A intensa busca de homens pelo prazer e por parceiros está perturbando os moradores da Vila Bastos, em Santo André. Entre os problemas estão a grande circulação de veículos na madrugada com o som alto, o uso indiscriminado de drogas nas vias e até o constrangimento de encontrar casais fazendo sexo perto de árvores e em frente ao próprio portão.

A equipe do Diário acompanhou a movimentação durante a madrugada e presenciou garotos de programa nas esquinas, e carros passando em baixa velocidade. A pouca circulação de pedestres e de viaturas da Polícia Militar, além do grande número de estabelecimentos fechados, são elementos favoráveis para abusos.

Esses episódios ocorrem nas ruas Laura, Dona Julia, Dona Carlota e Dona Maria do Carmo. Em quase todos os dias da semana. O pico da movimentação é registrado nas madrugadas de sexta-feira e sábado ou em dias de pagamento, próximos ao quinto dia útil do mês.

"A gente liga para a Polícia Militar e fala o que está acontecendo, mas ninguém faz nada", reclamou um morador da Rua Dona Julia.

"Outro dia uma mulher aqui do prédio, na volta do trabalho, encontrou um homem fazendo sexo com outro debaixo da árvore. Eles não têm respeito. Param o carro aí na porta, ficam de conversinha e com o som alto. No meu primeiro dia aqui pensei que eles queriam invadir o prédio, só depois é que fui entender", revelou um porteiro que trabalha na Rua Dona Carlota.

O medo e o silêncio são motivos para o cenário não mudar. Os proprietários sentem-se ameaçados em denunciar. A maioria dos rapazes que fazem programas são ex-presidiários e viciados em drogas.

No momento em que a equipe do Diário circulava pelo local, quatro homens foram vistos parados na Rua Dona Carlota. Todos saíram para lados diferentes. Noutra situação, o veículo da reportagem foi seguido lentamente por outro.

A tática usada para paquerar é conhecida pelos frequentadores do circuito: o automóvel estaciona e um homem entra no carro; em seguida, procuram ponto de pouca circulação para transar.

Os motoristas andam em velocidade baixa e mexem com os rapazes que estão na rua. Em algumas situações, são os moradores que recebem cantadas na volta do trabalho, da escola ou quando vão passear com o cachorro. Alguns tratam com indiferença; outros jogam pedras e mudam de caminho para não se aborrecerem.

A Polícia Militar não se manifestou sobre o caso.

Circuito é conhecido por gays da região

Os carros sobem lentamente a Dona Carlota. Depois, quase parando, entram à direita na Rua Dona Maria do Carmo; em menos de 100 metros, viram novamente à direta na Rua Laura e depois à direita para subir a Dona Julia. Esse é o quarteirão do encontro gay mais conhecido do Grande ABC. E essa cena se repete dezenas de vezes durante a madrugada em Santo André.

Os homens parecem zumbis, com o vidro da janela abaixado e o olhar atento. Muitos ficam rodando por horas até emparelhar com outro veículo e começar uma conversa qualquer. Ou estacionar o carro e negociar o programa com alguns dos garotos, que também se movimentam pelo circuito, mas a pé.

É comum ver veículos com adesivos de empresa, importados e populares. Os motoristas são de todas as idades. "O pior foi o dia em que uma ambulância ficou passando por aqui. O impressionante é que a gente até acaba decorando os carros", revelou o porteiro que trabalha há três anos em um prédio na Rua Dona Carlota.

Alguns moradores disseram que a presença de prostitutos intensificou-se após os mesmos rapazes deixarem de frequentar o Paço Municipal, outro local conhecido como ponto de encontro de gays.

"Não me considero homofóbico,mas não quero ser chamado para entrar no carro de alguém e ouvir sacanagens", disse um consultor de informática que chega após as 23h em sua residência.