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Musical infantil 'Casa de Brinquedos' ganha nova montagem
Do Diário do Grande ABC
30/03/1999 | 16:15
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Apesar do divórcio interclassista que impede o acesso das crianças de hoje a diferentes níveis de realidade, Toquinho ainda acredita na salvaçao dessas pequenas cabeças, dominadas pelas telas do vídeo e do computador. É um dos motivos que justificam a nova montagem de seu musical infantil "Casa de Brinquedos", com estréia marcada para o dia 10, no Teatro Gazeta, em Sao Paulo. Mesmo que nao seja seu tema condutor, o que está em jogo é o espaço reservado para a fantasia na vida dessas crianças, isoladas em condomínios fechados e cercadas por um cordao sanitário contra os destituídos.

"Casa de Brinquedos" já é um clássico do musical brasileiro. Concebido há 15 anos, foi gravado em disco pelos maiores nomes da MPB (Chico Buarque, entre eles) numa época em que a febre dos videogames era baixa e inexistia esta espécie de autismo infantil que impede a criança de dialogar com seres reais, dando preferência a seres virtuais criados pelo computador. De qualquer modo, antecipava alguma coisa desse mundo, ao eleger como figura central um menino que conversa com seus brinquedos. Três deles sintetizam a relaçao da criança com o mundo que a cerca: um robô, que representa o pensamento científico, uma boneca de pano, espécie de reserva emocional da infância, e um macaco, que simboliza a resistência lúdica ao mundo pragmático dos adultos.

A Script Promoçoes está investindo R$ 400 mil na produçao do espetáculo, que mobiliza 45 pessoas (11 atores no palco) e foi dirigido por Mário Masetti. Raul Leite, o produtor, esclarece que nao se trata de uma remontagem, mas de nova montagem, com dramaturgia de Tereza Eça, que se baseou no texto original de Elifas Andreatto para contar a história do garoto e seus brinquedos animados. A dramaturga incorporou uma oficina de brinquedos à história, sugerindo uma associaçao com a história de Gepeto, o criador do boneco de madeira Pinóquio. No musical de Toquinho, os brinquedos ganham vida e "conversam" com o garoto.

"As músicas continuam sendo as mesmas do disco", esclarece Toquinho, que está comemorando 30 anos de sua parceria com o falecido compositor Vinícius de Morais. Eles se conheceram em 1969 e fizeram juntos um popular musical para crianças, "Arca de Noé". Em estúdio, o compositor ainda nao fez planos para comemorar a data, mas tem três projetos de discos encaminhados: o primeiro traz seu ex-professor de violao, Paulinho Nogueira, num dueto instrumental com clássicos da MPB.

O segundo é uma coleçao com cinco discos, série que faz o balanço de sua carreira. Finalmente, o músico prepara seu novo disco só com obras inéditas, cujo título provisório é "Só Tenho Tempo para Ser Feliz".

Toquinho nao pensa numa regravaçao ao vivo de seu musical "Casa de Brinquedos" com o novo elenco de 11 atores, selecionados entre mais de 400 candidatos. "O disco lançado na época da estréia tem um qualidade musical excelente e dificilmente os arranjos seriam superiores aos de Rogério Duprat", justifica. Já o espetáculo, além de incorporar uma nova dramaturgia, tem cenários e figurinos desenhados especialmente para essa montagem, que viaja depois para Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Rio e Belo Horizonte, além de cumprir temporada na Argentina.

Visto por 35 mil crianças em sua última montagem, há quatro anos, "Casa de Brinquedos" nao foge do confronto cartesiano entre o bem e o mal. Toquinho acha que esse duelo faz parte da formaçao do imaginário infantil e nao é justo interferir nele. Como no filme "Guerra na Estrelas", a sombra (a escuridao, o desconhecido) representa a ausência de cultura, o medo, que se contrapoe à luz como signo da liberdade, da cultura e da alegria. "Até nos desenhos da Angélica existem super-heróis", argumenta o compositor, esclarecendo que o antagonismo entre luz e trevas nao é a luta do bem e do mal, um confronto moral, mas "uma luta pelo entendimento desses dois lados que existem no homem, o solar e o lunar".

Toquinho, que tem dois filhos, Pedro, de 14 anos, e Jade de 6, garante que os pequenos entendem perfeitamente a mensagem. Tanto que assumiu um desafio ainda maior: gravar um disco com cançoes baseadas na Declaraçao Universal dos Direitos da Criança, releitura do musical escrito por ele e Elifas Andreatto em 1987. "Vinícius dizia que era inútil escrever música para gente mais velha, pouco disposta a mudar, sugerindo que eu dedicasse mais tempo às crianças", conta o músico. "Mas é preciso ser muito humilde quando se escreve cançoes infantis", avisa. "As crianças sao muito exigentes".




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