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Coletâneas reúnem o mais conhecido de Verdi
João Marcos Coelho
Especial para o Diário do Grande ABC
21/04/2001 | 16:12
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Há dias, o jornalista Lauro Machado Coelho, emérito especialista em ópera que está escrevendo e publicando pela Editora Perspectiva um monumental projeto de história do gênero em 15 volumes, passou um correio eletrônico para músicos, críticos e compositores pedindo sua colaboração para a introdução do quarto volume de sua História da Ópera dedicado a Giuseppe Verdi (1813-1901). A pergunta que ele faz é ao mesmo tempo simples e impossível de ser respondida: o que torna a música de Verdi tão popular, ou por que Verdi é tão popular?

São praticamente duas dezenas de óperas permanentemente inscritas no repertório das casas líricas de todo o mundo, ano após ano; são centenas de árias de melodias inesquecíveis, que estão no subconsciente não só dos líricomaníacos, ou verdimaníacos, mas do público em geral. Verdi é o compositor mais utilizado pelo cinema, senão literalmente, no enquadramento musical que casa à perfeição com a transmissão imediata de emoções fortes. Pode ainda ser o senso do palco, o timing do teatro.

Bem, se é difícil explicar em palavras, é facílimo comprová-lo na audição, mesmo em antologias feitas às pressas, como estas duas, aproveitando a passagem do centenário de morte do autor de La Traviata. Afinal, o que importa mesmo é ouvir sua música. E isso todo mundo, de todas as classes e regiões no mundo, vem fazendo há quase um século e meio. Quem mais assinaria um punhado de melodias eternas, como La Donna è Mobile e Celeste Aida, Lunge da Lei, La Vita è Inferno? E os coros, com o emocionante e patriótico Va Pensiero à frente?

As duas antologias merecem freqüentar todas as discotecas por um motivo simples: reúnem praticamente todas as melodias que já se incorporaram ao nosso inconsciente auditivo. Assim, Verdissimo (WEA) apresenta uma bela variedade de repertório e registros, indo de uma versão fantástica de Maria Callas, a maior de todas, em É Strano!... Ah, Forsè Lui, realizada em 1953, com a Orquestra Sinfônica da RAI de Turim regida por Gabriele Santini, até um Pavarotti, naturalmente (Questa o Quella com a Orquestra do Met de Nova York regida por James Levine, de 1993). Carreras faz uma pálida La Donna è Mobile enquanto Placido Domingo, o mais bem conservado dos três tenores, excede em Celeste Aida e Ah Si Ben Mio gravadas em 1968, em Berlim. Outros cantores lendários estão presentes, casos de Mario del Monaco e Giuseppe Di Stefano.

Entre os novatos, o argentino José Cura, um superstar de extrema arrogância pessoal, como acontece geralmente com nuestros amigos do Prata. Ele é dono de uma excepcional musicalidade (arrisca-se com igual destaque na regência), e, antipatias à parte, o moço é bom mesmo. Assim, para os que gostarem de sua leitura de Lunge da Lei na antologia podem comprar sem medo Verdi Arias (WEA), na qual Cura canta e rege a Philharmonia de Londres num programa inteligente porque busca fugir do lugar-comum.

Centenário – No extenso artigo publicado neste jornal na passagem do centenário de morte de Verdi, no início deste ano, acusei injustamente Verdi de adultério. Na verdade, como bem acentuou um atento leitor do Diário, o compositor jamais cometeu tal crime. Ele casou-se com Margherita Barezzi, em 4 de maio de 1836, por sinal dia do aniversário da noiva; Ghita morreu de febre reumática em 1840. Verdi conheceu a cantora Giuseppina Strepponi em 1839, portanto antes da morte de sua esposa, e foi por ela indicado a Merelli em Milão, mas nada há que indique ter havido um caso entre eles. La Strepponi afasta-se dos palcos em 1840 por doença, volta no ano seguinte e daí em diante canta em todas as óperas verdianas (Nabucco, Ernani, I Lombardi) até 1846, quando se aposenta e passa apenas a dar aulas. No ano seguinte, casa-se com o viúvo Verdi.




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