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Após um ano, traumas do Caso Eloa ainda persistem
Tiago Dantas
Willian Novaes
13/10/2009 | 07:03
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O mais longo cárcere privado da história de São Paulo mudou a vida de mais de uma dezena de pessoas e virou um tabu para quem esteve, de alguma forma, ligado ao sequestro. Há exatamente um ano, o operador de máquinas Lindemberg Alves Fernandes, 23 anos, invadiu o apartamento da ex-namorada Eloa Cristina Pimentel, 15, em Santo André, e fez reféns a garota e os amigos dela - Nayara Rodrigues Vieira, Iago Vilera, e Victor Lopes.

O Diário procurou, durante a última semana, os personagens principais desta história trágica e cheia de reviravoltas. Familiares, amigos e vizinhos das vítimas e do acusado pelo crime deram seus depoimentos e demonstraram que têm dificuldade para tocar no assunto.

A morte de Eloa e a prisão de Lindemberg são as consequências mais visíveis do sequestro que durou mais de 100 horas e foi acompanhado pelo Brasil inteiro. Mas não são as únicas.

EX-NAMORADO
Ana Cristina Pimentel, 43 anos, vive à base de remédios. Ela perdeu a filha Eloa, a casa - pois não teria condições psicológicas de viver no cenário da tragédia - e o marido Everaldo, foragido da Justiça de Alagoas desde 1991.

Outra vítima do crime, Nayara trocou de escola e de círculo de amizades. Enquanto tenta levar uma rotina normal de adolescente, convive com lembranças dos últimos momentos que passou ao lado da melhor amiga. "Não tem como esquecer", diz.

Namorado de Eloa, Paulo Henrique Monteiro da Silva, 16, não teve nem a chance de se despedir da garota por quem era apaixonado. "Mesmo não estando lá, minha vida mudou", diz o jovem que, assim como seus colegas, evita falar sobre o ocorrido entre 13 e 17 de outubro, dia em que o sequestro teve o fim trágico. Às 18h08, a polícia invadiu o apartamento. Antes de ser preso, Lindemberg atirou em Eloa - na cabeça e na virilha - e em Nayara - no rosto e na mão.

MENSAGENS PICHADAS
No local que foi palco para o cárcere, vive uma nova família, que afirma desconhecer o rosto de Eloa. Nas paredes do conjunto 24, estão pichadas palavras em memória da garota: "Quem ama não mata" e "Eloa, Deus está com você."

Assunto é proibido entre os jovens da escola

O clima na EE José Carlos Antunes, na Vila Luzita, em Santo André, é de autocensura sobre o seqüestro que envolveu Eloa, Nayara, Victor e Iago, alunos do 1º ano do Ensino Médio, na época do crime. Os próprios estudantes decretaram o toque de silêncio sobre o fato.

"É melhor não falar. Todo mundo sabe, mas não fala", diz Poliana Oliveira, 17 anos, que estudava na mesma classe que Eloa. Bastou a reportagem do Diário pronunciar o nome da adolescente morta para uma turma de cinco rapazes, que conversavam alegremente, abaixar a cabeça. "Deixa quieto esse assunto. O que passou, passou", disse um garoto.




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