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Lanchonete reúne prêmios e guarda histórias da Vila Suíça

Vencedora do Festival Comida de Botequim por dois anos é atração do bairro andreense

Renato Cunha
Especial para o Diário
03/02/2015 | 07:00
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A Vila Suíça abriga lanchonete simples e familiar onde é possível provar um dos sanduíches mais suculentos de Santo André. Trata-se da Mega Lanches, que fica na Rua Galileia, 109, e é comandada por Cleonice Campos, 46 anos. Seu estabelecimento ficou conhecido ao ser premiado por quatro anos seguidos no Festival Comida de Botequim de Santo André. Em 2004 e 2005, a lanchonete venceu o concurso, em 2006, ficou em terceiro lugar e, em 2007, em segundo.

Cleonice conta como surgiu a ideia de se inscrever na premiação e a trajetória até a vitória. “Foi um cliente quem nos sugeriu participar. Ele indicou nossa lanchonete para a Prefeitura e, na época, vieram aqui e insistiram muito para que a gente entrasse no concurso. Resolvemos tentar e logo no primeiro ano ganhamos com o nosso Mega Lanche, o sanduíche mais famoso. O fiscal avaliava como cliente, não sabíamos quem era. Também se levava em consideração a limpeza do espaço e o atendimento ao público”, destaca, orgulhosa. O carro-chefe da casa custa R$ 16 e leva maionese, milho, salame, bacon, alface, tomate, contra-filé, hambúrguer, calabresa, queijo, presunto e ovo.

Cleonice lamenta que o concurso não seja mais realizado, pois era uma maneira de incentivar o bom trabalho dos estabelecimentos da cidade. “O festival servia para divulgar o bairro e também a lanchonete, é uma pena que não façam mais.”

A empresária conta que começou o negócio com o marido há cerca de dez anos e, no início, a divulgação era complicada. “A gente fez esse salão aqui e decidimos abrir nosso próprio negócio. No começo, fazíamos panfletagem e contávamos com o boca a boca de nossos clientes.”

A lanchonete também guarda histórias que ficarão na memória dos moradores por muito tempo. Cleonice lembra da época em que o karaokê se tornou a diversão do bairro. “Todo mundo vinha para cá cantar. Na época tinha um personagem inusitado que sempre estava por aqui: o Joel, que era padre e adorava Bee Gees. A gente se divertia muito”, garante.

O funcionário da lanchonete Anderson Francisco, 40, relata que, antes de trabalhar no local, já era frequentador assíduo. “Nasci no bairro. Desde que abriu o Mega Lanches sou cliente. Trouxe amigos da Praia Grande para comer aqui uma vez e eles adoraram. Na época do karaokê, a música que o pessoal mais cantava era Saigon, do Emílio Santiago”, recorda.

A Mega Lanches conta com mais de 60 opções de guloseimas no cardápio, sendo o Mega Lanche o mais pedido. Cleonice conta um episódio pitoresco envolvendo o sanduíche. “Uma vez um rapaz apostou com os amigos que conseguia comer dois Mega Lanches aqui na lanchonete. Eu disse que, se ele conseguisse, pagaria o terceiro. Não deu outra, ele só aguentou metade do primeiro e teve que pagar a conta”, lembra, aos risos.

Morador acompanha desenvolvimento

Morador antigo da Vila Suíça, o aposentado Liozino Cardoso, 75 anos, chegou ao bairro em 1974, quando resolveu sair de São José do Rio Preto. “Morava na fazenda. Quis mudar porque a vida na roça é muito sofrida. E, graças a Deus, encontrei Santo André. Gosto de São José do Rio Preto, mas hoje me sinto mais andreense que muitos nascidos aqui. Não fiquei rico, mas consegui uma vida boa, que lá não conseguiria”, relata.

Ele conta que, mesmo após se aposentar, continua trabalhando como corretor de imóveis no bairro. “Não tem jeito, trabalhar faz bem para a gente. Vemos pessoas, conversamos, ficamos sabendo das novidades. Talvez é isso que me faz sorrir diariamente e ter uma vida mais feliz.”

Cardoso conheceu a mulher, dona Alice Maria Leite, ainda no interior de São Paulo. “Quando era solteiro, meu pai era muito devoto de São João, São Pedro e Santo Antônio, os santos juninos. Ele fazia muitas festinhas lá em casa. Um dia, em uma dessas comemorações, vi a Alice e perguntei com quem ela estava. Ela disse que tinha vindo com uma das minhas tias, então, acabamos nos conhecendo e casamos em 1963, ainda na roça.”

Ele lembra que, quando chegou à Vila Suíça, o bairro era precário, não havia energia elétrica nem asfalto nas ruas. “Para ir trabalhar a gente passava por muito barro quando chovia. Se caísse, tinha que voltar e trocar de roupa, por isso, todo cuidado era pouco.”

O aposentado recorda que a situação do lugar começou a melhorar na gestão do prefeito Lincoln Grillo, de 1977 a 1982. “Ele foi um bom prefeito para a nossa região, o primeiro a olhar para o bairro. Asfaltou e colocou luz nas ruas. A partir daí é que as empresas vieram para cá e começaram as melhorias.”

O morador se diz satisfeito em viver na Vila Suíça hoje e garante que não irá se mudar mais. “Adoro esse lugar, não pretendo sair daqui. Mesmo se tivesse dinheiro para comprar uma residência em outro bairro, não compraria”, garante.

Corretor chegou junto com o asfalto

A paisagem da Vila Suíça era diferente quando o corretor Osvaldo Pimenta, 69 anos, mudou-se do Centro de Santo André para o bairro, em 1978. “Tive uns problemas familiares, então, fiquei meio perdido, sem saber o que fazer. Foi quando encontrei esse bairro, que sempre foi muito bom para negócios imobiliários, tinha vários lotes à venda. Era uma área completamente aberta para terrenos.”

Ele conta que chegou ao local juntamente com o asfalto das principais ruas. “A Vila Suíça engatinhava. O progresso só veio à partir da década de 1980, quando as empresas começaram a se instalar e se formou o centro comercial”, relata.

Segundo Osvaldo, os políticos nunca se importaram realmente com o povo. “Não tivemos um administrador público bom. As pessoas que estão lá só sabem fazer política, e quem sofre é o povo, que continua sem ver a cidade melhorar.”

Para ele, uma das coisas mais importantes é a amizade entre os vizinhos. “Aqui na rua todo mundo é amigo. A gente costuma fazer festa junina lá em casa, geralmente o pessoal participa. É a mesma festa da igreja, só que no meu quintal, onde tem um bom espaço.” 




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