nesse momento oportuno. Ele é a minha alegria, aquele que me deu um talento para que pudesse ser aprimorado”. Pertencente à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (o templo dos mórmons), Liriel reforça sua crença: “Deus me deu o instrumento e, para valorizá-lo, eu só tenho de ter fé, força e perseverança.”

Apesar de fiel ao monoteísmo, a intérprete deixa transparecer a pluralidade de divindades que toma como referências musicais: Mariah Carey, Whitney Houston, Barbra Streisand, Diana Ross, Maria Callas e Montserrat Caballé. A maioria representa o pop-lírico, uma música de aguçada extensão vocal e com arranjos fluorescentes. Com a palavra, João Marcos Coelho, colaborador do Diário e crítico musical: “É sempre assim, o cara tem uma boa voz, conhece poucas palavras em inglês, mas alguém diz que ele tem uma boa voz e pronto. Grava um disco, esquece a existência da música brasileira, se transforma em clone de Celine Dion e vende milhões”.




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