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Vila Pires abriga colecionador de brinquedos inusitado

Morador amarra bonecos na varanda de casa, tornando a vista da rua muito mais colorida

Renato Cunha
Especial para o Diário
17/02/2015 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Quem passa pela Rua Paula Nei, na Vila Pires, em Santo André, logo desvia o olhar para a casa de número 151. Isso porque, na varanda da residência, estão pendurados diversos bonecos de todos os tipos, de Shrek até Pokémon. A sacada se torna, assim, uma espécie de túnel do tempo que, para quem tira uns minutos para observar, pode significar uma viagem pela infância.

O autor desse túnel do tempo é José Carlos Santos, 52 anos, que trabalha como autônomo e tem uma loja de produtos usados em sua própria casa, mas, segundo ele, os brinquedos não estão à venda. “O que a gente vende aqui são portões usados, vinis de vários artistas, o que aparece, coloco para vender. Mas os brinquedos, não”, explica. Santos não consegue externar o porquê de pendurar os artigos em sua casa. “Coloco porque gosto deles. Alguns gosto também dos desenhos que passam na televisão, como Pokémon, por exemplo”, afirma.

Sua mulher, a dona de casa Tatiana Regina Leopoldino, 35, comenta que o marido sempre tem uma surpresa. “Até hoje não sei por que ele faz isso. Outro dia ele queria pendurar um sapo enorme e não deixei. No fim do ano, pendurou um Papai-Noel com um monte de notas de R$ 100 de brinquedo e escalaram o muro para roubar”, relata.

Ao som de rock, Santos conta que sempre curtiu o estilo e até chegou a trabalhar com artistas. “Gosto muito de música. Minhas bandas preferidas são Beatles e Rolling Stones. Quando era mais novo, saia para os bares que tocavam um som com a galera. Depois, trabalhei na casa noturna Zero Hora Bar, fiz iluminação para bandas, como a Queda Livre, que é da região, e para artistas como o Tom Cavalcanti, na época com o show do João Canabrava.”

O autônomo lembra ainda que o bairro já foi mais perigoso, mas que hoje a violência diminuiu. “Antigamente tinha muito assalto, muita bagunça. Hoje em dia ainda tem, claro, mas é um pouco menos”, ressalta. Segundo ele, as crianças têm que assistir menos coisas violentas na televisão. “Os desenhos antigos eram melhores. Hoje em dia mostram muita violência, isso prejudica bastante”, comenta.

Santos também recorda que começou a trabalhar aos 8 anos na feira livre do bairro. “Um japonês que tinha uma barraca me colocou para ajudá-lo quando eu tinha 8 anos. Sempre trabalhei e isso nunca me fez nenhum mal.”

Igreja Católica Brasileira está localizada no bairro

A Paróquia de São Jorge foi fundada no ano de 1965 no mesmo local onde está hoje e faz parte da Igreja Católica Brasileira. Durante muito tempo, a pastoral atendeu a comunidade da Vila Pires. Mas, por alguns anos, ficou adormecida.

O padre Bruno Marques, 25 anos, chegou do Rio de Janeiro com a missão de reavivar a pastoral estagnada. “A Igreja me mandou para que eu pudesse reestruturar a paróquia. Quando cheguei, estávamos com apenas três fiéis e hoje temos mais de 600”, comemora. Segundo o religioso, o sucesso se deve unicamente por trabalho duro com a comunidade. “Nossa atuação ficou conhecida graças a várias coisas: a novena das rosas, um programa que apresento na Rádio ABC, as festas de São Jorge que organizamos todo ano. Quando chegamos aqui, o maior problema era a infraestrutura. Hoje, com o dinheiro das festas e doações, conseguimos reformar a paróquia e está muito mais confortável e espaçoso.”

Bruno explica que sua vocação para o sacerdócio se mostrou desde criança. “Quando pequeno já ajudava na Igreja. Foi então que, aos 11 anos, entrei para o Seminário São José, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Concluí lá meus estudos. Estou aqui há cinco anos, dois como pároco”, explica.

O padre comenta que a Igreja Brasileira é um pouco diferente da Católica Apostólica Romana. “Nossa instituição não tem nenhum vínculo com ela. A Igreja Católica Brasileira foi fundada em 1945, pelo dom Carlos Duarte da Costa, que era bispo da Romana. Ele estava insatisfeito com algumas coisas e resolveu fundar uma nova Igreja com o objetivo de aproximar os dogmas da cultura brasileira. Fazemos batismos de filhos de mães solteiras, em alguns casos realizamos casamento de pessoas desquitadas e celebramos nossas missas em português. Antigamente era tudo em latim.”

O Pároco lembra que na semana do dia 23 de abril, em que é comemorado o Dia de São Jorge, a comunidade vai realizar uma festa para o santo guerreiro. “Teremos missas a semana toda e, no sábado (18/04), faremos carreata para São Jorge. Na quinta-feira (23/04), dia do santo, celebraremos missas o dia todo. Todos estão convidados.”

Fiéis relatam suas graças alcançadas

A Paróquia de São Jorge promove o encontro de emocionantes histórias de preces alcançadas por moradores da Vila Pires que frequentam a igreja há muito tempo, mas também daqueles que conheceram o local após a chegada do padre Bruno Marques.

Uma dessas pessoas é a aposentada que hoje trabalha como secretária do padre Rosmari Antonieta, 60 anos, que mora há seis deles na Vila Pires e conta como começou a frequentar as missas. “Tinha síndrome do pânico. Não conseguia nem sair da frente do meu portão. Era horrível. Ficava da minha janela ouvindo a missa e, um dia, tive coragem de ir à igreja. Estou aqui até hoje e ainda realizo esse trabalho comunitário”, lembra.

Para ela, um fato que marcou a história recente da paróquia foi uma prova de fé de uma colega. “Uma das fiéis da igreja, a Clarice, tinha câncer no cérebro. Certa vez, ela fez uma cirurgia e, no mesmo dia, apareceu na missa. O mais incrível é que veio dirigindo.”

Já a cabeleireira aposentada Leonídia Maria de Jesus, 66, conhecida popularmente como Haidê, é moradora da Vila Pires há 24 anos. Segundo ela, as modificações do bairro foram feitas graças a moradores que brigaram por melhorias. “Nem todo mundo tinha energia elétrica. Quem lutou por isso, na época, foi um jornaleiro chamado Jaime”, lembra. A cabeleireira relata que a capela antigamente era bem diferente. “Antes aqui era uma gruta. A Gruta Bom Jesus.”

Haidê lembra de um episódio engraçado que ocorreu no salão de beleza do qual era proprietária. “Uma senhora chegou brava, falando que uma cliente saia com o marido dela, que gastava todo o dinheiro com a amante. A gente tinha que ter jogo de cintura. As pessoas brigavam e colocavam a culpa em mim”, recorda.

Emocionada, a aposentada conta uma história de fé que vivenciou na paróquia. “Minha filha não gostava muito de missa. Ela tinha um problema de coluna sério. Teve um dia que consegui convencê-la a vir comigo. O padre a tocou na cabeça e disse que ela ia ficar curada. Depois disso, ela fez uma cirurgia muito complicada, todo mundo achou que não andaria mais. Mas, após um tempo, ela entrou pela porta da igreja andando, sem dificuldades”, completa.  




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