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Comer fora de casa
é risco para a saúde
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
14/08/2011 | 07:30
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Alimentos comercializados em lanchonetes, padarias, self-services, restaurantes e barraquinhas de rua são um perigo à saúde de quem, por algum motivo, precisa fazer refeição fora de casa. A equipe do Diário percorreu estabelecimentos nas sete cidades e encontrou diversos problemas, como manipulação incorreta e falta de higiene, os grandes vilões da proliferação de bactérias em alimentos que, não raro, resultam em diarréia, náuseas e dores abdominais, principais sintomas da intoxicação alimentar. Quem apontou as irregularidades foi a nutricionista Maiara Nazarin.

A Vigilância Sanitária das Prefeituras fez 4.023 vistorias no primeiro semestre, mas os problemas persistem porque os órgãos não têm equipes para acompanhar o dia a dia dos estabelecimentos. Portanto, cada pessoa que se alimenta fora de casa deve ser seu próprio fiscal.

A região central de Santo André é um festival de irregularidades. Apenas nas ruas Presidente Carlos de Campos e Bernardino de Campos a blitz do Diário flagrou ações inadequadas em oito estabelecimentos. Em um deles, problema grave: peixes e frutos do mar fritos expostos à luz solar. "O calor estimula a produção de bactérias", explicou Maiara. Segundo ela, os microorganismos só morrem se a comida estiver acima dos 65 graus.

Ainda em Santo André, um vendedor de milho manipulava os alimentos sem luvas. A aposentada Valmira Teixeira Rodrigues, 65 anos, consumia o milho. "Está errado, né? Normalmente, quando saio, levo uma fruta." 

LIMPEZA
Em Mauá, falta limpeza. Chão sujo, lixeiras cheias e até sacos de lixo ao lado de mesas. "Nem olhei se tinha higiene, é desejo de grávida", disse a dona de casa Cláudia Martins, 28. Ela consumia churros na Praça 15 de Novembro. Grávidas, crianças e idosos são mais suscetíveis à contaminação, conforme a nutricionista.

Em São Bernardo, um carrinho de cachorro-quente na Avenida Faria Lima oferece perigo. A salada de repolho está fora de refrigeração. Maionese, ketchup e mostarda em vidros fracionados impedem o consumidor de saber a data de validade. E a salsicha é armazenada abaixo da temperatura ideal.

O pastel de palmito vendido na Praça Joviniano de Carvalho representa mais um perigo. Não apenas porque o carrinho está em péssimas condições, mas porque o palmito pode conter bactérias que causam botulismo, doença que pode levar à morte.

Nem a Vila do Doce, em Ribeirão Pires, saiu ilesa da blitz do Diário. A beleza e o colorido do lugar podem até disfarçar, mas a nutricionista encontrou muita coisa errada: pano de prato sujo cobria a batata-frita, a fritadeira tinha crosta de gordura e sujeira e as funcionárias que faziam tapioca tinham unhas compridas, esmaltadas e adornadas com anéis.

Em São Caetano, o problema é a disposição da comida no self-service de uma galeria próxima ao terminal de ônibus. Após três horas e meia exposto a poeira e bactérias o alimento está contaminado.

A falta de cuidados também é fator determinante para a proliferação de bactérias. Em Rio Grande da Serra, bares e lanchonetes ao lado da estação de trem têm canos expostos e enferrujados, faltam azulejos e até um cão dorme no recinto, próximo à máquina de refrigerantes. "Os estabelecimentos estão sujeitos às leis e multas, mas é difícil cumprí-las se não há orientação", disse Maiara.

 

Atenção ao lugar onde você vai comer 

Comer fora de casa nem sempre representa risco se você estiver atento ao lugar onde irá se alimentar e que tipo de comida ingerir. "Um dos maiores problemas da alimentação de rua é que, muitas vezes, a pessoa não tem onde fazer a correta higienização das mãos, o que acaba por facilitar a contaminação dos alimentos", destacou a nutricionista Maiara Nazarin.

Outro detalhe importante: antes de devorar cachorro quente na barraquinha de rua ou comer coxinha de frango na lanchonete da esquina, é preciso ficar atento à manipulação dos alimentos. Observe se o funcionário está de uniforme, ou no mínimo com roupas adequadas ao trabalho e limpas. Além disso, ele deve usar redinha que cobre os cabelos e as orelhas, além de ter as unhas curtas, sem esmaltes e as mãos livres de anéis e pulseiras.

Após analisar o funcionário, observe o local: cestos de lixo cheios e chão sujo são indícios de que a higiene não é o forte do estabelecimento.

É importante também observar se o alimento é preparado na hora. "Acima de 65 graus, as bactérias morrem. Mas se o alimento fica armazenado durante muito tempo após o preparo e em condições inadequadas, pode oferecer riscos", explicou Maiara. Como geralmente não se anda com um termômetro no bolso para medir a temperatura adequada, prefira consumir alimentos preparados na hora.

A fome apertou e o lugar não parece confiável? Prefira alimentos industrializados. Eles passaram sob controle rígido antes de parar nas prateleiras dos supermercados e lanchonetes.

Condimentos como ketchup, maionese e mostarda também representam perigo. "O ideal é utilizar sachês, pois é proibido por lei fracionar alimentos, a não ser que haja rótulo com a data de validade do produto", explicou a nutricionista. 

TENTAÇÕES
O mesmo vale para o amendoim vendido por ambulantes. "Não se sabe qual a procedência do alimento", alertou Maiara.

Fuja da tentação de comer lanche de pernil quando for ao estádio ver seu time do coração. "Carne de porco é um perigo, principalmente se for mal passada. Ela pode conter bactérias mortais", afirmou Maiara. Esse tipo de carne só pode ser adquirido se tiver certificação do Ministério da Agricultura.

O pastel de feira só pode ser consumido se for preparado na hora, pois a alta temperatura do óleo mata as bactérias.

O que vale para a especialista é o bom-senso. "Quem não observa o que coloca na boca pode sofrer consequências muito maiores que vômitos e diarréias. Pode até perder a vida."

 

Vigilância Sanitária vistoria 4.023 estabelecimentos 

A Vigilância Sanitária das Prefeituras do Grande ABC vistoriaram 4.023 estabelecimentos no primeiro semestre, menos de 1% dos quase 10 mil comércios de alimentos da região. Destes, ao menos 215 foram multados e 85 lacrados por não cumprirem determinações do órgão.

Em São Caetano foram aplicadas 30 multas, total de R$ 37,5 mil. Em Mauá, foram R$ 84 mil em autuações. As demais Prefeituras não precisaram o valor, pois destacaram que, mais importante do que as multas, é educar os comerciantes.

Caso da ambulante Dalvina Vieira de Souza, 57 anos, há 13 anos com carrinho de cachorro-quente na Praça Castelo Branco, em Diadema. "Após fazer o curso de boas práticas da Prefeitura, instalei uma torneira para a lavagem de mãos e fiz adaptações no meu produto." Agora, Dalvina espera a próxima vistoria da Vigilância. "Acho que desta vez encontrarão poucos problemas", destacou.




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